Na semana em que comemoramos o dia da Mulher, revivemos a triste história da violência sofrida pela atriz Klara Castanho. Em um depoimento emocionado, forte e recheado por muita coragem no programa Global Altas Horas, a jovem de 21 anos relembrou momentos dolorosos em que foi forçada, em 2022, a expor sua dor em rede nacional através de uma violência absurda que invadiu sua privacidade e escancarou o estupro sofrido para toda uma nação.
Klara Castanho foi estuprada, engravidou e escolheu parir a criança e entregá-la à adoção consciente (amparada pela lei). E no tribunal dos "donos da verdade" que impera na internet, onde em geral todas as premissas partem de um ponto comum: a ignorância perversa, ela foi humilhada e sofreu com o linchamento virtual recheado por todo tipo de violência contra a mulher.
Um circo de horrores que evidencia traços da cultura de violência machista e autoritária que vivemos em nossa sociedade, onde o corpo da mulher deixa de ser responsabilidade dela. Um trauma psicológico evidente na fala emocionada e repleta de sentimentos conflituosos da menina que teve dedos apontados em meio ao constrangimento.
Dentro do pacote de violências entranhadas neste caso doloroso, podemos citar: a violência física caracterizada pelo estupro; a violência moral; a violência da exposição e violação da intimidade; a violência dos julgamentos nas redes sociais (praça pública para as execuções); a violência psicológica, principalmente, por não ter condições emocionais de exercer a maternidade e com isso precisar entregar a criança para adoção; a violência da intolerância; a violência da falta de empatia e acolhimento, que colocam a vítima no papel de culpada.
Enfim, fato é que, para quem vive do consumo das matérias sensacionalistas despejadas nos meios de comunicação, esse pode ter sido, na época, apenas mais um mero episódio de violência contra a mulher. Porém, para as vítimas desses abusos, as marcas emocionais de tamanha dor, sem dúvida alguma, perdurarão para toda uma vida.
É por isso que, precisamos falar sobre essas dores, acolher suas vítimas, prevenir as violências através de informações, políticas públicas e privadas de qualidade, compromisso e acolhimento efetivo. O intuito é banir esse comportamento de ódio, julgamentos e empatia reversa que instala e ativa o pior que existe no ser humano, além de desencadear na vítima marcas psicológicas, em muitos casos, irreversíveis, devido à coerção psicológica sofrida pelos perversos.
Assim como muitas outras mulheres que sofreram ou ainda sofrem violências, a atriz que foi estuprada, teve o seu direito de escolha pela privacidade também violado e desrespeitado. A grande verdade é que as vítimas de abusos físicos, morais ou psicológicos precisam e devem receber acolhimento empático, sem julgamentos. Além disso, o acompanhamento psicoterápico também é de suma importância para reconstruir e ressignificar abismos provocados pela insegurança e pelo medo.
Elevar a autoestima e empoderar o indivíduo a acreditar que a vida continua, apesar de toda exposição e violação da intimidade. Enfim, um desejo real: que casos como esse de Klara não voltem jamais a acontecer. Que Klara, assim como tantas milhares de vítimas, se vista de muita coragem e força para seguir em frente. Afinal, ninguém merece passar por isso.
E que o dia da mulher não fique apenas no bonito discurso defendido nas redes sociais. A prática do cuidado, da proteção, do respeito e da empatia precisa acontecer na vida real. Já que, o que vemos ainda hoje é que, a falta de informação, a ignorância e a maldade cruel fazem com que pessoas que deveriam proteger e ajudar, usem da fragilidade da vítima para se promover.
Uma triste constatação de que vivemos em uma sociedade carente de amor, de proteção, de valores e de caráter. E enquanto não virar uma prática humana, exercer a empatia e exterminar o falso direito de julgar o outro, ainda veremos vítimas de violência e abusos arrastando correntes eternas e colecionando feridas e marcas por toda a vida.