Isabel, venezuelana no Brasil há 6 anos: “Não somos do lugar em que estamos”
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Isabel, venezuelana no Brasil há 6 anos: “Não somos do lugar em que estamos”




Há anos a Venezuela passa por uma crise política e social, obrigando milhares de pessoas a procurar abrigo em outras nações. Como o Brasil é um país vizinho, muitos venezuelanos vieram para cá, a fim de reconstruir suas vidas. É o caso da engenheira Isabel, 36, que em 2015 mudou-se para Minas Gerais. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), atualmente, cerca de 264 mil venezuelanos vivem no Brasil.

Para Isabel, a parte mais difícil de ser imigrante é a saudade da família e do sentimento de pertencimento. “No caso da Venezuela, não é como outros países que você migra e os seus amigos e família ficam no seu país. Nossa família está toda espalhada pelo mundo, minha irmã mora na Europa, o meu cunhado no Chile, tenho primos, tios e amigos em diversos lugares do mundo. Nunca mais soubemos o que era ter a família toda reunida, perdemos esse direito”, diz.



Ela conta que já em 2012 a população sofria com apagões, escassez de alimentos, racionamento de água, entre outros problemas. A insegurança rondava e o medo era constante. pegar a estrada à noite, por exemplo, era impensável. “Eu morria de medo de ser assaltada ou sequestrada”, relata.  

Em 2013, após o falecimento de Hugo Chávez, presidente desde 1999, a esperança era de que o cenário mudasse. Mas isso não aconteceu quando seu vice-presidente, Nicolás Maduro, venceu as eleições. “O quadro foi só piorando, então eu e o meu marido conversamos e decidimos começar a planejar a nossa saída do país. Guardamos dinheiro, vendemos nossos pertences e avaliamos as opções”, conta. Tempos depois a engenheira recebeu uma proposta da empresa em que trabalhava e veio ao Brasil.

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Adaptação

Após 6 anos vivendo no Brasil, Isabel diz que nunca terá o sentimento de pertencer, comum quando estamos em nosso local de origem, mesmo que tenha se adaptado ao país, fale a língua perfeitamente e tenha feito amizades.

“Numa festa de casamento, por exemplo, quando tocam aquelas músicas mais antigas, rola uma histeria e todos se empolgam. Para nós é algo irrelevante, tentamos nos conectar, mas nunca sentiremos o mesmo”, explica. Em contradição, ela diz que é outra pessoa ao reencontrar a família e amigos venezuelanos, pessoas com quem partilha experiências e costumes. 


Diferenças culturais

Isabel diz que as diferenças culturais entre os países são grandes, a começar pelo estilo musical. Ela e o marido, caribenhos, gostam de salsa, merengue e reggaeton. Brasileiros, por outro lado, preferem sertanejo, samba, pagode e axé. “Eu e o meu marido adoramos dançar e nas festas viramos a atração de circo, porque aqui os homens raramente dançam”, explica. 

Hoje, Isabel tem um perfil no Instagram e um blog para falar sobre a Venezuela e mostrá-la além da crise. Lá, ela ensina sobre a sua cultura e seus costumes.  “Estão chegando muitos venezuelanos no Brasil e as pessoas não sabem nada sobre nós”, diz.

Ela conta que tenta ao máximo abraçar a cultura brasileira, sem deixar de lado suas raízes. “As pessoas que migram têm que ter a cabeça aberta para abraçar a cultura que te recebe, aprender sobre o país e conhecer sobre a sua história”, diz. Sobre voltar à sua terra natal, a engenheira não vê previsão de retorno.

“Não podemos dizer que não voltaremos nunca, porque se uma coisa aprendemos com a pandemia é que não existe nada certo nesta vida, tudo pode mudar em minutos. Por enquanto não enxergamos possibilidade de mudança do governo nem o fim da crise”, conta. 


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