O que Nicole Kidman, Quentin Tarantino e Jô Soares têm em comum além de serem personalidades conhecidas? Os três são considerados superdotados. No dia 10 de agosto é comemorado o Dia Internacional da Superdotação, característica genética, mas que pode ser influenciada pelo ambiente.
Segundo o Censo Escolar 2020, o Brasil é casa de 24.424 de estudantes com superdotação e a Organização Mundial da Saúde também mostra que existem 600 milhões de pessoas no mundo com alguma alta habilidade, o que representa cerca de 8% da população.
A superdotação não se resume às ciências exatas e é mais fácil de se identificar ainda na infância. O iG Delas convida Damião Silva, psicólogo clínico, escolar e especialista no assunto, para tirar dúvidas sobre a condição. Para começar, ele explica que uma pessoa superdotada, em geral, tem algumas características comuns entre elas.
"As altas habilidades são utilizadas para identificar quem está dentro desse perfil. Boa memória, concentração e atenção nos seus interesses, uma gama de interesses muito diferenciados e incomuns para a faixa etária, criatividade e imaginação, vocabulário avançado, riqueza verbal e interesse por diversas fontes de conhecimento são alguns exemplos”, afirma o especialista.
Silva conta que, no Brasil, a superdotação é definida como pessoas com habilidades acima da média. "Somos o único país que identifica o superdotado por meio de uma teoria e, dessa forma, fica difícil dessa pessoa ser identificada", diz.
Segundo ele, essa forma é complexa e quando se trata de características específicas, como pensamento criativo, capacidade de liderança e talento para as artes, às vezes o ambiente não oferece o necessário para que a condição seja devidamente explorada.
Como reconhecer essas características?
O especialista explica que, para ter certeza da condição, é necessário fazer uma avaliação neuropsicológica para entender como as estruturas cognitivas, responsáveis pelo funcionamento intelectual, estão funcionando.
“Dessa forma, avalia-se criatividade, a personalidade, os traços emocionais e, por fim, uma avaliação pedagógica para que seja possível entender todo o contexto. Inclusive, é importante deixar claro que a superdotação não é apenas uma condição educacional, é uma condição de atipicidade que acompanha o sujeito e vida inteira.”
De modo geral, as crianças gostam de brincar, aproveitar com os amigos e assistir desenho, mas Silva explica que devido às características da condição serem peculiares, às vezes uma criança vai ter interesses muito distintos de seu grupo de amigos.
Isso pode, sim, trazer algumas dificuldades para o convívio com outras crianças, mas elas não ficam solitárias. "Essas pessoas são altamente sensíveis e intensos e acabam buscando seus pares naturalmente, não necessariamente de faixa etária, mas pares intelectuais”, ressalta.
O psicólogo conta que o apoio da escola é muito importante. “Muitas vezes eles se distanciam, não por inabilidade social, mas porque, de fato, não tem tom da conversa”, diz. Dessa maneira, as pessoas com altas habilidades têm um ciclo de amigos mais restrito, justamente pelos interesses distintos.
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O que os pais fazem após a descoberta?
É nesse momento que muitos responsáveis podem se perder e ficam sem saber como proceder com a informação. O psicólogo conta que o primeiro ponto a ser considerado é oferecer um atendimento educacional adequado, mais individualizado e especial para o tipo de superdotação da criança.
“No Brasil, nosso maior problema é que a superdotação mais conhecida é a intelectual acadêmica, o que as pessoas ainda enxergam como aquele mito do superdotado que sabe tudo, superinteligente. São pessoas com um aprendizado diferente, um tipo de pensamento divergente, por isso possuem necessidades educacionais específicas. Nesse contexto, as escolas possuem dificuldade de atender esse aluno por supor que ele não precisa de ajuda”, afirma.
A recomendação é um currículo escolar sofisticado, enriquecido e, às vezes, também é necessário acelerar o aprendizado da criança. “Falar de superdotação no Brasil hoje é falar de inclusão escolar, currículo individualizado, suporte à família, suporte emocional e também rever o currículo de formação dos profissionais da educação e saúde, para conseguir identificar essa parcela da população, que muitas vezes são identificadas de maneira errada”, completa Silva.