Uma coisa é certa: quando há algo de errado acontecendo com seu corpo, ele te avisará de alguma forma. Sintomas como cólica intensa, dor de cabeça ou até dificuldade para engravidar podem avisar uma doença. As cólicas intensas e a infertilidade, por exemplo, são sintomas de uma doença presente em cerca de 10% da população brasileira: a endometriose .
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que cerca de seis milhões de mulheres brasileiras de diferentes faixas etárias sofrem com a doença. A endometriose pode ser definida como a presença de endométrio (camada que reveste o interior do útero) fora da cavidade uterina, ou seja, o tecido localiza-se fora do útero. Por conta disso, há a presença de cólica intensa.
De acordo com Joji Ueno, ginecologista e especialista em reprodução humana, a endometriose é considerada uma doença inflamatória crônica benigna. "É caracterizada pela presença de tecido endometrial, camada que reveste a parte interna do útero, e que descama durante a menstruação espalhando-se pela cavidade abdominal, em vez de ser expelida pelo organismo", explica.
Como identificar?
É possível identificar a doença com base nos sinais que o corpo dá. Os principais sintomas da doença são as cólicas, acompanhadas pela queixa de dor intensa, e a infertilidade. “Geralmente, quanto mais intensas as cólicas, maior a gravidade da doença e maior o comprometimento da fertilidade”, explica Joji.
Sentir dor na relação sexual e sofrer com transtornos urinários ou intestinais no período menstrual também são características desse mal. Em quadros mais graves, a endometriose pode fazer com que a mulher urine ou faça fezes com sangue.
É válido ressaltar que a endometriose é uma doença que pode ocorrer entre a adolescência e a manopausa, em qualquer idade. Porém, a faixa dos 30 aos 40 anos é a mais frequente.
Dificuldade para engravidar
Como a endometriose pode causar aderência em diversos tecidos e órgãos, comprometendo o funcionamento, a dificuldade para engravidar ou até a infertilidade são consequências enfrentadas por algumas mulheres diagnosticadas. Joji explica que essa aderência impede o encontro dos óvulos com os espermatozoides, e isso impossibilita a fertilização.
“Além disso, algumas substâncias produzidas pela endometriose podem comprometer a fertilidade, mesmo sem alteração anatômica”, explica o especialista. De acordo com Joji, a dificuldade para engravidar é presente em 50% das mulheres com endometriose.
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Causas da endometriose
De acordo com Flávia Fairbanks, ginecologista do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), vários fatores podem fazer com que o corpo da mulher desenvolva a endometriose. O principal deles é o refluxo menstrual, que está associado a causas genéticas – no qual o risco é maior entre parentes de primeiro grau. Além disso, questões ambientais e imunológicas também podem ser consideradas como causas.
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Em relação ao ambiente, a especialista explica que o perigo está na exposição da mulher a locais poluídos com resíduos de monóxido de carbono, como as dioxinas. Já o fator imunológico, diz respeito ao organismo que não é capaz de reconhecer de forma adequada esse tecido, o endométrio, fora da cavidade uterina. “O organismo deixa de fazer uma ‘faxina’ adequada todos os meses, que serviria para remover esse tecido e evitar a doença”, diz.
Diagnóstico
Caso você perceba algum dos sintomas, é importante consultar um médico de confiança para investigar o que pode estar acontecendo em seu corpo. “Quanto mais cedo se faz o diagnóstico, melhor o prognóstico para controlar-se a dor ou de restaurar-se a fertilidade”, diz Joji.
O especialista explica que a única forma precisa de diagnosticar a doença é a visualização com exame da biopsia do local do corpo da suspeita. Para isso, a paciente é submetida a uma videolaparoscopia, que consiste em um procedimento de endoscopia onde é visualizada a cavidade abdominal com uma câmera de vídeo.
No entanto, Joji diz que nem sempre esse procedimento é indicado, já que é considerado um procedimento cirúrgico e não um simples exame. “Na realidade, a indicação cirúrgica em pacientes com suspeita de endometriose e infertilidade são relativamente raras”, completa. Ao invés disso, a maioria dos médicos recorre a exames como ultrassonografia e ressonância magnética pélvica para concluir o diagnóstico da endometriose.
Com o diagnóstico feito, é hora de pensar no tratamento. “É muito importante saber que a indicação cirúrgica deve ser bem pensada, principalmente se a mulher pretende ter filhos”, aponta.
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Tratamento
O tratamento mais efetivo para o caso é a realização de uma cirurgia para remover os focos de endometriose do corpo. Flávia explica que para aliviar os sintomas, o tratamento é feito à base de medicamentos como analgésicos e anti-inflamatório. Para reduzir a menstruação e agir nos focos da doença, recomenda-se associar os medicamentos com hormônios – anticoncepcionais ou progesteronas.
Além da cura pela medicina convencional, as pacientes também podem recorrer, simultaneamente, a tratamentos alternativos que atuam de forma complementar para aliviar os sintomas e ter um melhor resultado. A acupuntura e a fisioterapia do assoalho pélvico, por exemplo, são um mecanismo para reduzir as dores. Ainda que questionada por muitos, Flávia comenta que estudos apontam a homeopatia como um recurso que trás benefícios para o quadro.
É possível reverter a infertilidade?
Caso a mulher tenha planos de engravidar no futuro, é preciso pensar em tratamento e estratégias específicas, que variam de paciente para paciente, para aumentar as chances de gravidez. De modo geral, existem três formas de tratar: com medicamentos, cirurgia ou até mesmo reprodução assistida – inseminação ou fertilização.
Reconheceu alguns dos sintomas indicados pelos especialistas? A dor da cólica aumentou e você está com dificuldade para engravidar? Talvez seja a hora de procurar um médico. Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor é para você tratar a endometriose e reverter um possível quadro de infertilidade.