Jade Bueno Monteiro teve uma das experiências menos desejadas por uma mãe logo após o nascimento do filho: viu o menino ser levado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) poucos dias depois de nascer por conta de uma bradicardia, quando a frequência cardíaca é mais lenta. Foram cinco dias separados da mãe em um fase essencial para a amamentação. O pequeno não pegava o peito direito, o bico começou a ficar muito machucado e o que era para ser um momento especial entre mãe e filho se tornou um verdadeiro pesadelo.

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A amamentação não pode ser algo doloroso e incômodo, se isso estiver acontecendo o problema precisa ser resolvido
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A amamentação não pode ser algo doloroso e incômodo, se isso estiver acontecendo o problema precisa ser resolvido



Para piorar, devido aos inúmeros benefícios que o leite materno proporciona à criança, há uma cobrança muito grande na mulher em torno da amamentação . O problema é que o seio é uma região super sensível, e o ato de amamentar pode se tornar uma tortura. Se você está passando por isso, o primeiro passo é não se cobrar tanto. 

O leite materno é realmente importante, tanto que até o seis meses só ele basta. De acordo com a enfermeira obstetra Fernanda Santos, ele também  previne alergias, ajuda contra a obesidade infantil, é rico em água, tem fácil digestão e absorção, faz com que a criança tenha menos cólica, protege de infecções que podem ser causadas pelo uso de mamadeiras mal esterilizadas, garante menos risco de desenvolver asma e artrite reumatoide e a sucção ainda ajuda no desenvolvimento muscular e da arcada dentaria. Mas, para que todos esses benefícios ocorram de fato, a amamentação também tem de ser boa para a mãe– e nem sempre isso acontece.

Preparo antes do nascimento

A verdade é que não é necessário nenhum preparo antes do bebê nascer, já que o próprio organismo se encarrega de desenvolver as mamas para o aleitamento, como explica a enfermeira obstetra Patricia Cabral Scalon, do Hospital e Maternidade São Luiz, de São Paulo.

O problema é que existem muitos mitos sobre essa fase da maternidade. “Algumas mulheres são orientadas a usar uma bucha vegetal [na região], porém os estudos mostram que não faz diferença nenhuma, pois o que realmente irá ajuda é uma pega correta do bebê quando iniciar o aleitamento materno”, afirma Patricia. “O único preparo que pode ajudar é tomar um banho de sol por 15 minutos antes das 10h ou após as 16h, mas caso a mulher não possa tomar sol, não precisa se preocupar.”

Durante a gravidez, a mãe não precisa fazer nada para preparar os seios para amamentar
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Durante a gravidez, a mãe não precisa fazer nada para preparar os seios para amamentar


Fernanda acrescenta que, para suas pacientes, a única coisa que indica durante a gestação é o uso do óleo de amêndoas na região das mamas, exceto na região aureolar. Isso pode, segundo ela, auxiliar na elasticidade da pele e ajudar a evitar o aparecimento de estrias. Porém, só pode ser usado durante a gravidez. “Após o parto, o ideal é não utilizar nada uma vez que isso também pode alterar o cheiro natural da mamãe e inclusive o sabor do leite”, alerta.

Após o nascimento

Quando o bebê nasce, o ideal, ainda de acordo com Fernanda, é que o recém-nascido seja levado ao seio ainda na primeira hora de vida, pois isso vai fortalecer o vínculo mãe-bebê, auxiliar na produção láctea e também evitar que a mãe tenha alguma hemorragia. Depois desse primeiro contato, é preciso começar a se atentar aos detalhes.

A maioria dos problemas e dores que a mulher sente estão relacionados a pega que está errada, ou seja, a criança não está mamando da forma correta e isso causa desconforto e machucados na mãe.

“A boquinha do bebê deve estar bem aberta, o bebê não deve fazer barulhos durante a sucção, a bochecha precisa ficar redondinha, a posição do bebê deve estar adequada (barriga com barriga) e a mulher se sentindo confortável”, explica a enfermeira Fernanda. Passar o próprio leite na região ajuda de forma natural a hidratar e auxilia na cicatrização.

Parece muita coisa, mas, como a própria especialista explica, amamentar não pode ser um processo doloroso e sofrido. "Se está doendo e machucando, é necessário observar o que está acontecendo e corrigir o mais breve possível.”

Combatendo a dor

O primeiro passo no combate à dor é buscar ajuda para ver se a pega está correta. Além disso, durante as mamadas, alterne a posição de amamentar para que não tenha sempre o mesmo ponto de atrito, inicie sempre pelo seio que sente menos dor e, nos banhos de sol, deixe a mama bem seca, sem nenhum tipo de pomada, pois isso pode resultar em queimaduras.

“A mãe pode fazer uso de pomada de lanolina em pequena quantidade somente onde estiver machucado após as mamadas porque, se passar muito, a mama ficará muito escorregadia e dificultará a pega do bebê. Evite o uso de absorventes de seio, pois eles dificultam a cicatrização do machucado no bico”, diz Patricia.

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Há também a opção de usar o bico de silicone. Fernanda lembra que, hoje, esse item já faz parte do enxoval de quase toda mãe, mas ressalta que só deve ser utilizado se for indicado por um profissional de confiança após uma avaliação, caso contrário pode causar mais problemas. 

Drama real

Após ver o filho que havia acabado de nascer na UTI, Jade ainda precisou passar por uma fase muito difícil para conseguir realizar o sonho de amamentà-lo. O pequeno se cansava fácil na hora de pegar o peito, e as enfermeiras do hospital recomendaram que a mãe usasse um bico de silicone e uma concha para formar o bico. O que era para ser a solução acabou virando um problemão.

O bebê começou a pegar só o bico e não o peito inteiro, como é o certo, e o atrito do silicone com o seio piorou a situação. “Chegando em casa, a dor já começou a ficar insuportável. Toda vez que ele ia mamar, eu já começava a chorar. O bico estava aberto, com fissuras e sangue. Lembro que a dor não deixava eu encostar nem a toalha no banho”, relata Jade. Foi então que ela procurou ajuda e conheceu Fernanda. A enfermeira percebeu que não era necessário o bico de silicone, bastava arrumar a pega do bebê.

Jade deixou o bico de silicone e a concha de lado e conseguiu amamentar após arrumar a pega do bebê
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Jade deixou o bico de silicone e a concha de lado e conseguiu amamentar após arrumar a pega do bebê



Retirando os acessórios de silicone, o peito ficou mais seco e isso ajudou na cicatrização. “Foram dois meses bem puxados de dor, até o peito calejar e começar a fechar. Não desisti, era o meu momento com ele. Sabia que isso era o melhor e que esse momento ia passar tão rápido, que nem ia me lembrar da dor lá na frente. Deu certo e, hoje, ele mama em livre demanda”, diz a mãe aliviada.

Cicatrização

Algumas mães acreditam que o peito só vai cicatrizar se o bebê parar de mamar por alguns dias, mas não há essa necessidade. Patricia fala que um profissional saberá auxiliar a melhor forma do bico cicatrizar sem que a mulher deixe de amamentar.

No começo vai ser um processo doloroso, mas que pode dar muito certo. “Não ofereça a mamadeira, pois poderá levar à confusão de bico e a um desmame precoce. Se a mãe estiver com um machucado muito dolorido, deverá fazer ordenha manual de três em três horas por 24 ou até 48 horas e oferecer o leite para o bebê em um copinho, seringa ou conta gotas.”

Um dos grandes perigos é utilizar aqueles populares métodos caseiros para ajudar na cicatrização do seio machucado. Muitas pessoas indicam colocar produtos naturais ou cascas de frutas como mamão e banana, mas não há nenhuma comprovação científica que indique que há eficácia nessas técnicas. “Esses métodos não são indicados, pois os alimentos têm uma grande contaminação por fungos e bactérias e isso pode causar uma infecção na mama, levando a um problema mais sério para a mãe e para o bebê”, alerta Patricia.

Sem culpa e com total apoio

São tantas informações positivas em volta do leite materno, entretanto, que as mulheres se sentem e pressionadas a amamentar a qualquer custo. “Vivemos em uma sociedade em que culturalmente todos se acham no direito de julgar e cobrar as pessoas, e principalmente uma mãe! Seja pela educação, pela alimentação, pelos cuidados, enfim por tudo. Com a amamentação não é diferente”, ressalta Fernanda.

As mulheres são muito cobradas, mas é preciso ter claro de que não é algo fácil e às vezes não dá para amamentar
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As mulheres são muito cobradas, mas é preciso ter claro de que não é algo fácil e às vezes não dá para amamentar


“A amamentação é uma das coisas mais lindas que existem, as mães sentem uma das melhores sensações da vida maternal, porém quando não dá certo também leva à pior sensação. Isso não acarretará em uma depressão pós-parto, mas pode intensificar o blue puerperal ou baby blues”, enfatiza Patricia.

Trata-se de quando as mulheres vivenciam uma emoção muito grande com a chegada do bebê, passando do papel de ser filha para o de ser mãe. Além disso, há uma transformação da autoimagem corporal e a relação da sexualidade e maternidade conjuntamente com uma grande mudança hormonal, que podem levar a sintomas como irritabilidade, mudanças bruscas de humor, indisposição, tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê e outros. A enfermeira explica que esse problema ocorre em 80% nos pós-partos. 

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Por conta disso, tenha claro que cada mulher é única e, ao se tornar mãe, a experiência da amamentação também será. Umas terão mais facilidade e algumas nem mesmo vão conseguir dar o peito, e se você estiver neste último grupo, não se condene. “Não é porque ela não conseguiu amamentar o seu bebê que ele é menos amado ou que ela é menos mãe! É preciso apoiar as mulheres sempre, porque realmente não é fácil”, finaliza Fernanda.

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