A leitura é um hábito essencial na vida de qualquer criança. Ao ler, a criança aprende palavras novas, estreita relações sociais e desenvolve o pensamento crítico. Com o desenvolvimento da tecnologia nas últimas décadas, no entanto, muitas mães alegam sofrer certa dificuldade na hora de introduzir o hábito na vida dos filhos.
Entre no canal do iG Delas no Telegram e fique por dentro de todas as notícias sobre beleza, moda, comportamento, sexo e muito mais!
“Eu sempre sofri com a falta de tempo de qualidade com minhas crianças, que são gêmeas”, explica a mãe e advogada Marina*, que optou pelo anonimato. “Como eu trabalho muito, sempre tive que aproveitar o tempo pequeno que tinha com eles. E, por isso, nunca consegui inserir a leitura de verdade na vida de minhas filhas.”
A chegada do celular e das redes sociais na vida das gêmeas agravou o problema para Marina*. “Não tinha como. Elas sempre queriam ficar no celular, assistindo YouTube ou vendo fotos de conhecidos no Instagram. Eu, sem tempo, deixava elas lá. E foi assim que elas sofreram dificuldade no letramento e ficaram bem atrasadas nesse sentido.”
A dificuldade de Marina* de inserir a leitura no dia a dia das filhas não é um problema raro. A verdadeira dúvida, para a maioria dos pais e responsáveis, é o porquê da leitura ser tão importante e como incentivar os pequenos a começarem a ler.
A leitura
“A literatura infantil alimenta e estimula a inteligência da criança”, explica Sueli Conte, psicopedagoga e mestre em educação e em neurociência. “As crianças que começam a ter contato com a leitura muito cedo se tornarão leitores mais apaixonados, porque se acostumam a tratar o mundo das ideias como algo real e não apenas abstrato, fazendo a conexão entre a aprendizagem formal e as histórias que estimulam a criatividade”.
Sueli explica que crianças leitoras conseguem desenvolver a noção de solução de problemas com proeza, partindo dos problemas simples para os mais complexos. “O mundo de fantasia despertado pela leitura também é importante para ajudar a estabelecer parâmetros entre o possível e o impossível. A criança começa a perceber o que existe no seu mundo e passa a usar a imaginação para alcançar seus desejos reais”, detalha.
Além disso, a leitura também desenvolve diversos comportamentos benéficos para a criança, como reflexão, foco, atenção, autoestima e socialização. Saber ler (e interpretar um texto) é uma habilidade fundamental que pode influenciar o sucesso acadêmico, o desenvolvimento cognitivo e o bem-estar emocional de uma criança.
Neurologicamente, a leitura forma conexões cerebrais muito mais aceleradas do que em outras atividades diárias, como atesta Claudia Petry, pedagoga e professora no Instituto de Parapsicologia e Ciências Mentais de Joinville (SC). A profissional explica que o livro cria um circuito de pensamento na criança e contribui para o desenvolvimento da memória e também da imaginação.
A leitura pode até ser uma forma de terapia para as crianças: através dos livros, elas podem escapar da realidade e entrar em mundos imaginários, o que pode ajudar a aliviar o estresse e a ansiedade.
A grande quantidade de temáticas nas histórias também cria um senso de empatia e diversidade no cérebro da criança. “É uma experiência com uma realidade diferente da dela. Muitas leituras ajudam a criança a perceber e a lidar com sentimentos e emoções diferentes”, diz Claudia.
Mas, como incentivar?
Séries, desenhos, brinquedos, videogames: com tantos atrativos disponíveis, muitos pais sentem dificuldade em fazer de um livro um passatempo convidativo. “O que elas mais criticavam era que eu não fazia a leitura parecer interessante”, retoma Marina*.
Existem algumas formas, contudo, de transformar a leitura em um momento prazeroso e chamativo para os pequenos.
De acordo com a psicóloga e fundadora da Clínica Ame.C, Monica Machado, se um pai deseja que o filho comece a ler, ele precisa ser o primeiro a começar. “A criança precisa de exemplos ao seu redor. Se os adultos com os quais elas convivem têm o hábito de ler e trocam experiências de leitura, a criança passa a se interessar.”
Esse processo pode ser desenvolvido antes mesmo da criança aprender a falar. “A leitura é muito prazerosa para adultos e crianças, mas é necessário haver um incentivo ao hábito logo nos primeiros meses de vida. Os pais devem ler para os filhos e introduzir ainda enquanto bebês o hábito da leitura”, aponta Sueli Conte.
Esse estímulo não vem apenas da simples compra de livros. As pedagogas recomendam atividades diversas, como levar a criança em bibliotecas e livrarias, visitar museus e exposições e também contar histórias constantemente: assim, elas conhecem um pouco mais de todos os processos que levam ao conhecimento e desenvolvem o interesse pela informação.
O livro a ser lido, na maioria das vezes, não importa, mas existem características que chamam mais a atenção dos pequenos: é necessário escolher o mesmo de acordo com a faixa etária.
Obras com desenhos, imagens e cores são mais atrativos para os mais jovens. “Aos poucos, ao dominar por completo a leitura, ela poderá se interessar apenas pelas histórias, porém, será necessário iniciar com livros com ilustrações, porque a criança começa a despertar o interesse através da visão e da audição”, completa Conte.
Criar um espaço de leitura dentro de casa também ajuda a desenvolver esse hábito. Ter um ambiente confortável e iluminado pode fazer com que a criança se sinta ainda mais propensa a revisitar as obras, transformando uma simples leitura em um momento de muita diversão.
A internet também não precisa ser a inimiga, e sim, uma aliada do processo de leitura. O mundo digital nem sempre é nocivo - nas redes, existem livros interativos e vídeos de aprendizado que podem sim ajudar a estimular as crianças. “Fazer a interação entre ambos é o grande desafio”, afirma a psicóloga.
“A internet não precisa ser a única ferramenta da casa - e nem ser abandonada - apenas deve haver uma séria seleção do que a criança escuta, vê e assimila, estabelecendo, assim, o tempo para que a criança tenha contato com o mundo digital. Deve haver clareza por parte dos adultos e, obviamente, gerenciamento adequado de tempo, além de organização dos espaços e controle de tudo que a criança tem acesso na internet”, finaliza.