Meu filho tem autismo clássico

Odara Gallo é mãe de Franco, de 3 anos, diagnosticado com autismo, e escreve sobre a experiência às sextas no Delas

Foto: Arquivo pessoal
Franco


- Como ele está indo na fono?

- Está bem, se comunicando mais...

Franco pega o carimbo da mesa da médica.

- Vamos trocar, Franco? Eu te dou essa caneta e você me dá o carimbo.

Ele aceita. Dá aquele orgulhozinho de mãe.

- Viu? Ele está interagindo bem mais, não fica mais tão apegado às coisas...

- Verdade. Uma evolução mesmo. Vamos examinar.

Franco reclama de ser colocado na maca, mas a médica é rápida com o estetoscópio. Termina o exame.

- Já conseguiu marcar a psiquiatra pra ele?

- Ainda não, estou aguardando. Mas andei pesquisando sobre o assunto, o Transtorno do Espectro Autista... Acho que, se ele tiver, é algo como algum transtorno do desenvolvimento sem ordem definida. Porque, afinal, ele não tem todas as caracterís...

- Ele tem autismo clássico mesmo.

Silêncio.

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Foto: Arquivo pessoal
Franco


- As características dele são leves, mas ele tem todas elas. O prognóstico é bom, ele tem evoluído, tem tudo para ter uma vida independente. Mas é autismo.

- Tá bom.

- Inclusive, eu só examinei porque os autistas são muito apegados a rotina. Eu nem precisava examiná-lo hoje. Dessa forma, ele fica sabendo que toda vez que vier aqui terá que ser examinado, até o dia que não vai mais reclamar. Vocês vão perceber que, hoje em dia, não se trabalha com autistas apenas minimizando o estresse, mas sim dando doses pequenas de desconfortos que farão com que ele evolua gradativamente. Ele vai ter que lidar com tudo isso. Só assim ele vai conseguir ficar sentado para assistir a uma aula, aguentar o coleguinha do lado perturbando, essas coisas...

- Entendo.

- Quero vê-lo daqui dois meses. Tomara que consiga marcar a psiquiatra até lá, para conseguir o laudo. Qualquer coisa, eu dou o laudo por aqui, a gente vê o que faz...

Entrei no consultório para uma visita de rotina. Com uma suspeita e muitas dúvidas. Saí com a certeza de que tudo estava diferente.

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Foto: Arquivo pessoal
Odara e o filho, Franco

* Odara Gallo é formada em Jornalismo desde 2006, mas só criou coragem para ter um blog dez anos depois, quando descobriu que seu filho, Franco, tinha Transtorno no Espectro Autista. Às sextas, escreve sobre sua experiência no Delas. "Num dia Franco era uma criança diferente. No seguinte, eu era mãe de uma criança autista. Um pouco do que aconteceu dentro de mim com essa mudança quis sair e se desenhar em palavas. Nasceu esse blog. Quê Cê Qué?"