A restrição do acesso a profissionais capacitados é uma realidade de muitas famílias brasileiras quanto aos cuidados com as crianças, de si mesmos e de todo o processo de parentalidade. Para mudar esse cenário, a Comunidade Ohana nasceu, em 2017, com o propósito de informar essas pessoas com acolhimento e ser um elo entre a prática e a informação científica no ambiente virtual. A comunidade se tornou um dos mais relevantes grupos de parentalidade do Brasil e mais de 17,5 mil pessoas, entre tentantes, gestantes, pais, cuidadores de crianças e redes de apoio estão unidos a especialistas, com informação de qualidade.
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“A Ohana é composta por profissionais de áreas diversas que respondem às perguntas dos mais de 17,5 mil membros do nosso grupo no Facebook, tendo como objetivo devolver o sono e a segurança para quem se sente em dúvida e com medo em relação ao maternar e ao paternar. O grande diferencial é a moderação baseada em informações científicas, sem achismos ou julgamentos, permitindo que as pessoas compartilhem suas dores e vivências e tenham real apoio em seus desafios diários”, afirma a fundadora e community manager Cris Vasconcelos.
Ela conta que, quando teve seu filho Bernardo, em 2016, passou por uma série de desamparos, desde desemprego e violência obstétrica à incapacidade de amamentar e falta de empatia de mulheres que poderiam ser seu apoio. As muitas faltas que viveu, descobriu serem semelhantes a de várias outras mulheres, as quais foram ensinadas a romantizar a maternidade, abrir mão de sonhos e se verem sozinhas – invisíveis.
Nesse contexto, poucos meses depois, Cris decidiu criar a comunidade para ser o apoio que ela não teve, inspirada no profundo conceito da palavra havaiana “ohana”, que em termo simples significa “família”. “Eu sabia que precisava ser mais do que um grupo materno, eu sempre quis que fosse um espaço que acolhesse, com compromisso e conteúdo relevante, qualquer responsável por uma criança”, lembra Cris. Foi assim que migrou de uma carreira de 20 anos como gerente de vendas, para seguir o caminho que verdadeiramente a realizaria: o de transformar para melhor a vida das famílias por meio da comunidade.
Hoje o time da Ohana é formado por 25 mentoras, profissionais voluntárias das áreas de Pedagogia, Psicopedagogia, Psicologia, Medicina (Ginecologia Obstetrícia e Pediatria), Assistência ao Parto (doula), Pesquisa em Amamentação, Odontologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Advocacia, e conta com parcerias casuais de outras áreas, como Consultoria em Luto, por exemplo, quando algum membro do grupo está passando por esse período difícil. Com integrantes também em Portugal e em Angola, além do Brasil, Cris explica que o maior desafio tem sido se diferenciar das redes de apoio que não têm à frente especialistas.
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“Mesmo em um grupo de apoio bem intencionado é comum haver ruídos de 'achismos' e julgamentos, por isso escolhemos ir além em relação ao conteúdo fornecido na Ohana, pois nela acolhemos de forma respeitosa cada membro e cada história de forma personalizada. Cada caso relatado é analisado por uma equipe multidisciplinar, respondido e acompanhado por uma profissional. As conversas, trocas e incentivos entre as famílias são muito bem-vindas, mas reforçamos sempre que experiências individuais não substituem ou invalidam evidências científicas”, ressalta Cris.
Dois anos após a fundação da Comunidade Ohana, uma outra brasileira, grávida e recém-chegada à Colômbia, entra na história para somar ainda mais esforços no desenvolvimento do grupo. No exterior, tudo o que Vivian Salomão queria era se conectar com quem pudesse entendê-la e ajudá-la, por isso uma amiga a convidou para fazer parte da Ohana.
“Eu ficava mais calada no início, apesar das muitas questões que rondavam minha mente, foi quando fui acolhida por uma mentora psicóloga durante a pandemia de 2020, em uma fase de grande insegurança”, conta Vivian que, depois dessa experiência, decidiu se juntar à equipe da comunidade, trabalhando dentro de sua especialidade, o Marketing, e se tornou amiga e braço direito de Cris, mesmo ainda vivendo na Colômbia.
"Uma das grandes campanhas que temos feito dentro da comunidade é contra o negacionismo e a importância de seguir a ciência. Alguns anos atrás, a luta pela vacinação era uma batalha ganha, vacinar os filhos era algo natural no país. Hoje estamos presenciando doenças que já haviam sido erradicadas. Também falamos constantemente sobre a saúde mental de quem é responsável por uma criança, porque é preciso cuidar de si para conseguir cuidar do outro”, destaca Vivian Salomão, gestora da Comunidade Ohana, sobre outro desafio atual
Diante de tantos desafios e ricas histórias, a dupla Cris e Vivian, teve a grata notícia, no ano passado, de que haviam sido selecionadas pelo programa Aceleradora de Comunidades da Meta, um programa global da bigtech voltado para os grupos mais relevantes da sua rede Facebook. Desde então, elas participaram de uma jornada de descoberta e traçaram os próximos passos da Comunidade Ohana, que recebeu um investimento de US$ 40 mil para financiar os novos projetos. O resultado da aceleração se consolidou em um livro que conta 12 histórias da comunidade, as quais destacam sua diversidade de perfis e realidades sociais, com lançamento previsto para maio. Também serão produzidos um novo site e um videocast, ainda neste primeiro semestre.