“Ele achava que eu era posse dele”, diz mulher sobre sua relação com sugar daddy

Em entrevista ao iG Delas, Iasmin conta sobre sua experiência em um relacionamento "sugar" com um homem mais velho e casado

Foto: Pexels
Sugar baby conta porque não se deve romantizar sugar daddy


O termo  sugar daddy  costuma ser usado para se referir  a homens mais velhos , na faixa dos 35 a 60 anos, bem-sucedidos e que se relacionam com mulheres mais jovens. Nesses relacionamentos é comum que o homem dê presentes, viagens e sustente a sugar baby em troca de uma relação amorosa/sexual.

Nos últimos tempos, vários memes surgiram falando que era um sonho ter esse tipo de relação e a expressão sugar daddy foi parar nos trend topics do Twitter, na última quarta (06). 



A estudante de psicologia, Iasmin*, 20 anos, de Ponta Grossa, Paraná, foi uma das jovens mulheres que se interessaram em saber como esse tipo de relação funcionava. Contudo, a fantasia acabou se transformando em pesadelo , como conta em entrevista ao Delas. 


Uma ilusão 


Iasmin conta que aos 18 anos entrou em um site voltado para esse tipo de relacionamento. “As mulheres precisam passar por uma avaliação para entrar, porque o site só aceita mulher ‘bonitas’ e não pagam nada. Já os homens têm que pagar mais ou menos 500 reais por mês para ter acesso”, conta.

Neste site ela conheceu seu primeiro sugar daddy, um homem de 40 anos, com que costumava se encontrar uma vez por semana. Era algo casual, pois ele era casado e tinha uma família. “Tivemos um relacionamento de quatro meses. Nos víamos uma vez por semana e eu recebia os mimos, esse tipo de coisa. Eu terminei porque comecei a ter um relacionamento normal”, explica. 

Quando o relacionamento acabou, no meio do ano passado, a estudante decidiu passar o tempo em um aplicativo de encontros. Lá conheceu o empresário Victor*, de 53 anos. No começo a relação parecia maravilhosa, já que ele proporcionava tudo que a jovem precisava. 

“Eu viajava toda semana para Floripa, Balneário Camboriú, eu só ia para lugares caríssimos, ele me presenteava... Mas tinha um lado que ninguém sabia. Ele era uma pessoa extremamente insegura e possessiva. Quando a gente começou a sair já mandou eu desinstalar meu aplicativo. Eu estranhei mas achei que eram coisas aceitáveis no início, mas depois começou a ficar absurdo”, diz.



Abusos 


Iasmin viu que as coisas começaram a ficar estranhas, mas Victor sempre pedia desculpas e dizia que a amava muito. Após as brigas, a enchia de presentes e juras de amor. Até que em dezembro de 2020, durante uma viagem para a praia, ele a acordou aos berros dizendo que tinha lido todas as conversas do WhatsApp dela durante a madrugada. 

“Ele não queria que eu tivesse amigas, pois dizia que elas não tinham futuro. Passou o final de semana, superamos essa briga, mas no meio da semana eu percebi que meu WhatsApp estava logado no computador dele e eu percebi que não dava mais”, lembra. 

Além dos abusos psicológicos - com ele gritando dizendo que ela era mal vestida - e as crises de ciúmes, Iasmin conta que a relação também se tornou abusixa sexualmente. Um dia, após uma noite de bebedeira, Victor forçou relações sexuais com ela, mesmo ela desacordada. 

“Ele transou comigo sem a minha autorização e eu não lembro de nada. Isso é estupro. Nós terminamos porque ele estava sendo completamente abusivo, ele apareceu na frente da minha casa, pegou meu celular à força e disse que se eu pegasse ele iria jogar meu celular fora. Tive que deixar, eu não podia nem chegar perto pra ver o que ele tava fazendo”.

O empresário tentou mais uma vez reatar a relação, mas Iasmin foi firme e disse que iria pedir uma medida protetiva contra ele. Apesar de ainda estar frágil, ela se sente grata pelo apoio que vem recebendo. 

Foto: Mary Archangel
Iasmin foi abusada sexualmente pelo sugar daddy



“Eu achei que eu fosse sofrer mais, mas eu to com vontade de ajudar mulheres que estão na mesma situação e também ajudar parar com essa romantização que está tendo de relacionamento sugar. Eu tive mais de um sugar daddy, mas nem por isso que a relação foi ótima. Eles sempre me viam como objeto e como eles estavam me ‘pagando’ com as coisas, eu tinha que fazer as coisas”, afirma. 

A estudante ainda acrescenta que esses memes envolvendo o relacionamento sugar romantizam algo que não deveria ser romantizado. “ Não é um namoro, é um caso, não tem envolvimento. Você tem momentos juntos e só, vai tem um caso com essa pessoa e mesmo não sendo um namoro, o homem vai te cobrar como se como se fosse. A maioria dos daddies não tem só uma sugar baby e eles têm medo das meninas também terem vários. Eles querem que você dependa só deles. Ele achava que eu era posse dele”, diz. 

Após dois sugar daddies, Iasmin diz que aprendeu com erros e nunca mais quer passar por isso. Ela alerta outras mulheres a não passarem pelo mesmo.

“Eu era nova e não sabia de nada. Você está ficando com alguém mais velho e com mais dinheiro, então a pessoa acha que controla sua vida, você fica à mercê daquilo. Não é só as viagens e os bens materiais, eu não recomendaria, porque não vai ter uma viagem ou uma bolsa que vai valer minha dignidade. O que eu passei, eu preferia mil vezes ter ficado sem nada”, encerra.

*O sobrenome foi omitido e o nome do empresário foi alterado a pedido da entrevistada.