Urban Jungle, em tradução livre, selva urbana, significa incluir flores e plantas na decoração dos apartamentos, casas e escritórios, conferindo uma melhor qualidade de vida. A ideia é realmente levar a natureza para dentro de casa.
Essa tendência virou uma febre em países europeus e também no Brasil. A ideia de aproximar a natureza a vida agitada dos centros urbanos caiu no gosto das pessoas. Para além dos benefícios estéticos, encher a casa de plantas traz conforto emocional, auxilia no microclima local e ainda purifica o ar.
Nestes últimos meses, a procura por plantas aumentou bastante. Pessoas que passaram mais tempo em casa, buscaram acrescentar o “verde” ao seu lar. Seja pela questão estética ou a necessidade de conexão com a natureza, esse hábito se espalhou pelo país. Anderson Barbosa, proprietário da charmosa @alojinha.estudio, em Recife/PE, inspirou muitas pessoas a descobrir os benefícios dos verdinhos. Com seu carisma e amor pelo que faz, Anderson cativa uma legião de apaixonados por plantas.
Confira a entrevista dele para a coluna.
Qual foi a sua principal motivação ao criar @alojinha.estudio?
Minha primeira motivação foi me imaginar em um ambiente que me desse paz, tranquilidade e a gente não sabe a veia que a nossa herança nos traz. Mas na minha casa sempre teve planta, cultivada de uma forma muito simples, na caqueira de cimento, que tomava agua na bica do telhado, e quando precisava de adubação, quando estava triste, colocava esterco de gato. E a gente vai registrando esses momentos na memória e vai trazendo para vida adulta. Ao longo do meu amadurecimento profissional, eu me vi com necessidades. A primeira delas era de um refúgio que me deixasse em conexão com essa essência que as plantas trazem.
A lojinha veio de uma inquietude mesmo. Eu queria fazer algo diferente na minha carreira profissional e eu precisava de algo que me desse muito prazer. A lojinha nunca entrou na minha vida com uma pretensão de ser algo comercial. Ela de fato era um respirar novo que eu precisa. Uma válvula, uma oxigenação. Eu nunca imaginei que a lojinha invadisse a minha vida de forma a cortar cordões.
A lojinha veio em 2019, mas é um projeto de mais de quatro anos. Há 4 anos que eu pesquiso, coleciono imagens, que eu penso em embalagem, rótulo, cheiros, jeitos, só que eu não sou uma pessoa de planejar, eu sou uma pessoa do executar. A lojinha me deixa muito conectado com a planta, com o movimento. Estou constantemente colocando “ a mão na massa”, a mão na terra e sentindo muito útil, criativo e feliz. Veio de uma necessidade de um respirar novo dentro da minha atividade que já existia (decorar eventos) e está aí me trazendo felicidade e proporcionando felicidade para as pessoas.
Ao longo da criação da loja, eu imaginava oferecer para as pessoas uma experiência diferente. Eu queria um lugar em que as pessoas pudessem imaginar, em algum momento sentadas, contemplar como pode essa composição funcionar em sua vida diária. Como pode esse trio de vasos, esse trio de plantas promover para ela em um canto de sua casa, similar a que ela está vivendo em loja. Uma das minhas maiores motivações era promover para as pessoas uma experiência da pessoa com a planta. Uma das coisas que eu mais gosto é permitir que as pessoas criem seus espaços. Eu gosto muito da lojinha em um formato autoral. A loja não tem paisagista, não tem decoradores nem designers de interiores onde o cliente só executa. A gente só dá umas ideias, mas a grande brincadeira é que o cliente por si só, se descubra. E que o cliente aos poucos, vá construindo dentro da casa dele, de uma forma bem autoral, como é legal incorporar as plantas à vida dele.
O conceito de Urban Jungle, em outras palavras, significa trazer a natureza para dentro de casa. Na sua opinião, quais os principais benefícios em ter mais plantas em casa?
Eu acredito, vou falar por mim, não vou falar por teorias. A maior sensação positiva que a gente tem é de um bem estar. É impressionante o quanto o simples tomar uma xícara de café, ao lado de uma planta, em uma poltrona, cadeira, um puff ou simplesmente no chão te promove tranquilidade. Eu digo que é quase um meditar.Você se desconecta dos problemas, ou até te ajuda a pensar em soluções para resolver problemas.
Você viu?
Eu acho que um dos maiores benefícios de ter plantas, é estar conectado com a essência da natureza. É voltar às origens, aquilo que a gente tem perdido ao longo dos dias. Os nossos familiares mais velhos, eles tiveram mais possibilidades de experimentar ter casa, quintal, mangueira, pé de acerola, tocar, consumir e isso ser tão natural que você acaba não valorizando tanto.
Talvez você não pare para pensar na experiência. O hoje é diferente, vivemos em casas verticais, sem quintal no máximo com uma área de jardim comum a todos, que a gente mal olha, poucas pessoas tem o hábito de contemplar o jardim do prédio. E aí temos uma necessidade de conexão, de contemplar aquilo que nos mantém conectados com a nossa essência, com a terra, com a mão, com a energia. Um dos maiores benefícios de ter planta em casa, é a conexão, o benefício , o bem estar.
Durante a quarentena, muitas pessoas buscaram mais informações sobre plantas, montaram hortinhas, na busca por mais contato com a natureza em meio ao isolamento social. Acredita que esse movimento veio para ficar?
Essa pandemia foi uma lição para todo mundo.Ela veio para escancarar para gente coisas que a gente estava deixando de lado. Sendo planta ou não, acho que a pandemia veio para escancarar nosso interior, nossa casa, nosso abrigo.O lugar onde a gente vive, ela precisa funcionar para gente, ela não pode ser apenas plástica, apenas bonita para receber amigos ou pessoas que nem são tão amigos assim.
A gente começou a reparar a casa como lugar de contato com você mesmo. Você tem que ter contato com aquela casa, ver ali dentro, sentir prazer ali dentro, possibilidades de se divertir, conectar, com uma atividade que te deixe em relaxamento.
E as plantas acabam permitindo essas experiências. Você pode plantar um jarrinho, você pode fazer apenas uma manutenção, uma “ poda” em uma planta, ou você pode esperar brotar. Todas essas experiências promovem uma ocupação, uma terapia, uma ocupação da mente.
Você parar, planejar, comprar um vaso, argila, semente, o broto, o borrifador, qualquer coisa que me permita, naquele dia, naquele momento estar totalmente pronto para fazer o que desejo. O meu momento. Eu percebo que nesta pandemia, a gente precisou encarar que planta faz bem e que as casa precisam ter verde. As pessoas estão buscando muito talvez ter uma casa com cara de afeto, carinho.
Chegar em casa e, respirar, se sentir bem em casa.E talvez as pessoas nunca tiveram a oportunidade de assumir e agora tiveram. Perceberam que faz diferença. Que tudo muda, um vidrinho com um pouco de jibóia pode fazer um cantinho pequeno, talvez, insignificante, virar algo charmoso, agradável. Uma refeição que você pode ter um vasinho de qualquer plantinha, seja aquela comprada mais cara, ou a que você pegou no seu prédio, para você plantar para você.
Essa necessidade do ser humano de se encontrar, de se conectar, ele se permitiu fazer agora, nesse momento de isolamento. Eu fico muito feliz de ver as pessoas mais conectadas, com mais desejos de ter plantas em casa, com certeza não é um modismo, é uma oportunidade que as pessoas de deram de ter contato.
Uma vez que você se encanta, você não quer mais parar. Mesmo que você não queira ter mais, você vai ter muito amor naquela única planta que você tem em casa. Seja cuidando dela, borrifando, você tera um momento seu e dela.E isso não é um modismo, será um novo hábito de vida e acho que vai fazer muito bem.Percebi que muitas pessoas que estavam tristes, começaram a direcionar sua tristeza para esse novo hábito de cultivar, curtir a planta.