Basta a primeira menstruação para um novo mundo surgir na vida das mulheres: o das secreções. Diferentemente do que muitas podem pensar, nem todo liquidozinho que sai da vagina significa algo ruim. Na verdade, o muco é uma secreção boa, que faz parte da nossa vida na fase reprodutiva, enquanto o problema está nos corrimentos.
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A ginecologista Bárbara Murayama, coordenadora da ginecologia do Hospital 9 de Julho, explica em entrevista ao Delas que a vida da mulher está dividida em três fases. A primeira é a da infância, em que geralmente não há muita secreção porque há pouca estimulação hormonal e a vagina fica mais sequinha. A terceira é a pós-menopausa, onde também há queda hormonal e mais secura.
É na segunda fase, a reprodutiva, em que as secreções aparecem de fato. O líquido vai variar de acordo com fatores que interfiram nos hormônios da mulher. Se ela não usa nenhum método anticoncepcional hormonal, é o próprio período menstrual que vai indicar a tonalidade, textura e quantidade de muco.
Período Menstrual
Bárbara conta que o objetivo do muco é facilitar a entrada do espermatozóide no organismo da mulher. “Ele parece como uma clara de ovo, em geral branquinho e claro, sendo mais intenso antes da menstruação e, depois, menos intenso. É formado por água, proteína e algumas outras células, se misturando também com o suor.”
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A secreção normal não coça e não tem cheiro ruim, mas pode ficar amarelada após um dia todo usando a mesma calcinha. É importante saber que a cor pode variar porque o muco pode reagir em contato com o meio ambiente.
Já quando a mulher usa anticoncepcional, o muco acaba tendo alterações, podendo ficar mais espesso. A ideia da pílula é tornar o ambiente hostil ao espermatozóide, então faz sentido que mude isto.
Problemas
A mulher precisa ficar atenta quando, junto com a calcinha molhada, começam a surgir dores, cheiro forte, incômodo, irritação local, coceira, vontade alterada de fazer xixi ou até dor ao urinar – podendo se confundir com uma infecção urinária.
“Uma visita anual ao ginecologista é suficiente para o acompanhamento médico, mas, se há sintomas, é preciso procurar ajuda o mais rápido possível”, aconselha a ginecologista. Estes sinais podem indicar diversas doenças que estão causando corrimento e não muco, que é fabricado naturalmente.
Corrimento esverdeado
Pode indicar candidíase quando acompanhado de coceira, dor para urinar, dor nas relações sexuais, inchaço e vermelhidão na região. Algumas mulheres com a doença, entretanto, também podem ter corrimento branco ou aquoso ou até mesmo não ter secreção anormal.
Quando, além de esverdeado, é também espumoso, talvez seja o caso da tricomoníase, uma infecção causada por um microorganismo e que pode ser transmitida sexualmente. A doença também causa cheiro ruim, coceira, queimação ou dor ao urinar e dor nas relações sexuais.
Corrimento branco
Pode indicar candidíase quando acompanhado de coceira, dor para urinar, dor nas relações sexuais, inchaço e vermelhidão na região. Algumas mulheres com a doença, entretanto, também podem ter corrimento esverdeado ou aquoso ou até mesmo não ter nada.
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Corrimento esbranquiçado/ cinza
A mulher pode estar com vaginose bacteriana, causa muito comum de corrimento. Há casos em que a paciente apresenta odor forte, do tipo “cheiro de peixe” – principalmente após a menstruação –, algumas apresentam o corrimento, outras coceira, mas a maioria não apresenta sintomas.
Corrimento purulento
A gonorreia pode causar corrimento purulento ou nenhuma secreção, já que pode afetar mais os órgão internos da mulher. O problema também pode gerar dores.
Corrimento crônico
Se a pessoa tem o hábito de usar preservativo e está tendo um corrimento que não para, pode ser que ela tenha alergia ao látex. É interessante tentar trocar a marca e ver se o problema não melhora.
O que falar para o médico?
Caso a mulher esteja notando qualquer um dos sintomas acima ou alguma alteração nas suas secreções, é preciso procurar um médico. Segundo Bárbara, o especialista vai querer saber as características do líquido que está saindo na calcinha, se a região está coçando, quando começou e se há dores ou uso de anticoncepcional, se a pessoa costuma fazer ducha vaginal – algo que não é recomendado –, se está passando por um momento de estresse ou se foi à praia recentemente.
A mulher também precisa saber qual foi a data da última menstruação. Outras informações importantes são sobre as últimas relações sexuais que ocorreram antes dos sintomas começarem e se a pessoa fez uso de camisinha.
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“Além disso tudo, é preciso saber que o médico vai precisar examinar. Só pela calcinha ou relatos não é possível diagnosticar o problema. É preciso analisar a região, o corrimento e fazer o exame do toque para certificar que não há um problema nos órgão mais internos.”
A ginecologista alerta que é preciso sempre procurar um médico e nunca se automedicar. Algumas mulheres acabam tomando medicamentos ou usando pomadas que foram receitadas em outras ocasiões e acabam chegando ao consultório com uma condição que já não dá mais para ser diagnosticada. O melhor é marcar com um ginecologista antes de fazer qualquer coisa, mas, se a situação está muito ruim, procurar um pronto atendimento que tenha o especialista na saúde da mulher.
Corro risco de alguma DST?
Segundo o “Manual de Bolso Controle Das Doenças Sexualmente Transmissíveis” do Ministério da Saúde, correm risco de doenças sexualmente transmissíveis mulheres com corrimento e cujos parceiros apresentam os sintomas, aquelas com múltiplos parceiros e que não se protegem na hora do sexo e que acreditam ter sido exposta a alguma DST.
Como evitar o corrimento?
Alguns produtos podem até parecer benéficos para o dia a dia da mulher, mas, na verdade, podem se transformar em verdadeiros causadores de pesadelos. Aquele pequeno absorvente diário que pode te ajudar a não sujar a calcinha pode acabar abafando a região íntima, deixando-a mais úmida e quente, um ambiente favorável para fungos.
Segundo Bárbara, o melhor é usar apenas calcinhas não sintéticas. Aquelas de algodão são as mais comuns, mas já existem outros matérias que fogem do sintético. É interessante também evitar usar calças e shorts muito justos por muito tempo. Ficar com biquinis e maiôs molhados por muito tempo são outros exemplos de coisas que não devem ser feitas.
Além do látex da camisinha, que pode causar alergia, lubrificantes que não sejam a base de água são produtos que também podem gerar reações não desejadas. “Cada ingrediente vai aumentar o risco de alergia, já que é uma região muito sensível”, explica a especialista.
Por fim, cuidados básicos com a saúde, como se alimentar bem, praticar atividade física, equilibrar o estresse e ter uma boa noite de sono mantém a imunidade alta, evitando problemas como o corrimento. Quando isso acontece, a secreção só vai mesmo é te indicar como anda o seu ciclo menstrual.