Racismo não é um problema dos pretos
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Racismo não é um problema dos pretos

Um homem retorna para casa dirigindo seu carro caro e é parado pela polícia sob suspeita de roubo do seu próprio veículo, uma mulher é abordada de forma hostil pela segurança de uma loja acusada de roubar o próprio casaco que trazia na bolsa, uma criança chega em casa chorando pedindo para cortar o cabelo pois foi motivo de piada na escola, um jovem é hostilizado com xingamentos ao circular no próprio condomínio em que reside.

O que todos esses casos têm em comum? 

São todos casos reais que recentemente ganharam a mídia e as pessoas a sofrerem as violências eram todas pretas.

Falar de racismo e estresse racial pode ser desconfortável, difícil e doloroso, mas enquanto casos como esses continuarem a se repetir cotidianamente é essencial ampliar o debate racial e entender que quando falamos em racismo estamos também diante de um problema de saúde pública.

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O estresse racial é um tipo de trauma profundamente complexo e com características muito específicas quando comparado a outros tipos de trauma. 

A primeira característica definidora de trauma racial é que o impacto psicológico não é causado apenas pela experiência direta com o racismo. Todos nós estamos vendo as mesmas notícias e videos de violências raciais sendo praticadas cotidianamente, mas quando uma pessoa preta vê isso uma parte dela vai comunicar: “Poderia ser eu. Pode ser meu filho. Poderia ser minha irmã.” Isso transforma a experiência que está acontecendo com outros em algo pessoal.

Isso faz com que o estresse racial seja algo quase que constante na vida de pessoas pretas, o que leva a segunda característica do trauma racial: hipervigilância.

O sistema nervoso aprende a funcionar em estado de alerta constante especialmente em torno da ameaça de que se pode sofrer discriminação ou violência racial a qualquer momento, ou pode ser visto como uma ameça e não conseguir se defender. 

Além disso, o racismo comunica a todo momento que há algo de errado com você. Imagine o que é para uma criança crescer entendendo que a cor dela a torna menos bela, pertencente ou pode colocá-la em situações de risco. Isso restringe sua autenticidade, sua autoestima, sua afetividade, sua ambição e capacidade de sonhar.

Viver em estado de hipervigilância constante podem afetar a vida como um todo, desde o comportamento, os relacionamentos até a saúde física e mental.

As consequências do trauma racial são tão diversas quanto difíceis de mapear por completo. Podem ir de sintomas que serão reconhecidos como uma ansiedade generalizada, por exemplo, internalização de crenças de não ser suficiente, baixa autoestima, dificuldade de relacionamentos, até inúmeros adoecimentos pela exaustão do sistema neuroendócrino na sustentação da resposta ao estresse por longos períodos.

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O trauma racial pode restringir profundamente a vida de uma pessoa. E por isso é essencial tratarmos a questão com a urgência e amplitude que ela merece. 

Racismo não é um problema dos pretos. É um problema de toda a sociedade e a resolução dele depende de um envolvimento coletivo para que possamos construir uma realidade em que podemos existir, nos relacionarmos e nos respeitarmos como humanos iguais.


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