No sábado (21), a modelo e apresentadora Ana Hickmann sofreu um atentado no hotel em que estava hospedada em Belo Horizonte.

Ana Hickmann chora ao relembrar atentado em Belo Horizonte
Reprodução/Rede Record
Ana Hickmann chora ao relembrar atentado em Belo Horizonte

Rodrigo Augusto de Pádua, de 30 anos, rendeu o cunhado da apresentadora e entrou no quarto dela. Lá, disparou tiros que atingiram a assessora de Ana Hickmann. O cunhado da apresentadora, que é marido da assessora, entrou em luta corporal com o homem e deu dois tiros que acabaram matando o homem.

Rodrigo foi apontado como fã da apresentadora e mostrava sua obsessão por ela em um perfil no Instagram.

Delírio
Psiquiatras contatados pelo Delas concordam que, pelo comportamento de Rodrigo, ele não estava com os juízos da realidade preservados, e deveria estar em um pensamento delirante.

“O delírio é um sintoma cerebral que vem de uma parte do cérebro que não capta a realidade da forma que ela é”, explica o psiquiatra Diego Tavares.

No delírio, o indivíduo acredita em uma realidade que não é a verdadeira. “Essas ideias não são passíveis de argumentação”, afirma Diego, ou seja, não adianta dizer para um sujeito delirante que o que ele está vendo não é verdade: ele terá explicações delirantes para o caso.

De acordo com entrevista dada por Ana Hickmann  após o atentado, o homem disse, enquanto a ameaçava, que a apresentadora tinha correspondido durante muito tempo ao amor dele, mas que de repente parou. Os psiquiatras afirmam que, no delírio, as pessoas enxergam sinais para corroborar sua versão da realidade.

“A pessoa acha que está recebendo sinais, o sujeito interpreta de uma maneira delirante que o que a pessoa faz é um sinal”, diz o também psiquiatra Daniel Sócrates.

Além de delírio, a pessoa pode apresentar ccomportamento obsessivo, de acordo com Diego: “Ele pode ficar pensando muito, com ideias fixas, ninguém tira dele aquela ideia e ninguém muda a opinião dele. Ele se sente o dono da verdade.”

Transtornos psicótico
Rodrigo está sendo apontado como um fã ou alguém que admirava a apresentadora. Segundo os profissionais, essas designações estão erradas. “Está sendo usando o termo fã e fanático, mas é uma doença do grupo das psicoses, da mesma família da esquizofrenia”, esclarece Daniel

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Rodrigo Augusto de Pádua, de 30 anos, se dizia "fã" de Ana Hickmann e fazia declarações de amor nas redes sociais

Ambos os psiquiatras acreditam que Rodrigo tinha um tipo de transtorno psicótico. E tais transtornos causam delírio e também alucinações - quando o sujeito escuta vozes - que podem ser crônicos ou até induzidos pelo consumo de drogas. 

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Erotomania

Para Daniel, o quadro do atirador é típico de um transtorno chamado erotomania. Isso acontece entre pessoas de diferentes classes sociais ou quando há uma relação de poder. O médico cita que a descoberta deste transtorno se deu na relação entre paciente e médico, mas pode também ocorrer entre anônimos e celebridades, como no caso de Rodrigo.

Na erotomania, o sujeito cria sentimentos por alguém de uma classe social acima da sua ou que represente uma relação de poder. Era o que acontecia no caso de um paciente com seu médico. Ou como Rodrigo poderia ver Ana Hickmann, como alguém superior. 

O indivíduo nutre sentimentos por essa pessoa, mas não é correspondido. Em delírio, ele vê que algo ou alguém proibe sua relação. “Começa mandando flor, cartão, e-mail e isso vai aumentando. Cada ausência de resposta ou sinal gera frustração, que vira raiva”, descreve Daniel. A raiva se torna violência e pode ser direcionado para o alvo da “paixão” ou para quem, supostamente, estaria impedindo a relação.

Bipolaridade ou esquizofrenia
Diego, por sua vez, afirma que é difícil fazer um diagnóstico sem conhecer o passado do indivíduo, mas pelos casos de delírio, ele acredita que autor do atentado possa ser esquizofrênico ou bipolar.

“A diferença entre o esquizofrênico e o bipolar é que o bipolar é como a gente: pode trabalhar, estudar, ter relações sociais normais, mas tem períodos em que o cérebro altera e ele pode ficar delirante”, explica Diego. Já o esquizofrênico, segundo o médico, não tem esses períodos de sociabilidade. 

De acordo com o especialista, o bipolar tem afetividade muito exacerbada, o que faz que um sentimento de admiração de fã vire uma paixão exagerada.

Psicopatia e obsessão
Há mais uma explicação para o caso. O psicólogo Jacob Pinheiro Goldberg acredita que o caso de Rodrigo é de obsessão projetiva: “O indivíduo idealiza um modelo para complementar sua vida e ele vai exigindo dessa pessoa respostas capazes disso.”

Para ele, o “fã” pegava detalhes da apresentadora para montar um quebra-cabeça da mulher ideal, mas as frustrações acabavam o desmontando e acabando com o ideal de pessoa que ele tinha imaginado. “A partir daí, se passa a ter uma necessidade, conhecida como antropofágica, de devorar essa pessoa através do assassinato.”

“Ele é um psicopata que tentou se considerar através da fama dela”, diz Jacob.

A psicopatia, de acordo com Diego, “é um transtorno de personalidade, não alteração no cérebro”. “É um jeito de se constituir que não é saudável”, explica Diego, que aponta a falta de empatia e de sensibilidade como as características principais do psicopata: “Ele [o psicopata] produz comportamentos em que desconsidera o outro ser humano. Ele vai em busca dos objetivos sem ligar para os outros. Ele pode matar uma pessoa para conseguir um emprego ou um amor”. Mas o psiquiatra alerta que eles geralmente são mais frios e calculistas, menos impulsivos que os psicóticos.

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