Se pudéssemos usar um termo para definir Gilda Nomacce , esse seria "sensibilidade". Aos 52 anos, a atriz de "Cidade Invisível" (Netflix) e "Desejos S.A." (Star+) acredita estar vivendo o auge de sua carreira. "Tenho realizado muitos sonhos como uma mulher madura. Cada um tem uma fase para realizações. O mundo pode até te olhar como 'senhora', mas, na minha perspectiva, estou em plena ascensão", declarou a artista, em entrevista ao iG Delas.
Acumulando mais de 98 papéis ao longo da carreira, Gilda agora se prepara para o futuro lançamento de seu mais novo projeto, "Tarã" (Disney+), seriado em que atua ao lado de estrelas como Xuxa, Angélica e Fafá de Belém. Na trama, ela interpreta a vilã Regina, que é Secretária do Meio Ambiente. Dividir cenas com a Rainha dos Baixinhos foi bastante "especial", diz Nomacce. "Durante o voo para o Acre, onde aconteceram as gravações, fiquei projetando como seria estar em cena com ela. Realmente foi especial, filmamos uma sequência com explosões e efeitos visuais. Estou ansiosa para ver o resultado".
Para alguém que já deu vida a tantos personagens, como é o caso de Gilda Nomacce, o trabalho costuma ser "terapêutico". "Diversas personagens me trouxeram uma vida que não poderia ter se tivesse vivido apenas a minha. Já curei traumas muito profundos com personagens. Por estar muito identificada com a situação, posso enxergar coisas que muitas vezes parecem ser impossíveis de entender", comenta a atriz.
"Quase como uma terapia", compara ela. "Porque quando você está na terapia, você transfere essas questões e começa a observar, com o seu terapeuta, um outro olhar que era impossível até aquele momento. Então, para mim, as personagens são muito terapêuticas", justifica Gilda. Veja a seguir a entrevista completa com a artista:
IG DELAS: Gilda, você saiu de Ituverava, no interior de São Paulo, para tentar a sorte na carreira de atriz. Você sempre sonhou em atuar? Como foi a sua trajetória?
Gilda Nomacce: No interior, ainda existe muita deficiência de espaços culturais, teatros e cinemas. O que tinha foi transformado em lojas de departamentos ou igrejas. Antes, eram apenas dois cinemas, os locais mais maravilhosos em Ituverava.
Quando nasci, meu irmão Cico estava no cinema e foi avisado no meio da sessão sobre meu nascimento. Para alguns, essa conexão pode ser boba, mas acho um sinal, uma sincronicidade. Foi um aviso. Desde sempre, falava que ia ser atriz, e o porquê não sei. Apesar da minha família não ser de artistas, meu irmão é muito sensível e desenhava desde criança. Mesmo com grande talento nas artes plásticas, não quis seguir. Minha mãe era professora, mesmo que não tenha sido artista, era uma contadora de histórias incrível e substituía os nomes dos personagens das histórias clássicas por nossos nomes; meus e dos irmãos e primos. E isso fez com que a minha cabeça e imaginação fossem sempre livres. Logo, convivi muito com a arte. Até mesmo meu nome, Gilda, divido com uma personagem do cinema clássico. Sempre ouvi a frase "Nunca houve mulher como Gilda", não sei o quanto isso influenciou [a escolha do nome]. Meu avô também pintava, desenhava. Então, acho que sou de uma família de artistas que não fizeram carreira.
Você acumula uma extensa lista de papéis em sua carreira, tanto na TV (incluindo streaming), quanto no cinema e no teatro. Em todos esses anos, teve alguma personagem que mais te marcou? Por que?
Tem aquelas que se destacam porque mudam as nossas vidas. A personagem que mais mudou a minha vida foi a Shirley, de "O Que Você Foi Quando Era Criança", escrita por Lourenço Mutarelli. Foi uma peça que recebeu muita atenção, e meu trabalho alcançou cineastas que me convidaram para as primeiras experiências nas telonas. Acredito que a Lucimar, de "Desejos S.A.", esteja mudando a minha vida novamente. Muitas mudaram, mas pontuo essas duas. Shirley e Lucimar me trazem coisas muito fortes, importantes na construção da minha carreira.
Agora falando um pouco sobre beleza e autoestima: aos 52 anos, como você lida com o passar da idade? Ser atriz torna esse processo mais difícil?
Mesmo para a criança já existe uma idealização da beleza. E na adolescência isso pode se tornar um lugar opressor, sobretudo para a mulher, com estes ideais muito ligados à juventude. Também não ficamos falando toda hora da beleza do homem. Eles não escutaram por décadas que são "bonitos para a idade". Me sinto uma mulher com muita energia, disposição, curiosidade com a vida e para quais caminhos ainda vou trilhar. Hoje, conhecendo muitas mulheres, suas questões, nossas lutas, percebo que a questão da beleza ficou no estrutural. Não é um lugar que me acolhe e nem me desampara mais.
Nos últimos anos, temos falado mais abertamente sobre temas como o etarismo. Você já vivenciou esse tipo de preconceito?
Ser atriz ocupou praticamente a minha vida inteira e, nesta atividade, é um valor muito alto ter experiência e idade. Claro que na dramaturgia tem muito mais papéis para jovens, mas estou no streaming com uma protagonista aos 52 anos. Já senti olhares diminutivos por ser uma mulher mais velha, mas isso está mudando. Acredito que se fosse mais jovem teria mais possibilidades de papéis, mas estou bem satisfeita com minhas oportunidades atualmente, porque são personagens que exigem uma complexidade em que estou disposta a trabalhar. Os outros podem até me colocarem nesse lugar, mas jamais irei me colocar nesse preconceito etário.
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