Intervenção cirúrgica deve ser realizada apenas com recomendação profissional, alertam especialistas
João Paulo de Souza Oliveira/Pexels
Intervenção cirúrgica deve ser realizada apenas com recomendação profissional, alertam especialistas


O número de cesáreas voltou a crescer no Brasil, de acordo com uma análise do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Ministério da Saúde feita pelo jornal Estadão. A cirurgia foi o procedimento escolhido para 57,6% dos partos no país em 2022.

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Por mais que a cesariana seja uma cirurgia necessária para certas gestantes, seu uso excessivo é considerado um problema de saúde pública no Brasil, que é “mundialmente conhecido por uma cultura cesarista”, aponta Marina Neves, ginecologista pós-graduada em Reprodução Humana pela e associada da AMCR (Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil). 

Os valores aumentam ainda mais quando se considera a saúde privada: uma pesquisa da revista acadêmica Social Science & Medicine revelou que 80% a 90% dos partos nesses locais são realizados por intervenção cirúrgica. No ranking mundial, o Brasil só fica atrás da República Dominicana, que realiza 58,1% dos partos por cesárea.

Mas por que ela é tão procurada? Na questão da saúde, essa cirurgia é recomendada para todos os casos que o parto normal seja um risco. Ela pode ser realizada por questões da saúde materna e fetal, onde se encontram problemas como placenta prévia, cicatriz uterina prévia, herpes genital, malformações, tumores, anomalias fetais, entre outros.

O protocolo de obstetricía da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) também revela que a presença da cirurgia cesariana “também resultou em uma redução importante da morbidade perinatal”.

O problema, para os profissionais da saúde, é que nem sempre esse procedimento é o recomendado para o parto - a falta de informação e de verbas na área da saúde promove a falsa ideia de que a cesariana é 100% segura e indicada em qualquer situação.

Quando realizada sem indicação, a OMS alerta que ela pode aumentar o risco de mortalidade materna e neonatal. A cesariana também está correlacionada a problemas como uma maior estadia no hospital, ferida operatória, infecção urinária, anemia e hemorragia, maior risco de alterações respiratórias neonatais, além de complicações em gestações futuras, como acretismo placentário, rotura uterina, placenta prévia, histerectomia puerperal e aderências.

“A taxa ideal de cesáreas, feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 15% de taxa de cesárea, mas isso num plano ideal, né? Onde toda a população tem direito a uma assistência de parto adequada”, explica Débora Oriá, médica da equipe de Uroginecologia do Departamento de Ginecologia do Hospital das Clínicas e ginecologista do corpo clínico do Hospital Sírio Libanês.

O parto normal, também conhecido como parto vaginal, é o desfecho natural da gestação, e, como o corpo feminino está preparado para esse momento, ele quase não precisa de intervenções médicas em situações de baixo risco. 

Para que o bebê nasça com saúde em um parto normal, é essencial que a gestante tenha assistência durante toda a sua gravidez. Durante o pré-natal, as equipes de saúde conseguem discutir sobre a saúde da mãe e do bebê e sobre a possível necessidade de uma cesariana.

Sem um devido acompanhamento e com poucas consultas, muitas mulheres acabam precisando da intervenção cirúrgica. “Muitas localidades no Brasil tem uma estrutura inadequada ao parto normal”, afirma Marina. “Um pré-natal bem feito é essencial para uma gestação saudável. Gestações complicadas resultam em mais cesarianas e maior morbimortalidade de mães e bebês.”

A cesárea também pode ser solicitada pelas pacientes por outras razões além da indicação médica. “Os motivos que levam a tal solicitação são a conveniência do nascimento programado, medo da dor ou das complicações do parto vaginal, experiências negativas pessoais ou de conhecidos com o parto e a sensação de maior controle sobre a situação”, cita Débora.

Para Oriá, o pré-natal é a oportunidade de os profissionais da saúde desmistificarem esses pensamentos. A saúde das gestantes depende desse acompanhamento e do apoio dos profissionais: “os hospitais precisam de infraestrutura, equipe multidisciplinar qualificada, para atender um parto normal adequado e seguro.”

“Os benefícios do parto normal são reais”, afirma a médica. “Não tem cicatriz uterina, não tem uma cicatriz abdominal, tem um menor risco de infecção, um menor de sangramento. Isso é indiscutível.” O parto vaginal também acelera a maturidade pulmonar do bebê, diminui o tempo de internação e favorece a amamentação e o vínculo entre mãe e filho. 

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