Luiza Brunet: "Agressor só é preso quando mata. Se quebra costelas, fica livre"

No aniversário da Lei Maria da Penha, o iG Delas conversou com a atriz que se tornou ativista contra a violência doméstica após ser agredida. Ela afirma que faltam delegacias e casas de acolhimento para vítimas

Em 2016, a empresária, modelo e atriz Luiza Brunet veio a público com quatro costelas quebradas e um olho roxo para denunciar a violência doméstica que sofreu . Hoje, quatro anos depois do crime, seu agressor está solto -- apesar de ter sido condenado a um ano de detenção . No 14º aniversário da Lei Maria da Penha, dia 7 de agosto, Luiza diz, nesta entrevista ao Delas, que a justiça ainda é muito lenta e as punicões, brandas.

Luiza Brunet foi vítima de violência doméstica em 2016
Foto: Reprodução/Instagram
Luiza Brunet foi vítima de violência doméstica em 2016

"O que me deixa angustiada é que a única forma de o homem agressor ser preso é quando a mulher é morta. O cara pode quebrar quatro costelas, como foi o meu caso, deixar marcas físicas e ficar livre."

A Lei Maria da Penha é reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a terceira melhor lei do mundo no combate à violência doméstica, ficando atrás da Espanha e do Chile. Luiza concorda, mas acredita que ainda há muito a ser feito. "Falta investimento público na lei. Não há delegacias suficientes em muitos municípios, comunidades e periferias. Faltam casas de apoio à mulher, onde ela possa ficar com os filhos até se sentir segura."




Maioria das mulheres não denuncia agressões

De acordo com o levantamento "Violência Contra as Mulheres", de 2019, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 52% das mulheres não denunciam agressões. Luiza defende que é fundamental mudar esse quadro. "Para mim, não sanou a dor. Mas a punição do agressor é importante, porque é quando a justiça reconhece que você realmente foi vítima de uma violência.”

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Luiza entende, porém, que é difícil enfrentar o julgamento público, que, frequentemente, ainda culpa a vítima pela agressão -- mas não tem dúvidas de que valeu a pena. "Tive que ser muito forte para enfrentar tudo isso e não cair em depressão. Contar essa história dá força para outras mulheres denunciarem os abusos que sofrem."

“Mulheres ainda não entenderam a gravidade do problema”

O machismo estrutural dificulta a união das mulheres, segundo Luiza, o que contribui para números tão elevados de violências não notificadas e, consequentemente, mais vítimas e mais feminicídios. "As mulheres ainda não entenderam a gravidade do problema que a gente vive", afirma.

"Se nós não pararmos de competir e começarmos a pensar em prol das nossas filhas e netas, não vamos chegar a lugar nenhum. A força que eu conquistei foi do sofrimento, da vergonha e da indignação com o que eu ouvia a meu respeito. Decidi lutar contra isso e sofri muito na época. Não é fácil para uma mulher sair do ciclo da violência e enfrentar a justiça e os julgamentos o tempo inteiro."

Foto: Arquivo pessoal
Luiza Brunet fala sobre a importância de contar sua história para dar força a outras mulheres

“Minha avó e minha mãe sofreram. Eu sofri. Quem vem agora?”

É comum a violência doméstica se repetir através das gerações. Luiza sabe disso. "Eu falo com propriedade. Minha mãe viveu isso, minha avó viveu. Três gerações sofreram." Mas ela não teme que a história se repita com a filha, a modelo e atriz Yasmin Brunet. “Interromper o ciclo de violência foi fundamental justamente por isso. Eu pensava: 'Não é possível. Minha avó e minha mãe sofreram. Eu sofri. Quem vem agora? Minha filha? A neta que eu vou ter?'."

Ela acredita que os filhos estão preparados para lidar com o problema, caso se deparem com ele, já que têm o exemplo de uma mãe que denunciou seu agressor. "A gente precisa educar. E educar é isso. Infelizmente, a violência é aprendida quando se vive em lares violentos. Esse comportamento vai sendo incorporado. Precisamos romper esses padrões."

Como denunciar

Para denunciar casos de violência doméstica, busque Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (DEAM), Defensoria Pública do estado ou delegacias comuns. Também é possível fazer um Boletim de Ocorrência online na Delegacia Eletrônia ou ligar para os números:

  • Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (180)
  • Polícia Militar (190)

Além disso, existem organizações e projetos especializados em atendimento de mulheres vítimas de violência, como o Mulheres de Lótus, onde Luiza Brunet é madrinha.