Heitor Werneck, colunista do iG Delas, explica como surgiu e como se manifesta a fantasia sexual em que quanto mais pelos, melhor!

Já ouviu falar em um fetiche envolvendo... Fofura ? Sim, ele existe e se chama “furry” – ou peludo se você preferir traduzir, mas todo mundo usa o termo em inglês. Quem curte "furry" ama sentir a textura, o cheiro, o calor, enfim, todos os estímulos que vêm das roupas e dos acessórios peludos. Fetiche da fofura, mesmo! É dessa maciez toda que vem seu apelo sensual.

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O fetiche da fofura aguçou a curiosidade de muita gente após aparecer em um episódio do seriado
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O fetiche da fofura aguçou a curiosidade de muita gente após aparecer em um episódio do seriado "C.S.I. Las Vegas"

O mundo está cada dia mais cinza, feio e cruel. As pessoas não acolhem umas às outras e lidam com as diferenças tentando destruir o outro, em vez de compreendê-lo. Eu sei que a história está cheia de períodos assim, nos quais a intolerância prevalece sobre o amor, mas é terrível que, no nosso momento, quando temos tudo ao alcance das mãos – conforto, informação, exemplos do passado –, a gente ainda insista nos mesmos erros, nas mesmas armadilhas. Esse fetiche faz contraponto a essa dureza: o que é peludo, quente e fofo contrapõe-se ao que é duro, gélido e empedernido.

Como assim?

Mas, afinal, o que exatamente faz um " furry "? Basicamente, é uma pessoa que curte usar fantasias e acessórios peludos. Pode se vestir de urso, cão, gato, pantera, tigresa, etc. No fim, o personagem não importa: basta que sua fantasia convide ao toque, ao mergulho, ao abraço e mexa com sua imaginação, e a de seu par nessa brincadeira fetichista.

No começo dos anos 2000, o jornalista George Gurley escreveu uma matéria para o veículo americano “Vanity Fair” na qual explica que "furry" "é sexo, é religião, é um novo modo de vida". Ele forneceu ainda um vocabulário do "furry", incluindo "arruma" (arrumar o cabelo de outro),"yiffing" (acasalamento) e "pilha de peles" (orgia). O tema também veio à tona em 2003 após um episódio intitulado “Fur and Loathing” (pelo e repugnância) da série televisiva "CSI: Las Vegas", despertando a curiosidade de muita gente.

A escritora Jesse Bering, de "Perv: The Sexual Deviant in All of Us", escreve: “Claramente, é uma forma inofensiva de expressão sexual. O "furry" nos perturba porque é estranho para a maioria de nós. Mas, se houver um contexto de desenvolvimento para isso, como parece ser com a maioria dos fetiches, talvez mais de nós tenham segredos, há muito enterrados, sobre os animais de pelúcia da nossa infância, do que gostaríamos de admitir...”.

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O que a autora obviamente traz à luz é que muita mulher descobriu o orgasmo comprimindo seu fofo ursinho de pelúcia entre as coxas na medida em que a infância ia dando lugar à puberdade. E Bering prossegue: “Para alguns, tornar-se um "furry" oferece uma maneira segura e libertadora de explorar identidades sexuais (...). Como um investigador acadêmico especulou, o "fursona" pode ser entendido como uma "resposta única e subversiva à repressão sexual ocidental", ou como uma maneira de desafiar normas sociais que determinam configurações aceitáveis ​​de sexo, gênero e corpos (...)”.

Realmente, a adoção de uma persona "furry" elimina questões como as eventuais imperfeições físicas, a diferença de idade e até a identidade de gênero. Você pode ser uma gatinha branca tendo ou não um pênis, 50 ou 20 anos, 50 ou 100 kg. Simplesmente, naquele instante, você é uma gatinha branca e fofa pronta para ser afagada e curtir mil brincadeiras...

Em tempo: desde o início do século XXI, o reino peludo vem crescendo. Os primeiros FurFests foram lançados nos anos 80, no contexto dos grandes eventos de Comic-Con e promoveram ambiente com muitos jovens, gente com a cabeça arejada e criatividade de sobra... Bem, o caldo era bom e o "furry" começou a se expandir pelo mundo.

Também acho que o crescimento dos furries pelo mundo possa ter a ver com um anseio secreto que muitos de nós compartilhamos (embora tenhamos receio de admitir): o de que, em algum nível, estejamos ansiosos por retornar a algum tipo de estado primitivo e animal, sem que isso tenha a ver com selvageria ou degradação, mas com pureza, inocência e gozo.

O "furry" parece estranho? Que nada! Estranho é que haja gente disposta a sair matando em nome de crenças, de ideologias, de preconceitos, de ódio puro e simples. O "furry" é lindo! E, como qualquer outro fetiche, pode ser experimentado e explorado para o seu prazer. Quer saber mais sobre o universo dos fetiches? Acompanhe a coluna do Heitor Werneck  no iG Delas!



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