Secreção vaginal é sempre ruim? Entenda a diferença entre muco e corrimento
Aquele líquido que fica na calcinha nem sempre quer dizer que há algo de errado com sua vagina, pode ser um simples sinal de que logo vai descer
Por Gabriela Brito |
Basta a primeira menstruação para um novo mundo surgir na vida das mulheres: o das secreções. Diferentemente do que muitas podem pensar, nem todo liquidozinho que sai da vagina significa algo ruim. Na verdade, o muco é uma secreção boa, que faz parte da nossa vida na fase reprodutiva, enquanto o problema está nos corrimentos.
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A ginecologista Bárbara Murayama, coordenadora da ginecologia do Hospital 9 de Julho, explica em entrevista ao Delas que a vida da mulher está dividida em três fases. A primeira é a da infância, em que geralmente não há muita secreção porque há pouca estimulação hormonal e a vagina fica mais sequinha. A terceira é a pós-menopausa, onde também há queda hormonal e mais secura.
É na segunda fase, a reprodutiva, em que as secreções aparecem de fato. O líquido vai variar de acordo com fatores que interfiram nos hormônios da mulher. Se ela não usa nenhum método anticoncepcional hormonal, é o próprio período menstrual que vai indicar a tonalidade, textura e quantidade de muco.
Período Menstrual
Bárbara conta que o objetivo do muco é facilitar a entrada do espermatozóide no organismo da mulher. “Ele parece como uma clara de ovo, em geral branquinho e claro, sendo mais intenso antes da menstruação e, depois, menos intenso. É formado por água, proteína e algumas outras células, se misturando também com o suor.”
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A secreção normal não coça e não tem cheiro ruim, mas pode ficar amarelada após um dia todo usando a mesma calcinha. É importante saber que a cor pode variar porque o muco pode reagir em contato com o meio ambiente.
Já quando a mulher usa anticoncepcional, o muco acaba tendo alterações, podendo ficar mais espesso. A ideia da pílula é tornar o ambiente hostil ao espermatozóide, então faz sentido que mude isto.
Problemas
A mulher precisa ficar atenta quando, junto com a calcinha molhada, começam a surgir dores, cheiro forte, incômodo, irritação local, coceira, vontade alterada de fazer xixi ou até dor ao urinar – podendo se confundir com uma infecção urinária.
“Uma visita anual ao ginecologista é suficiente para o acompanhamento médico, mas, se há sintomas, é preciso procurar ajuda o mais rápido possível”, aconselha a ginecologista. Estes sinais podem indicar diversas doenças que estão causando corrimento e não muco, que é fabricado naturalmente.
Corrimento esverdeado
Pode indicar candidíase quando acompanhado de coceira, dor para urinar, dor nas relações sexuais, inchaço e vermelhidão na região. Algumas mulheres com a doença, entretanto, também podem ter corrimento branco ou aquoso ou até mesmo não ter secreção anormal.
Quando, além de esverdeado, é também espumoso, talvez seja o caso da tricomoníase, uma infecção causada por um microorganismo e que pode ser transmitida sexualmente. A doença também causa cheiro ruim, coceira, queimação ou dor ao urinar e dor nas relações sexuais.
Corrimento branco
Pode indicar candidíase quando acompanhado de coceira, dor para urinar, dor nas relações sexuais, inchaço e vermelhidão na região. Algumas mulheres com a doença, entretanto, também podem ter corrimento esverdeado ou aquoso ou até mesmo não ter nada.
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Corrimento esbranquiçado/ cinza
A mulher pode estar com vaginose bacteriana, causa muito comum de corrimento. Há casos em que a paciente apresenta odor forte, do tipo “cheiro de peixe” – principalmente após a menstruação –, algumas apresentam o corrimento, outras coceira, mas a maioria não apresenta sintomas.
Corrimento purulento
A gonorreia pode causar corrimento purulento ou nenhuma secreção, já que pode afetar mais os órgão internos da mulher. O problema também pode gerar dores.
Corrimento crônico
Se a pessoa tem o hábito de usar preservativo e está tendo um corrimento que não para, pode ser que ela tenha alergia ao látex. É interessante tentar trocar a marca e ver se o problema não melhora.
O que falar para o médico?
Caso a mulher esteja notando qualquer um dos sintomas acima ou alguma alteração nas suas secreções, é preciso procurar um médico. Segundo Bárbara, o especialista vai querer saber as características do líquido que está saindo na calcinha, se a região está coçando, quando começou e se há dores ou uso de anticoncepcional, se a pessoa costuma fazer ducha vaginal – algo que não é recomendado –, se está passando por um momento de estresse ou se foi à praia recentemente.
A mulher também precisa saber qual foi a data da última menstruação. Outras informações importantes são sobre as últimas relações sexuais que ocorreram antes dos sintomas começarem e se a pessoa fez uso de camisinha.
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“Além disso tudo, é preciso saber que o médico vai precisar examinar. Só pela calcinha ou relatos não é possível diagnosticar o problema. É preciso analisar a região, o corrimento e fazer o exame do toque para certificar que não há um problema nos órgão mais internos.”
A ginecologista alerta que é preciso sempre procurar um médico e nunca se automedicar. Algumas mulheres acabam tomando medicamentos ou usando pomadas que foram receitadas em outras ocasiões e acabam chegando ao consultório com uma condição que já não dá mais para ser diagnosticada. O melhor é marcar com um ginecologista antes de fazer qualquer coisa, mas, se a situação está muito ruim, procurar um pronto atendimento que tenha o especialista na saúde da mulher.
Corro risco de alguma DST?
Segundo o “Manual de Bolso Controle Das Doenças Sexualmente Transmissíveis” do Ministério da Saúde, correm risco de doenças sexualmente transmissíveis mulheres com corrimento e cujos parceiros apresentam os sintomas, aquelas com múltiplos parceiros e que não se protegem na hora do sexo e que acreditam ter sido exposta a alguma DST.
Como evitar o corrimento?
Alguns produtos podem até parecer benéficos para o dia a dia da mulher, mas, na verdade, podem se transformar em verdadeiros causadores de pesadelos. Aquele pequeno absorvente diário que pode te ajudar a não sujar a calcinha pode acabar abafando a região íntima, deixando-a mais úmida e quente, um ambiente favorável para fungos.
Segundo Bárbara, o melhor é usar apenas calcinhas não sintéticas. Aquelas de algodão são as mais comuns, mas já existem outros matérias que fogem do sintético. É interessante também evitar usar calças e shorts muito justos por muito tempo. Ficar com biquinis e maiôs molhados por muito tempo são outros exemplos de coisas que não devem ser feitas.
Além do látex da camisinha, que pode causar alergia, lubrificantes que não sejam a base de água são produtos que também podem gerar reações não desejadas. “Cada ingrediente vai aumentar o risco de alergia, já que é uma região muito sensível”, explica a especialista.
Por fim, cuidados básicos com a saúde, como se alimentar bem, praticar atividade física, equilibrar o estresse e ter uma boa noite de sono mantém a imunidade alta, evitando problemas como o corrimento. Quando isso acontece, a secreção só vai mesmo é te indicar como anda o seu ciclo menstrual.