![Fernanda Giuntini revela experiência no oriente médio Fernanda Giuntini revela experiência no oriente médio](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/59/dv/zp/59dvzpeejw1fl2n5vxzmxl8x7.jpg)
Apesar das pautas de diversidade terem tomado conta do ambiente corporativo nos últimos anos, a equidade de gênero em cargos de alto comando ainda deixa a desejar. De acordo com o estudo Women in the Boardroom 2022, realizado pela consultoria Deloitte, apenas 5% dessas posições são ocupadas por mulheres no mundo, número que cai para 1,2% no Brasil. Com isso, o país ocupa a 39ª posição entre 51 nações avaliadas.
Outro desafio enfrentado pelas executivas é a disparidade salarial. A pesquisa Global Female Leaders Outlook 2022, da consultoria KPMG, foi realizada com 884 mulheres em cargos de liderança em todo o mundo, sendo 44 no Brasil, e constatou que 32% delas acham que falta transparência por parte das empresas em relação à igualdade de salários femininos e masculinos. Para 96% das brasileiras consultadas, é necessário mais empenho na construção de uma cultura com paridade de gênero, diversidade e inclusão nos mais altos níveis das empresas.
Nesse cenário, as profissionais que conseguem furar a bolha de gênero no mundo dos negócios precisam se adaptar para atuar em um ambiente predominantemente masculino, com poucos pares para ter identificação, ao mesmo tempo em que pavimentam o caminho para outras mulheres. Conheça algumas delas abaixo.
Choque cultural no Oriente Médio
Vice-presidente da Americana Foods, empresa de um dos principais operadores alimentícios do Oriente Médio e Norte da África, Fernanda Giuntini começou a trabalhar ainda adolescente, incentivada pelos pais que priorizavam a educação financeira. Dessa forma, atuou com vendas, se formou em Turismo e passou por diferentes áreas do setor, além de ter aberto o próprio negócio com apenas 24 anos: a loja Divina Empada, que existe até hoje. Pouco tempo depois, teve a oportunidade de redirecionar drasticamente a carreira, assumindo um cargo na multinacional BRF e se mudando para os Emirados Árabes Unidos.
“Eu vislumbrei uma oportunidade de crescer no futuro e, assim, entrei na BRF como vendedora e saí como Gerente de Marketing do Oriente Médio. Quando cheguei em Dubai, 15 anos atrás, foi um choque. Tive que fazer adaptações no meu comportamento para evitar ser mal-interpretada, mas hoje eu tiro de letra, mesmo sendo a única mulher na sala em inúmeras ocasiões. Por outro lado, vejo cada vez mais a preocupação com agendas de diversidade de gênero na minha companhia e em outras empresas da região, assim como em todas as partes do mundo. É um momento único para mulheres se recolocarem no mercado”, diz Fernanda Giuntini.
A executiva ainda destaca a "síndrome de impostora” como um grande empecilho para mulheres no mercado de trabalho e elenca atitudes para virar o jogo. “Muitas vezes, as mulheres acham que não estão aptas para assumir um desafio e acabam não se sentindo confortáveis em um cargo de destaque, um projeto ou uma empresa. A minha dica é identificar as fraquezas e trabalhar nelas para se sentir mais confiante, além de, claro, mapear os pontos fortes para realçá-los, sem perder o pé no chão”, aconselha a VP da Americana Foods, que ainda é investidora-anjo da associação BR Angels, onde ajuda a impulsionar o empreendedorismo com capital financeiro e intelectual para novos negócios no Brasil.
Carreira e maternidade
![Licia Souza diz como conciliou carreira e maternidade Licia Souza diz como conciliou carreira e maternidade](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/71/yg/yd/71ygydi4eiv5mtrm84umdegzv.jpg)
Lícia Souza já tinha uma carreira como advogada quando começou a flertar com o ecossistema de startups, em 2016, ao atuar como advisor jurídica de uma empresa de capital de risco. No entanto, foi em 2018, quando se viu grávida e com a segurança do cargo executivo colocada à prova, que o caminho do empreendedorismo a encontrou e ela aceitou participar de um projeto para o desenvolvimento de startups.
“Quando uma mulher engravida, diversas inseguranças passam pela sua cabeça, como o medo de ser descartada pelo mercado de trabalho. E essa é só uma amostra do quanto é mais difícil se firmar profissionalmente sendo mulher. Mas, uma vez engajada e diante da experiência recente da maternidade, não foi difícil abraçar esse novo desafio e definir que a tese teria foco em diversidade e inclusão”, afirma Souza.
“O desejo de trabalhar pela causa feminina veio também da indignação de uma conta que não fecha: as mulheres representam 50% da população, portanto, devem ter representatividade em lugares de tomada de decisão. Isso gera uma realidade mais justa, inovação real, maiores lucros e benefícios para toda a sociedade, já que uma maior participação feminina no mercado e em cargos de liderança geraria aumento de até US$ 12 trilhões no PIB global até 2025”, complementa a executiva.
Esses incômodos culminaram na criação da WE Impact, primeira venture builder dedicada a startups fundadas e lideradas por mulheres no Brasil, que contou com o apoio da gestora de recursos Bertha Capital. A WE Impact viabiliza investimentos de até R$ 500 mil em negócios early-stage de base tecnológica que tenham mulheres no quadro societário e na direção, além de modelo B2B ou B2B2C. Para a fundadora e CEO, que também carrega os títulos de mãe da Júlia, uma das “39 Women to Watch in the Latam CVC” pela Global Corporate Venturing em 2022 e aliada dos Women's Empowerment Principles junto à ONU Mulheres, o empreendedorismo é uma forma de alavancar a participação feminina no mercado de trabalho e na tecnologia.
“A maioria esmagadora dos VCs é fundada e liderada por homens. E o funcionamento do mercado é como um grande clube, você entra através de networking, indicações e, claro, por identificação. As fundadoras que desejam levantar capital encontram ainda mais dificuldades. Sendo assim, é muito importante ter em mente que receber um tratamento igualitário, com respeito, não é pedir favor a ninguém - é um direito nosso”, conclui Lícia Souza.
Captação de recursos para mulheres
![Cristiane Mendes criou a HR Tech Chiefs.Group Cristiane Mendes criou a HR Tech Chiefs.Group](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/bs/nn/m7/bsnnm740mgr8klrm93bk14grv.jpg)
Com uma trajetória de mais de 25 anos no ambiente empreendedor brasileiro, Cristiane Mendes já ocupou todas as posições no percurso de formação das empresas, indo desde colaboradora, que é de fato quem faz os processos avançarem, até founder, que é quem cria o sonho e engaja os colaboradores. Além disso, desempenha os papéis de conselheira, mentora e investidora. Para ela, foi a riqueza de experiências que proporcionou uma visão holística de mercado e fez com que adotasse a diversidade como um dos principais valores.
“Passar pelas dores e alegrias de ver um negócio avançando, da ideia à execução, me fez perceber que estamos vivendo um grande reset no mundo do trabalho e nas formas que temos de agregar valor às organizações. A gente vinha de um momento em que as companhias eram o centro de tudo e, cada vez mais, o talento se tornou o fator central. Os profissionais, agora sabedores do poder dos seus talentos, podem escolher dedicar o seu tempo a múltiplos projetos. Esse é um processo sem volta, que tende a se intensificar, e traz uma oportunidade única para impulsionar a presença de lideranças femininas e o poder de influência das mulheres”, comenta Mendes.
A partir dessa percepção, ela criou a HR Tech Chiefs.Group, que destina profissionais C-Levels para atuação on demand em empresas, startups e projetos pontuais, com diferentes formas de remuneração. Para a CEO, a possibilidade de acessar talentos de qualquer lugar do mundo e com qualquer background retira vieses e abre portas para pessoas de qualquer gênero, orientação sexual, raça, crença e formação. No entanto, a executiva destaca os obstáculos para um negócio proveniente de uma minoria captar recursos e prosperar.
“Durante um período de captação e M&A, eu pude notar como pode ser mais desafiador pra gente. Esse é um ambiente extremamente masculino, não só sob o ponto de vista dos membros, mas algumas características dele podem destoar das nossas preferências - um exemplo disso é a agressividade que os investidores demandam dos empreendedores. O que eu observo é que esses ambientes demandam das mulheres uma demonstração muito maior de confiança. A dúvida é vista pelos homens como fraqueza e não como uma oportunidade de trabalho em conjunto, de uma troca de ideias. Muitas vezes, quando uma líder tenta criar um ambiente colaborativo, onde todos têm as suas opiniões, isso é visto como um sinal de hesitação, o que não é verdade”, conta Cristiane Mendes.
“A mulher tem características incríveis na forma de trabalho, como a empatia e o engajamento, e merecemos o reconhecimento por isso”, finaliza a executiva, que ainda é co-fundadora do Delivery Center, Shopping Brasil (atual GFK) e Visor.