Não foram poucos os casos de assédio na Copa da Rússia. Segundo a Fifa, 45 denúncias formais por assédio e sexismo foram registradas até agora, sendo 30 de torcedoras e 15 de jornalistas, incluindo a correspondente do iG, Barbara Gerneza .
Para combater as atitudes criminosas, a Fifa pediu para emissoras de televisão evitarem a exibição de imagens que mostram “torcedoras atraentes” nos estádios. A medida é considerada válida para algumas pessoas, já que o número de casos de assédio na Copa são assustadores. Outros, no entanto, acreditam que a decisão da entidade não faz sentido, pois não é pela exposição que isso acontece.
Segundo a advogada Marina Ruzzi, do escritório de advocacia especializado em direito das mulheres e desigualdade de gênero Braga & Ruzzi, a medida parece colocar o problema “embaixo do tapete” porque todos precisam entender, de uma vez por todas, que os estádios são ocupados por homens e mulheres e vão continuar sendo.
“Eu entendo e acho legítimo o esforço da Fifa em querer controlar essa exposição porque o corpo das mulheres que estão nos estádios não devem ser sexualizados, mas deixar de mostrar que elas estão lá é um absurdo”, avalia a advogada.
Acostumada a trabalhar com processos relacionados ao tema, Marina acredita que esses casos vieram à tona por conta da visibilidade da Copa do Mundo, porém são mais comuns do que imaginamos e todas as mulheres deveriam denunciar os assediadores.
“Muitas vezes, o assédio é tão silencioso que nem quem está do lado percebe. O que mais chega para a gente, no escritório, são casos que aconteceram em espaços privados, mas isso não quer dizer que aconteça mais ali, e sim que nos espaços públicos as mulheres acham que não tem o que fazer e ficam quietas ”, revela.
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O que alivia a profissional, porém, é saber que a mentalidade de muitas mulheres está mudando quando o assunto é a importância de denunciar e, principalmente, entender que a culpa nunca é da vítima. “Ainda é difícil o sexo feminino entender que determinada situação não poderia ser evitada, mas vejo que depois de tantas campanhas estamos sendo mais intolerantes com o assédio”, valoriza.
Após casos de assédio na Copa repercutirem, Corinthians faz ação
Em uma ação para combater o machismo no futebol , a Arena Corinthians recebeu cerca de 15 mil mulheres no amistoso contra o Cruzeiro, na quarta-feira (11). Para ver a partida de perto, as moças não pagaram para entrar no estádio e ainda fizeram a festa em Itaquera.
A estudante de enfermagem Vitória Albertoni Belmonte, de 22 anos, é sócia do clube alvinegro e é uma das tantas mulheres que estavam presentes no jogo do timão. Segundo ela, a ideia é efetiva no combate ao assédio nos estádios e poderia ser implantada até mesmo em outros clubes.
Na ocasião, com seus gritos agudos, a mulherada mostrou que também pode torcer e esse tipo de ação foi muito valorizada. “Foi uma experiência fantástica. Percebi que muitas mulheres nunca tinham ido ao estádio por medo”, conta a jovem, ao afirmar que se sentiu mais “protegida” ao saber que estava acompanhada por outras pessoas do sexo feminino, mesmo sem conhecer as outras corintianas.
“Muitos homens não se importam com o fato de outras pessoas estarem olhando enquanto assediam, mas sinto uma tranquilidade maior quando estou acompanhada e com outras mulheres”, afirma. Assim como Marina, a jovem problematiza o pedido da Fifa , que recomenda que as emissoras de televisão evitem a exposição de mulheres atraentes, e diz que o conceito de beleza é relativo.
“Não acredito que a culpa do assédio esteja nas mulheres, e sim na educação dada aos homens que a praticam”, explica. Vitória diz que vira e mexe é aconselhada a não ir ao estádio sozinha, pelo simples fato de ser mulher e isso precisa acabar.
“Alguns me chamam de doida e os meus pais ficam preocupados sempre que vou. Não sei se isso é caracterizado como assédio, mas teve uma vez que uns caras ficaram olhando para mim enquanto conversavam entre eles, durante o jogo”, conta a moça, que além de se sentir constrangida com a situação, lamenta os casos de assédio na Copa . “ As mulheres precisam denunciar , gritar, pedir ajuda na hora do ocorrido, assim a chance de o assediador ser punido é maior”, completa a advogada Marina.