A vida da jovem estudante de direito Amanda Fabro, de 21 anos, era tão comum quanto a de qualquer mulher da sua idade. Durante nove meses, ela frequentou a faculdade, passou apuros no transporte público de São Paulo, fumou, bebeu, namorou, tomou anticoncepcionais sem saber que esperava um bebê.
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A descoberta da gravidez
"Descobri que estava grávida dando à luz no banheiro. Nunca desconfiei de nada porque menstruava normalmente todos os meses. Nunca tive sintomas", conta a estudante em entrevista exclusiva ao Delas
. Ela chegou a sentir algumas dores "comuns do cotidiano" que nunca a fizeram desconfiar do que estava acontecendo.
Além de menstruar normalmente e não ter sintomas que pudessem ser associados à gravidez, o corpo da jovem mal sofreu alterações. "Em nove meses, engordei quatro quilos", revelou.
Após algumas idas ao médico, falsos diagnósticos e uso de antibióticos, Amanda ficou aproximadamente um mês sem sair de casa. "Por causa disso, fiquei com a auto-estima baixa, não tinha vontade de ver ninguém, absolutamente ninguém".
Senti a dor mais insurportável da minha vida e, quando olhei pra baixo, vi a cabeça da Julia (nome que deu à bebê) saindo de mim, coloquei as duas mãos em mim, segurei a cabeça dela e, então, a puxei para fora"
Como tudo aconteceu
Perto de dar à luz, Amanda sentiu cólicas, o que não era comum em sua rotina. A garota se auto medicou com remédios específcos para dores abdominais e passou um fim de semana todo com dores. "De meia-noite até duas e meia da manhã, ficava de lá pra cá, da cama para o banheiro, do banheiro para a cama. Sentia algo vazando e ia ao banheiro, ficava em cima do vaso rezando para passar, apertando minha barriga para melhorar a dor".
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"Dormi 30 minutos e, quando acordei, já não suportava mais aquela dor. Fui até o banheiro e coloquei o dedo dentro de mim para ver se sentia algo. Foi aí que a bolsa estourou. Era sangue e muita água pelo chão do meu banheiro e pedia pelo amor de Deus para não morrer".
"Puxei a bebê para fora"
Após pedir ajuda ao pai, ela voltou ao banheiro. "Senti uma vontade inexplicável de fazer força", relata. "Fui para o vaso e, após fazer força e defecar, levantei e senti a dor mais insurportável da minha vida e, quando olhei pra baixo, vi a cabeça da Julia (nome que deu à bebê) saindo de mim, coloquei as duas mãos em mim, segurei a cabeça dela e, então, a puxei para fora".
Pós-parto
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Foi a família de Amanda (pai, mãe e irmãos) que a ajudaram nesse momento. Depois que a bebê nasceu, eles chamaram uma ambulância e, só aí, a jovem foi levada ao hospital. Lá, descobriram que estava tudo bem, tanto com a mãe, quanto com a filha.
Pai presente
Após procurar o pai da criança, eles decidiram não ser um casal, mas acordaram sobre a criação de Julia. "Não estamos juntos, mas nos amamos por termos marcado a vida um do outro com a coisa mais marvilhosa do mundo", conta. "Ele vem vê-la quase todos os dias, baba muito e fala coisas maravilhosas. Somos uma família do nosso jeito", finaliza.
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Obstetras explicam
"Na verdade, não é uma história comum, mas eventualmente a gente ouve isso. Há uns 3 anos uma jogadora de vôlei que engravidou, continuou treinando e só percebeu no final. No caso agora, como ela tomava pilula, na pausa ocorria um sangramento, por isso ela menstruava", pontua o obstetra Alberto Guimarães ao Delas.
"Eventualmente ouvimos essas histórias porque é possível engravidar sem passar mal, mas, sem dúvidas, não é o habitual. Não é normal, mas é possível", continua o médico.
A obstetra Maria Elisa Noriler concorda que esse caso seja raro. "É muito raro a gestante chegar aos nove meses e não sentir a movimentação fetal do bebê, pois, normalmente, a gestação é muito perceptível após a 20ª semana".
Ela ainda conta que mães e filhos devem ir ao hospital depois de uma situação como essa. "É recomendável que sejam feitas as vacinas iniciais e o atendimento médico hospitalar da mãe e bebê".
Ainda de acordo com Alberto, o uso de anticoncepcional durante a gestação pode gerar algumas complicações na formação do bebê, mas, para a mulher, não tem grandes riscos. "O que leva a casos assim é a falta de observação de si mesma, de seu corpo", finaliza.
"Quando isso ocorre é mais comum em pacientes com obesidade considerada, pois muitas não percebem o aumento do volume uterino", explica Maria Elisa.