Na última quinta-feira (12), o ator Tarcísio Meira, 85, faleceu em decorrência da Covid-19 . Ele deixou um filho, Tarcísio Filho, e a esposa, a atriz Glória Menezes, que também estava internada por conta da doença. Glória passou 59 anos com Tarcísio. Fontes afirmam que ela recebeu a notícia da morte do marido com muita tristeza .
O luto é um processo singular e pode ser bastante doloroso para algumas pessoas. No entanto, ele pode ser ainda mais intenso no caso de pessoas idosas que ficaram viúvas. Isso porque, na maioria dos casos, elas passaram boa parte de suas vidas acompanhadas da mesma pessoa. Portanto, a morte pode causar dores e estranhamentos muito particulares para quem fica.
A professora Maria Aparecida Santos Pires, 60, perdeu o marido, Waldemar, em março de 2020, por conta de um câncer. Os dois se conheceram quando ela tinha 17 anos e passaram 42 anos juntos. Ele foi o único namorado dela. Ela explica que a relação dos dois era de muita cumplicidade e que Waldemar era um grande parceiro.
O processo de luto dela se mostrou ainda mais complicado, já que Waldemar faleceu bem no início da pandemia do novo coronavírus. “Eu não podia sair para conversar ou para tomar um café com alguém. Não podia receber aquele carinho maior. A gente tira força do âmago da alma”, explica.
Maria Aparecida lembra que atividades cotidianas, como ir ao shopping ou ao mercado, se tornaram difíceis no início. “Ele era engenheiro civil, então adorava comprar coisas de casa e decoração. A primeira vez que fui em uma loja dessas depois disso eu saí, porque comecei a procurar por ele em tudo que é canto. Sentia falta dele nessas horas”.
A professora explica que a companhia de outras pessoas, principalmente dos três filhos, somada ao que ela chama de uma “cabeça boa”, foi o que a fez segurar firme após a perda do marido. “Tive apoio de amigos da escola, dos meus filhos e da família dele, que sou muito ligada e com quem tenho uma boa relação”.
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Pouco depois do falecimento de Waldemar, em dezembro de 2020, o marido de Maria Santos Teixeira, 75, faleceu após uma queda de açúcar no sangue que comprometeu seu pulmão e causou falência nos órgãos. Manuel, 77, lidava há anos com alguns problemas de saúde, desde diabetes até Alzheimer.
Maria conta que eles passaram quase 60 anos juntos. “Nossa relação era de muito amor”, afirma. Emocionada, ela diz que quando soube da morte de Manuel ficou sem chão. “Fiquei amargurada porque fiquei sem ele. Foi um sentimento de tristeza, de que não tinha mais ele em casa. A gente ficava sempre juntos e, de repente, ele foi embora. Me abalou muito”, ela explica com voz de choro.
Para não ficar sozinha, Maria foi morar na casa do filho junto da nora e dos netos que, ela afirma, estão sendo maravilhosos com ela. “Me acolheram e me apoiaram. Isso me ajudou muito. Se eu ficasse sozinha em casa ia ser bem pior, acho que eu ia morrer também”.
De acordo com a psiquiatra Karine Cunha, da Clínica Ella, o luto é um processo muito individual e que pode causar uma montanha-russa de emoções. “O enlutado apresenta fases de negação, tristeza, angústia, sensação de vazio, revolta, saudade e culpa. Os sintomas vão variando dia após dia”, afirma.
Esse processo individual faz com que cada pessoa reaja de uma maneira diferente e até mude o seu estilo de vida. No entanto, Cunha reforça que trata-se de uma fase normal, necessária e passageira. Com o passar do tempo, é comum que o idoso volte às atividades comuns.
Mesmo assim, existem alguns sinais de alerta que podem não ser saudáveis e podem impactar a vida da pessoa enlutada. Cunha cita isolamento social, pouca participação e alterações bruscas de apetite e de peso, que podem indicar um quadro depressivo. “Se aquela pessoa que foi sempre ativa, fazia atividades físicas ou trabalho voluntário, por exemplo, de repente se isola e não quer conversar com ninguém, é algo para se preocupar”.
Também é importante se manter atento aos sentimentos expressados. Também são alertas se a pessoa falar demais sobre sentimentos de tristeza, demonstrar solidão e entrar novamente em negação (ou seja, falar sobre a pessoa falecida como se ela não tivesse falecido).
Como dar apoio para um idoso enlutado pelo cônjuge?
O pilar mais importante da rede de apoio desse idoso é estar presente. “É muito importante o diálogo, porque toda pessoa enlutada fica extremamente angustiada e quer falar”, afirma Cunha. Além disso, apoio emocional, respeitar cada fase do luto, não reprimir os sentimentos daquela pessoa e ter empatia são ações importantes.
“Às vezes o idoso pode ser um pouco repetitivo, falar sobre aquilo várias vezes, mas as pessoas têm que ter um pouco de paciência e consciência de que é um é um processo. É um momento e tudo aquilo vai passar.”
Cunha também aponta que é necessário proporcionar momentos de distração, como fazer atividades externas ou estimular o idoso dentro de casa, evitando que ele fique sozinho. Entre as atividades sugeridas pela psiquiatra estão conversar, passear em lugares abertos, ir ao shopping ou atividades físicas.
Se necessário for, é preciso encaminhar aquele idoso para um psiquiatra ou psicólogo para lidar com o luto. “O luto pode evoluir para uma depressão, um transtorno de ansiedade ou psicótico. Então, deve-se estar atento a todos os sinais e fazer o encaminhamento ao profissional especializado”, reforça a médica.
Alguns comportamentos devem ser evitados por quem está oferecendo apoio ao enlutado. O principal ato que se deve evitar são as fases prontas, que são muito comuns de serem ditas em momentos de nervosismo. Cunha pontua algumas que devem ficar de fora:
- “Nossa, eu jamais poderia aguentar o que você está passando”;
- “Eu não liguei porque achei que você queria ficar sozinho”;
- “Não fui ao hospital/velório porque eu detesto esses lugares”;
- “Pelo menos agora você vai ter sua própria vida”;
- “Deus nunca lhe proporciona mais o que você pode carregar”;
- “Seja forte”.
Por fim, é importante não fazer julgamentos, comparações ou críticas em momentos em que o idoso está chorando. “Isso é sempre muito ruim porque diminui a pessoa. Não ajuda em nada. “A pessoa precisa ser espontânea. O que importa é estar presente no momento da perda, ouvir empaticamente, oferecer apoio e ajudar a pessoa no dia a dia”, pontua a psiquiatra.