Um grupo com pouco mais de dez pessoas se reuniu em frente à Casa Gueto, no Centro Histórico de Paraty, na última sexta-feira, dia 25. Orgulhosos, traziam no peito o rosto imaginado da professora e escritora Maria Firmina dos Reis, com os dizeres: ‘de Guimarães para o mundo’. Conterrâneos da autora homenageada da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano - que retomou o presencial depois de duas edições no formato online -, eles comemoravam o fato dela e da cidade onde nasceram, que tem pouco mais de 12 mil habitantes, serem lembrados por um dos principais eventos literários do país. “Ela é a protagonista da nossa cidade e merece que todos conheçam sua história”, clamavam.
Na ocasião, estava sendo lançada a biografia da maranhense, que teria vindo ao mundo no mesmo período em que o Brasil se tornou independente. Mas tanto sua feição quanto o ano exato de seu nascimento permanecem incógnitos - menos a sua obra. Da primeira à última mesa do evento, nas ruas, nas prateleiras das livrarias, declamações, slams, tudo lembrava Maria Firmina, que teve como ponto alto dos escritos o romance Úrsula, publicado em 1959. À época não assinava o texto, mas ele se tornou ícone da literatura brasileira e ela é reconhecida como a primeira romancista negra do Brasil.
“Celebrar a Maria Firmina é comemorar a possibilidade de ser livre”, foi dito na mesa inaugural do evento, a Pátrios Lares, em que a discussão desenhou o pioneirismo da escritora maranhense, que ficou órfã com 5 anos de idade, tornou-se professora - criou a primeira escola mista de seu estado - e colocou nos textos o protagonismo negro. Firmina também contribuiu para a luta abolicionista e esteve, ainda que dois séculos atrás, à frente de seu tempo.
Como forma de fomentar essa discussão, ouvir especialistas e exaltar os verdadeiros protagonistas de nossa história, as equipes das Agendas Bonifácio e Tarsila, geridas pela Organização Social Amigos da Arte, estiveram presentes nos cinco dias de evento, registrando a alegria de celebrar o reencontro e a cultura. Foi um trabalho intenso, permeado por diversas vozes, exaltando a diversidade que faz parte do cotidiano brasileiro e do trabalho que desempenhamos desde o início dos projetos, que já estão em fase final, mas ficarão como registros históricos de duas importantes efemérides brasileiras: o centenário da Semana de Arte Moderna e o bicentenário da Independência.
Revisitar o passado, analisar o presente e projetar o futuro, sempre tendo como farol os expoentes, de fato, casam com a frase de Maria Firmina dita na abertura do evento literário e divulgada por seus patrícios, na mesma camiseta vestida com ares de estandarte: ‘A mente, esta ninguém pode escravizar’. Não mesmo.