Mulher com endometriose relata batalha para engravidar por fertilização in vitro

Hoje, aos 36 anos, Fabiana Cayres relembra todos os momentos que passou para conseguir engravidar, mas, antes dos filhos, ela passou por dois abortos

Durante uma consulta médica, a especialista em tecnologia da informação Fabiana Cayres, diagnosticada com endometriose , ouviu do especialista que lhe atendia que iria precisar passar por uma cirurgia de grande porte e não conseguiria engravidar naturalmente. Além disso, ela corria o risco de perder os dois ovários, o que a fez ir às lágrimas. Para contornar a situação e realizar o sonho de ser mãe, optou pela fertilização in vitro.

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Foto: Reprodução/Instagram/faby_mamaedegemeos
Antes de engravidar, Fabiana passou quatro vezes pela fertilização in vitro, uma inseminação artificial e dois abortos

A primeira tentativa de fertilização in vitro aconteceu em janeiro de 2013, mas, por conta da doença em nível avançado, não teve sucesso. Depois do procedimento, Fabiana teve complicações e passou a sentir muita dor. Seu abdômen ficou inchado e precisou se afastar por alguns dias do trabalho. Quando se recuperou, chegou a hora de fazer a cirurgia da endometriose.

Passar pelo procedimento cirúrgico feito em videolaparoscopia também não foi nada fácil. Os médicos precisaram retirar um pedaço da bexiga e do intestino, além do apêndice. A condição alcançou os dois ovários, mas, felizmente, não foi necessário retirá-los. Para se recuperar, Fabiana ficou uma semana internada e precisou utilizar uma sonda vesical por 15 dias.

O valor dos procedimentos

Após um mês, já era possível tentar engravidar novamente. Nessa época, em junho de 2013, ela e o marido entraram com uma ação na Justiça para que o plano de saúde cobrisse os valores dos procedimentos de FIV , por conta da endometriose. “Cada fertilização custa cerca de R$ 25 mil”, revela Fabiana.

A liminar foi negada, mas eles recorreram. Enquanto aguardava o julgamento em segunda instância, Fabiana tentou uma inseminação artificial, que possuia um custo bem menor. Entretanto, o procedimento não deu certo e ela não engravidou.

Em novembro do mesmo ano, o processo judicial foi autorizado. Com o documento em mãos, ela revela que deu um grito de felicidade. “Com os olhos cheios de lágrimas, abracei o meu marido e assim ficamos. Minhas pernas tremiam. Depois de tanta derrota, a nossa primeira vitória havia chego”, descreve.

As próximas tentativas

Passado um mês, aconteceu a segunda tentativa de fertilização in vitro. Dessa vez, Fabiana conseguiu cinco óvulos, eles fertilizaram e, após três dias, dois embriões foram transferidos para o útero. “Aguardei os 12  dias para fazer o beta HCG e deu positivo. Eu engravidei. Eram gêmeos”, relata.

A felicidade, entretanto, durou pouco. Com seis semanas de gestação, ela descobriu que um embrião havia grudado no útero e o outro na trompa. E, pouco tempos depois, ocorreu o aborto de forma natural.

Na terceira tentativa, em abril de 2014, a história se repetiu. A gravidez, dessa vez de um filho só, aconteceu, mas, no mês seguinte, no Dia das Mães, Fabiana passou pelo segundo aborto, com fortes dores e sensação de desmaio.

A chegada dos gêmeos

Foto: Reprodução/Instagram/faby_mamaedegemeos
Na quarta tentativa de fertilização in vitro, Fabiana engravidou dos gêmeos Mariana e Gabriel


Em julho do mesmo ano, chegou a vez de passar pela quarta tentativa de fertilização in vitro. Os médicos disseram para não realizar o teste de farmácia, porém, seis dias após o procedimento, Fabiana não se aguentava de ansiedade. “Estava com o meu marido em um shopping. Peguei na mão dele, entramos em uma farmácia e, sem falar nada, comprei o teste e fui para o banheiro”, explica.

Poucos segundos depois, veio o resultado: positivo. “Saí chorando e, ao abraçar o marido, disse: são gêmeos. Tenho certeza”, conta. A partir desse momento, realizou os ultrassons e pôde, finalmente, ouvir o coração de seus filhos. “Me sentir grávida, acompanhar as mudanças no meu corpo, sentir os bebês mexendo, ver o meu corpo gerando duas vidas foi, sem dúvida, a experiência mais espetacular da minha vida”, completa.

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A gravidez ocorreu como o esperado. O único ponto fora da curva foi um início de diabetes gestacional, mas que logo foi controlada apenas com mudanças na alimentação. Com 12 semanas de gestação, passou a trabalhar home office, podendo, assim, evitar grandes esforços.

O grande momento

Durante o parto, Fabiana passou por um susto. Depois que um dos bebês nasceu, ela começou a sentir uma dor de cabeça incontrolável, provavelmente uma reação da anestesia. O problema é que ela não podia ser medicada antes do nascimento do outro filho. “As lágrimas, que antes eram de alegria, passaram a ser de dor. Uma dor absurda”, recorda.

Em seguida, quando os gêmeos já estavam fora de seu corpo, foi imediatamente sedada. “Eu dormi. Entrei em um sono profundo. Assim que a minha cesária acabou, me levaram para um quarto ao lado, e lá estavam os meus bebês”, relata. Marina nasceu com 3,1 kg e Gabriel com 3,2 kg, saudáveis, em 22 de março de 2015.

Hoje, aos três anos, os gêmeos demonstram simpatia e alegria. Em seu perfil do Instagram - que conta com 129 mil seguidores -, Fabiana posta diversas imagens dos filhos e divide os detalhes de sua rotina e história.

Como funciona o processo de fertilização in vitro

O especialista em reprodução humana Matheus Roque explica que, antes de passar pela fertilização in vitro, é necessário que a mulher passe por uma avaliação com especialista para avaliar o melhor momento para o procedimento ser realizado, realizar exame e sanar todas as dúvidas que tiver.

A gravidez por FIV é realizada a partir de uma estimulação ovariana com medicamentos, após uma análise de cada caso, com o objetivo de levar ao amadurecimento de diversos óvulos durante o tratamento. “Após o estímulo, normalmente realizado com medicamentos injetáveis, os óvulos são coletados do ovário da paciente através de uma punção guiada por ultrassom transvaginal e fertilizados por espermatozoides em ambiente laboratorial”, explica o especialista. São três etapas:

1 - Estímulo ovariano

O primeiro passo ocorre em um período médio de 9 a 10 dias. Nesta etapa, a paciente usará medicamentos - hormônios - aplicados diariamente, para que possa ocorrer o amadurecimento dos diversos óvulos.

Neste período, é realizado um acompanhamento frequente através de ultrassonografias transvaginais para que possa ser avaliado o desenvolvimento dos folículos (espera-se que, dentro de cada folículo, exista um óvulo).

“Quando os folículos atingem um tamanho adequado, considera-se que eles obtiveram o desenvolvimento necessário para que seja realizado o amadurecimento final dos óvulos, através do uso de uma última medicação”, esclarece Roque.

2 - Punção ovariana

Após aproximadamente 36 horas do uso da última medicação, é realizada a punção ovariana para que possam ser aspirados os folículos ovarianos e, consequentemente, os óvulos que estejam dentro de cada um dos folículos que se desenvolveram durante o estímulo.

A punção é um procedimento rápido e tranquilo, realizado sob sedação, ou seja, a paciente não sentirá nenhum desconforto durante o procedimento, e é guiado por ultrassonografia transvaginal. Desta maneira, não é necessário que nenhum corte seja realizado, sendo que a aspiração dos óvulos ocorre através do fundo vaginal. 

3 - Laboratório de Reprodução Assistida

Assim que cada folículo ovariano é aspirado, o líquido folicular vai diretamente ao laboratório para que os embriologistas avaliem a presença de óvulos. Ao final do procedimento, os óvulos aspirados ficam armazenados por um determinado período em incubadora, em um meio de cultivo adequado, para que, normalmente uma hora após a punção, sejam reavaliados quanto a sua maturidade.

Depois de algum tempo, quando os embriões de boa qualidade se formam, já é possível realizar a transferência embrionária, que é o passo final da fertilização in vitro. Após 12 dias da implantação, a mulher deve realizar o exame de gravidez beta HCG para, assim, saber se todo o tratamento deu certo.

Em alguns casos, é possível, ainda, congelar os óvulos e fazer a FIV posteriormente. “É Importante frisar que não são todos os óvulos aspirados que estão maduros e aptos ao congelamento. Após esta avaliação, os óvulos maduros serão congelados através da técnica de vitrificação. O tempo de congelamento não interfere na qualidade dos óvulos”, detalha o especialista.

E quais são as chances de engravidar?

“As chances de sucesso variam com a idade”, explica Simone Nogueira, especialista em reprodução humana. Até os 35 anos, o resultado positivo chega a 50%. Conforme a idade aumenta, as taxas diminuem. Após os 40, principalmente, os valores ficam entre 10% a 20%.

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Outro ponto a ser avaliado é que as tentativas de fertilização in vitro podem ser realizadas de acordo com a vontade do casal.  “Não há um limite técnico para definir até quantas vezes deve-se incentivar um casal a tentar engravidar através de FIV. Dependerá do "fôlego" emocional e da disponibilidade de tempo e saúde. Não havendo impedimento de saúde, podemos prosseguir”, finaliza Simone.