Nathane Telles e Thamires Stephanie donas do perfil @Duas mães do Rhael
Reprodução/ Duas mães do Rhael
Nathane Telles e Thamires Stephanie donas do perfil @Duas mães do Rhael

Embora o mês do orgulho já tenha acabado, essa não é a única época do ano em que pessoas LGBTQIA + devem receber visibilidade. Especialmente em um momento político em que tanto se debate os valores familiares, algumas famílias são deixadas à margem da sociedade, precisando constantemente tentar validar a sua existência, como as famílias formadas por duas mães. A dupla maternidade é geralmente ignorada nas questões sobre a maternidade. 

Paula Dalalio Frison e Camila Krauss, mães de um menino, compartilham no Instagram a vivência da dupla maternidade, com conteúdos de resistência à homofobia. Paula conta que, desde o início do relacionamento, as duas já possuíam o desejo de ter um filho juntas e, com um tempo, começaram a procurar meios em que se sentissem confortáveis. 

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“A Camila tinha mais certeza do que eu no início, sobre o desejo de ser mãe, mas essa vontade dela foi aflorando em mim também. Isso fez com que a gente começasse a falar muito cedo sobre sermos mães e entender qual caminho a gente poderia seguir para realizar esse sonho”, fala Paula.

Nathane Telles e Thamires Stephanie também tiveram um caminho muito parecido com o de Paula e Camila. Donas do perfil “Duas mães do Rhael”, Nathane relata que teve sempre o sonho de ser mãe e engravidar, enquanto Thamires, embora também desejasse ser mãe, não tinha a vontade de  passar pela gestação. 

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“Antes de tudo sempre sonhei em ser mãe, sempre quis engravidar e casar. Esse sempre foi meu sonho e a Tamires  também desejava ser mãe. Entretanto, ela nunca quis gerar, mas ser mãe de uma outra forma. Nós namoramos e moramos juntas por um bom tempo, até que sentimos ser a hora de termos um filho. Isso foi durante a pandemia, especialmente porque eu pude me concentrar e me preparar para gerar o meu filho”, relembra Nathane. 

Processo da reprodução assistida  

Entre os diferentes caminhos que pessoas LGBTQIA + podem passar para ter filhos, o da reprodução assistida e o da adoção são os mais comuns. No entanto, esses dois métodos costumam ser processos demorados e vistos, muitas vezes, com preconceito pela sociedade. 

Paula recorda-se que durante o processo de reprodução assistida, ela e a esposa precisaram se apoiar muito uma na outra, devido às incertezas e a demora da técnica. Ela admite que essa é uma ocasião difícil em que os casais precisam estar em sintonia. 

“A gente se ajudou e se acolheu muito durante esse processo, que é longo e incerto, causador de muitos sentimentos desfiadores. Por isso, se você não estiver muito bem alinhado com a pessoa com quem você está vivendo esse momento, ele pode gerar muitos conflitos no relacionamento”, conta. 

Para Nathane e Thamire esse também foi um processo, acima de tudo, de ansiedade. Elas precisaram tentar mais de uma vez a reprodução assistida para conseguirem engravidar. 

“É bem tenso e ao mesmo tempo gostoso. Nós ficamos com uma ansiedade muito grande, principalmente na primeira tentativa, o que acabou atrapalhando e não dando certo. Porém, depois eu fiquei mais tranquila e conseguimos o nosso tão sonhado positivo. É uma mistura muito grande de sentimentos, chega a ser difícil de descrever, nós sempre tivemos esperança de que ia dar certo”, diz Telles.

Além da ansiedade e das incertezas, elas também levantam a problemática racial, devido ao tratamento diferente que receberam por serem mulheres negras. Nathane conta que já ter ouvido insinuações negativas sobre a concepção de seu filho por pessoas que dizem que elas não teriam procurado uma clínica de reprodução assistida. 

“Nós, como mães pretas e homossexuais, temos outro desafio. Porque as pessoas questionam,  ‘Ué? Como vocês fizeram isso?’. Quando se trata de duas mulheres lésbicas brancas as pessoas já pressupõem que foi inseminação. Enquanto nós, que somos pretas, as pessoas sempre pensam que fizemos algum tipo de orgia, levando para um outro lado, nunca pelo óbvio”, desabafa.  

Solidão na maternidade 

Paula Dalalio Frison e Camila Krauss donas do perfil @DuasmaesdoBenjamin
Reprodução/DuasmaesdoBenjamin
Paula Dalalio Frison e Camila Krauss donas do perfil @DuasmaesdoBenjamin

Muitas vezes romantizado, o puerpério, momento pós nascimento do bebê, é uma ocasião muito delicada para muitos casais, que se sentem perdidos e solitários, principalmente as mulheres, que na maioria dos casos carregam sozinhas o dever da maternidade e dos cuidados com os filhos. 

Paula pontua como a união e parceria com a sua esposa foram importantes para passarem por esses momentos juntas, e que não enxerga a maternidade dupla como mais solitária do que a heterossexual. Porque, embora algumas mulheres lésbicas não terem o apoio das próprias famílias, muitas vezes as mulheres héteros têm que lidar com toda criação e cuidado com os filhos sozinhas, sem uma participação ativa de seus companheiros. 

“A solidão materna é pouco falada  e ela é muito real, a gente acaba ficando muito sozinha mesmo, muito desamparada de uma forma que eu nem consigo entender o porquê de a gente chegar nesse local de solidão. Acredito que devido a esses sentimentos serem tão particulares dessa entrega, nós acabamos nos fechando um pouco em uma bolha. Em relação à maternidade lésbica, pode ser que tenha sim uma solidão um pouco mais profunda, por algumas famílias não aceitarem suas filhas. Entretanto, muitas mulheres héteros também acabam sozinhas e abandonadas por seus parceiros, não acho a maternidade dupla mais solitária”, defende Frison. 

Lidando com o preconceito 

Ter que lidar com situações homofobia e de preconceito acaba se tornando desgastante. Apesar disso, Nathane diz que vive exigindo respeito e a lealdade de sua família. 

“Nossa família existe sim, somos duas mães lésbicas e o nosso filho vai ser o completo contrário do que a sociedade imagina. E a gente também não dá muita abertura pras pessoas fazerem certos tipos de perguntas inconvenientes”, afirma Nathane. 

Paula também afirma que se impõe em situações de preconceito, não dando brechas para comportamentos homofóbicos. E que não vê problemas em responder perguntas quando percebe que é apenas curiosidade, por entender que a sua construção familiar é algo novo para muitas pessoas. 

“Eu e a Camila sempre temos esse cuidado de entender de que lugar vem essa pergunta, se é  algo  com um teor mais homofóbico ou se é só curiosidade, de querer entender, porque tem muita gente nunca viu a nossa família. Também é o nosso papel se colocar a disposição como a gente de transformação, a nossa  existência é transformadora”, conclui Paula. 

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