Dira Paes ouve a pergunta “tudo bem?”, mas, de forma bem-humorada, trata logo de corrigi-la. “Agora é: ‘Como você está’, né? E ainda tem a resposta clássica: ‘Na medida do possível’”. Mas a atriz vai bem, sim, apesar da pandemia que alterou (para alguns muito mais, outros menos) a vida de todo o planeta.
Em 2020, ela tem uma lista de acontecimentos para celebrar, a começar pelos 35 anos de carreira. Estreou, em 1985, com a produção cinematográfica britânica "Floresta das Esmeraldas", filmada quando era ainda adolescente. De lá para cá, foram mais de 15 obras na TV, 43 filmes (entre curtas, longas e dublagens) e seis peças teatrais. “Até eu me impressiono. É muito tempo”, diz a Dira Paes , de 52 anos. “Não foi e nem é fácil, é preciso persistir e tem que ser muito apaixonada pelo que faz.”
A pandemia trouxe a oportunidade de revisitar um dos personagens que mais marcou a sua carreira e que incrementou o realismo de seu vasto currículo: Celeste, uma sobrevivente da violência doméstica , da novela “Fina estampa”, cuja reprise terminou em setembro.
A saga da mulher agredida pelo marido marcou o país em 2011, na primeira exibição, e fez ainda mais sentido de ser discutida novamente. Dira acredita que hoje boa parte da audiência sabe um pouco mais sobre os diversos tipos de abusos e consegue entender melhor a situação.
“Agora, estamos começando a verbalizar com mais consciência. Sabemos o que é uma relação abusiva, temos na boca essas palavras. Em 2011, não tínhamos".
O assédio
, recorrente também no trabalho, já foi experimentado por Dira e enfrentado de forma involuntária. “Tive experiências desagradáveis com diretores, assédios verbais, mas me defendi todas as vezes, instintivamente. Indo embora na hora, por exemplo. A violência nunca me travou. Ainda bem. Já aconteceu de estar voltando da escola, e um homem meter a mão em mim. Consegui virar o braço, e ele saiu correndo".
A atriz acredita que o próprio ambiente artístico também está mudando e limites estão sendo redemarcados. “Não tem mais tanto espaço para ego, para mau humor. Se você errou, peça desculpas, se possível, imediatamente. Estamos errando e aprendendo. Falo com muita gente como se tivesse conversando com o meu filho de 5 anos, ensinando o beabá. O princípio da cidadania, de não fazer com o outro o que não quer que façam com você, é uma coisa que já devia estar clara”.