Há quem diga que postar fotos dos filhos nas redes sociais é perigoso e há quem publique, com detalhes, informações sobre a rotina das crianças. Mas afinal, o que os pais devem fazer? A dúvida, presente até na vida de celebridades, foi respondida pelo psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg, que acredita que a saída para lidar com a exposição está no equilíbrio.
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“O excesso de exposição tem um contraste de narcisismo, mas a vantagem dela é superar as fronteiras da hipocrisia”, diz o especialista. Para ele, a superproteção dos pais pode gerar problemas e, por esse motivo, deixar de publicar fotos e pequenos textos sobre as crianças não dá garantia de proteção e tampouco livra os pequenos de situações conflituosas.
“Na idade média não existia internet, as pessoas usavam vestimentas fortes e estavam sempre armadas, mas isso não as protegia de suas próprias emoções porque sempre existiu guerra”, argumenta o médico. Goldberg, que já atendeu crianças com síndrome do pânico, acredita que todas as atitudes resultarão, no futuro, em consequências positivas ou negativas. Ter dúvida sobre o que fazer, portanto, é natural e compreensível.
“A internet abriu uma dimensão nova nas relações humanas, e o impacto dela é tão forte que as pessoas ainda não sabem como transitar bem”, garante o psicólogo, que pontua: “Embora eu veja a exposição de forma positiva, é importante avisar aos pais que, quando você permite que um menor se exponha, você é o responsável pela repercussão e as consequências dela.”
Com redes sociais em alta, lutar contra a exposição é uma "guerra perdida"
A atriz Deborah Secco, de 38 anos, compartilha com seus fãs e outros seguidores o dia a dia da filha Maria Flor, de 2 anos, e acredita que essa é uma maneira inteligente de mostrar para o público e até mesmo para a herdeira que ela é uma criança normal, como qualquer outra.
“Preservar a imagem da Maria Flor significa que, em qualquer festa de criança que fossem tirar fotos, eu teria que tirar ela de lá correndo, que ela nunca poderia ficar na mesa do parabéns, que qualquer mãe de amigo não poderia levar ela para casa para não correr esse risco. No colégio, eu teria que dizer que ela seria a única criança que não poderia tirar fotos . E ela entenderia isso como?”, questiona a atriz.
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Além da exposição nas redes, Deborah conta que também inseriu saídas de transporte público na vida da pequena, com o objetivo de fazê-la interagir com pessoas que dificilmente conheceria em seu meio. “Eu levo a Maria para a escola de ônibus, ando com a Maria de metrô, na praia, na lama, na areia.”
Sem preocupação com o assédio, já que pega o ônibus em um horário tranquilo, a atriz diz que pretende continuar com a rotina. “Ela (Maria Flor) ama, senta na cadeira amarela, que ela já aprendeu que é a cadeira da prioridade, e fala que é dela (risos). No mundo que a gente vive, no Rio de Janeiro, está cada vez mais difícil ter essa opção, mas eu vou lutar o máximo que eu puder por isso, eu quero que ela cresça tendo uma vida real, como eu tive", defende.
Thiago Fragoso, no ar atualmente em “O Outro Lado do Paraíso”, na pele de Patrick, é pai do Benjamin, de 7 anos, e compartilha da opinião de Deborah, pois acredita que não dá para ser um “homem das cavernas” em um período em que as pessoas estão cada vez mais dependentes da internet para viver.
“Eu nunca deixava meu filho tirar foto comigo nos eventos, deixava ele com a mãe, até que teve um dia em que eu tirei uma foto e ele ficou de cabeça baixa, virou para a mãe e disse: ‘Meu papai não quer que eu fique na foto com ele’. Aí eu pensei que eu posso estar querendo proteger, mas o que ele quer é estar com o pai”, reconhece.
Para o psicólogo Jacob, um dos pontos altos da exposição nas redes é que ela está aí para todos, sem levar em consideração a situação financeira, raça, sexo etc. “Antigamente, só as pessoas ricas e ‘bonitas’ tinham o 'direito' de se expor. Hoje, com a internet, isso é para todos. É uma democratização importante porque todo mundo pode ser um pouco estrela”, defende.
Como evitar problemas com a exposição
O advogado Flávio Goldberg, filho do psicólogo Jacob, lembra que existe a delegacia para crimes virtuais e recomenda que os pais não ativem a localização na hora de postar fotos com as crianças, evitem imagens que mostrem o uniforme escolar dos filhos e também algumas hashtags.
“Se acontecer algo com a criança e for comprovado que aconteceu por negligência dos pais ou por causa das informações passadas por eles, esses pais respondem. Não existe uma responsabilidade direta, eles não serão considerados atores, agentes ou cúmplices do crime, mas de alguma forma podem ser responsabilizados”, explica Flávio.
No caso de pais separados, dependendo da situação, existe até a possibilidade de o responsável pelas publicações perder a guarda. “Isso varia muito, é claro, mas um pai que expõe um filho com poucas roupas, por exemplo, pode provocar a pedofilia”, conta o especialista.
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Apoiado por Flávio, Jacob conclui que o importante é pensar bem antes de cada publicação e, no caso de pais que preferem evitar a exposição dos filhos, tomar cuidado para não inspirar os sentimentos de medo, pânico e paranoia nas crianças é fundamental.