Vitor Augusto Marcos de Oliveira sofreu três paradas cardíacas e foi atendido pelos socorristas do Samu dentro da ambulância, mas não resistiu
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Vitor Augusto Marcos de Oliveira sofreu três paradas cardíacas e foi atendido pelos socorristas do Samu dentro da ambulância, mas não resistiu

Foi só a notícia da morte de Vitor Augusto Marcos de Oliveira, um jovem gordo de 25 anos de idade, estampar os noticiários do país, na manhã desta sexta-feira (6), que os comentários absurdos e preconceituosos não param de surgir nas redes sociais. Muita gente culpa o rapaz pela própria morte, e o seu peso passou a ser alvo de críticas. A questão é que ele nem teve a chance de lutar. Onde estava o estado, que precisa assegurar o direito de todos à saúde? Onde estavam os que tanto dizem se preocupar com a saúde das pessoas gordas?

O autônomo morreu nesta quinta-feira (5), em frente ao Hospital Geral de Taipas, na zona norte de São Paulo (SP), enquanto aguardava uma maca grande, adequada para pessoas gordas. Ele foi até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Perus após sentir dores na perna. Com a piora do estado de saúde, foi transferido para o Hospital Geral de Vila Nova Cachoeirinha, do estado, para receber atendimento médico especializado. Na unidade hospitalar, no entanto, teve o socorro recusado por falta de maca para seu tamanho.

Vitor foi encaminhada para o Hospital Geral de Taipas, onde teve o atendimento recusado mais uma vez e morreu na ambulância, na porta da unidade hospitalar, após horas de espera. Ele sofreu três paradas cardíacas e foi atendido pelos socorristas do Samu dentro da ambulância, mas não resistiu.

A mãe do jovem, Andréia Marcos da Silva, apareceu em um vídeo ao vivo, nas redes sociais, em frente ao Hospital Geral Vila Nova Cachoeirinha, horas antes da morte. Em desespero, ela pediu atenção das autoridades para que o filho fosse socorrido. O vídeo foi publicado pela esposa de Vitor, Thauany Xavier. 

Andréia Marcos da Silva fez apelo na frente de hospital; veja abaixo
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Andréia Marcos da Silva fez apelo na frente de hospital; veja abaixo

“Meu filho vai morrer dentro da ambulância? Eu quero só o direito do meu filho. Uma vaga pra ele lutar pela vida. Tem que virar lei. Todo hospital tem que ter suporte pra obeso”, diz Andréia no vídeo, com 7 minutos, e mostra a ambulância estacionada em uma área do Vila Nova Cachoeirinha.

Pois é, Dona Andreia. Seu filho não teve nem a possibilidade de lutar pela vida. Os que tanto dizem que as pessoas gordas "romantizam a obesidade” realmente não entendem nada. Não fazem ideia do que estão falando. É sobre respeito, acessos e direitos negados diariamente. A própria área da saúde trata com violência os corpos dissidentes. 

Todos deveriam culpar os hospitais e o estado por não oferecerem atendimento adequado ao rapaz - e não ficar falando sobre o peso dele. Independente de biotipo, raça, gênero, condições preexistentes ou não: saúde é direito de todos.

Os que falam em “romantização da obesidade” muitas vezes têm hábitos questionáveis - e até piores - do que muita gente gorda. Abusam do álcool, de anabolizantes, usam remédios não receitados, comem bastante fast food, não praticam exercícios físicos… e depois julgam as pessoas gordas pelo peso - sem sequer saber nada!

Ninguém deveria julgar Vitor. Todos os que destilam ódio nas redes sociais não sabem como era a vida dele. Não fazem ideia de como eram seus hábitos, condição social, quais acessos ele tinha, etc.

Não importa se a pessoa pesa 40 kg, 100 kg ou 190 kg, como era o caso de Vitor: é dever dos hospitais atendê-la! O estado e as instituições de saúde privadas precisam garantir atendimento para todos. Onde estão os que tanto dizem se preocupar com a nossa saúde nessas horas?

Como a pessoa gorda vai cuidar da saúde dela se não existe nem uma maca que a caiba?! O buraco é muito mais embaixo… Parem de culpar o rapaz por sua própria morte! É urgente um debate sério sobre políticas públicas que envolva toda a sociedade. Gordofobia mata. Até quando vão nos matar?!

Enterro
Na tarde desta sexta-feira (6), Andreia relatou que enfrenta dificuldades na condução do velório. “Nenhuma autoridade me procurou. Toda ajuda que recebemos foi de parentes e amigos. Agora o IML [Instituto Médico Legal] disse que precisa de 12 a 15 pessoas para carregar meu filho. Só quero receber meu filho”, apelou por telefone à Agência Brasil.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde disse que “instaurou uma sindicância para investigar o caso de forma rigorosa”. O órgão destaca que os responsáveis, diante das irregularidades, serão penalizados com as medidas cabíveis.

O texto informa ainda que as duas unidades de saúde citadas dispõem de mobiliário para o atendimento de pacientes com comorbidades, incluindo obesidade. “A pasta se solidariza com a família, dará todo suporte necessário e segue à disposição para mais informações”, diz a nota.

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