Fertilização in vitro e reprodução assistida: como funciona e o que muda na lei
Nova legislação altera idade dos doadores, limita a quantidade máxima de embriões congelados e não permite a escolha do gênero do embrião
A fertilização in vitro e outros procedimentos de reprodução assistida voltam a ser assunto com a gravidez de gêmeas da atriz Nanda Costa e a percursionista Lan Lahn . As duas já tinham partilhado com o público sobre o desejo de engravidar e a busca por tratamentos de fertilidade , e no último domingo (27) contaram ao público o sucesso do procedimento.
A fertilização in vitro (FIV) é apenas um dos procedimentos de reprodução assistida , que também conta com a inseminação artificial e o coito programado. Os três são considerados tratamentos de fertilidade , pois inicialmente eram procurados por casais heterossexuais que não conseguiam engravidar. Com o tempo, os procedimentos ganharam espaço com as pessoas da comunidade LGBTQIAP+ , assim como as pessoas que não possuem parceiro e pretendem ter filhos.
Como funciona cada método?
Coito programado
Como estamos falando de tratamentos de fertilidade, este é o mais simples e a primeira recomendação antes de decretar que um casal heterossexual é infértil. Ele consiste em observar os ciclos naturais da mulher, monitorando a ovulação por meio de ultrassom e dosagem dos níveis de hormônios no sangue e na urina.
O casal é orientado a fazer sexo sempre que puder quando a mulher está no período ovulatório. Em alguns casos, os ovários podem ser estimulados com medicamentos que aumentam a precisão do dia fértil. Geralmente este processo dura cerca de um ano. Caso não resulte em uma gestação, então são tentados outros métodos.
Inseminação artificial
Depois do coito programado, esta é a técnica mais simples de reprodução assistida. Ela consiste, basicamente, na inserção dos espermatozoides na vagina, no canal cervical ou no útero - encurtando o percurso que o espermatozoide vai percorrer para fecundar o óvulo. Para isso, o sêmen é processado previamente em laboratório e a introdução é feita por um médico.
A inseminação é recomendada para mulheres com as tubas uterinas (ambém chamadas de trompas de Falópio) saudáveis. O tratamento deve começar junto com o ciclo menstrual, pois é quando o organismo da mulher vai receber os medicamentos indutores de ovulação. Eles que promovem o desenvolvimento do folículo (estrutura ovariana que contém o óvulo).
Geralmente é feito o controle com exames de ultrassom para avaliar o sucesso do procedimento. Quando o folículo alcança o tramanho ideal, começa uma segunda rodada de medicamentos, desta vez para induzir a maturação e liberação do óvulo pelo ovário - este procedimento leva cerca de 36h a 48h.
Quando a mulher entra no primeiro dia de ovulação, caso ela tenha um parceiro ou doador, o sêmen é coletado e processado em laboratório para escolher os melhores espermatozoides. Se o sêmen vier de um banco de doação, ele já terá passado por esssa técnica. Por fim é feita a introdução na cavidade uterina com um cateter.
Fertilização in vitro (FIV)
Aqui todo o procedimento de fecundação do óvulo pelo espermatozoide é feito em laboratório e só então os embriões são transferidos para o útero da mulher. Para isso, são coletados os óvulos previamente assim como o esperma.
Existem dois tipos de fertilização:
Fertilização in vitro convencional : Uma seleção de oócitos (células que dão origem ao óvulo) e espermatozoides é colocada em um recipiente (plaqueta) e incubados juntos. Dentro de 18 horas, um espermatozoide deve penetrar e fertilizar o oócito espontaneamente.
Fertilização in vitro com ICSI : A maioria dos casos é através da injeção de um espermatozoide em um oócito com a ajuda de microagulhas e sistema de amplificação de imagens.
Mudanças na lei
A partir 15 de junho, entrou em vigor a nova Resolução do Conselho Federal de Medicina a respeito das técnicas de reprodução assistida. A nova resolução traz mudanças na doação de gametas, na idade dos doadores, no número de embriões a serem transferidos e na quantidade máxima de embriões congelados - que antes não tinha limitação e agora tem.
“Nem tudo foi para melhor. Na verdade, essa limitação do número de embriões pode limitar bastante as chances de gravidez, já que menos óvulos serão fertilizados, resultando em menos embriões. E o grande avanço foi a possibilidade de doação entre familiares, parentes de até quarto grau não consanguíneos”, explica o Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana.
Idade limite e número de embriões
Agora mulheres só podem doar óvulos até 37 anos. Homens podem ser doadores de esperma até 45 anos. Antes, a idade limite para a doação de gametas era de 35 anos para a mulher e de 50 anos para o homem.
Outra mudança é com relação ao número de embriões a serem transferidos de acordo com a idade. A nova resolução prevê que em mulheres com até 37 anos pode ser feita a transferência de até dois embriões e, no caso de mulheres com mais de 37 anos, até três embriões. A resolução anterior permitia transferir até dois embriões em mulheres até 35 anos; até três embriões em mulheres entre 36 e 39 anos; e até quatro embriões em mulheres com 40 anos ou mais.
“A taxa de sucesso da Fertilização in Vitro irá depender em grande parte do fator de infertilidade apresentado pelo casal e da idade da mulher. Quanto mais nova, mais chances de obter sucesso no procedimento, sendo que mulheres até 30 anos têm até 70% de chances de engravidar em uma única tentativa de FIV”, diz o médico.
Congelamento de embriões
Quanto à criopreservação, ou o congelamento de embriões, o número total de embriões gerados em laboratório não poderá exceder a oito. “Antes não havia essa limitação”, explica o Rosa.
“Essa técnica de congelamento pode ser feita em óvulos, tecido ovariano, espermatozoides e embriões. Na temperatura de -196ºC, esses organismos mantêm seu metabolismo completamente inativado, mas preservando um desenvolvimento potencial e viabilidade. Muitos casais precisam preservar os gametas por se depararem com a impossibilidade imediata de maternidade ou paternidade, seja por escolha ou por circunstâncias adversas, como o tratamento de câncer ou de outras doenças, que podem afetar a fertilidade futura”, diz o médico.
Não é possível escolher o gênero do embrião
Outra mudança é que agora o laudo da análise cromossômica não virá com o gênero do embrião. “Vai ser só em casos de doenças relacionadas ao sexo e antigamente não, já aparecia se o embrião era cromossomicamente normal ou não e acabavam sabendo o sexo daquele embrião. Mas agora isso não vai vir mais nos laudos da análise genética”, explica.