O Brasil por muito tempo esteve entre os países que mais realizavam testes em animais, ao lado da China, Japão e Estados Unidos, segundo relatório da Cruelty Free International.
Em março deste ano, porém, isso mudou. O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), colegiado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, publicou uma resolução que proíbe testes em animais
para fins de pesquisa, desenvolvimento e controle de cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes no país.
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A decisão foi comemorada por ativistas, consumidores e marcas que já eram engajadas na causa. "Vemos hoje um movimento forte de marcas se adequando a essa nova realidade de consumo e levantando bandeiras que antes não levantavam e marcas novas já trazendo essas preocupações na sua cadeia produtiva priorizando uma produção cruelty free e formulações veganas", comenta Paula Pimenta, gerente geral da The Body Shop no Brasil.
Em 2018, a marca participou de um movimento global que coletou assinaturas para levar à sede das Nações Unidas em Nova York uma petição contra os testes em animais na indústria global de cosméticos. O documento, que reuniu signatários de todo o mundo, contou com o apoio de 8,3 milhões de pessoas. O Brasil esteve entre os 10 países que mais contribuíram com a pauta. O abaixo-assinado ainda levou inúmeros brasileiros para uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo.
Hoje, os testes em animais já são proibidos nos 27 países da União Europeia, além da Coreia do Sul, Israel, Nova Zelândia, Índia. "O consumidor hoje tem acesso a muitas informações locais e globais, consegue comparar produtos e marcas e tem poder de escolha. Isso gera a necessidade das marcas se posicionarem sobre temas críticos como questões climáticas, bem-estar dos animais e origem dos produtos, ingredientes e formulações", cita Paula.
The Body Shop diz nunca ter testado ingredientes ou produtos em animais e afirma que nunca o fará
A The Body Shop foi fundada em 1976, por Anita Roddick, em Brighton, na Inglaterra. A marca deu seus primeiros passos no ativismo em 1986, quando Anita se associou ao Greenpeace
na campanha Save the Whales
para lutar contra a caça comercial de baleias e promover o óleo de jojoba como substituto para o óleo de esperma de baleia, que era amplamente usado em cosméticos à essa altura.
A empresa surge com um propósito social, com ingredientes de origem natural e promovendo o conceito de "beleza revolucionária". Em 1989, começa a fazer campanha a favor do fim dos testes em animais na indústria cosmética. Anita e a The Body Shop tiveram papel importante para a proibição dos testes no Reino Unido, em 1998, decisão que depois se expandiu para a Europa e para outros países.
Em 2014, a marca removeu seus produtos de lojas em aeroportos na China. No país, os testes em animais eram obrigatórios até 2021. "Estamos mostrando ao setor e a outras marcas de diversos segmentos que, sim, é possível ser uma empresa, ser uma marca e ter um posicionamento", comenta a gerente geral da companhia no Brasil.
No mês passado, porém, houve um retrocesso... O governo britânico permitiu que os testes em animais para ingredientes de maquiagem fossem retomados, apesar da proibição de 25 anos. A mudança na política teria sido feita para se alinhar às regras químicas da UE, de acordo com uma decisão do Tribunal Superior.
Em 2020, a Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA) havia determinado que as empresas precisavam testar em animais alguns ingredientes usados em cosméticos para garantir que fossem seguros para os trabalhadores das fábricas. Durante o caso, foi revelado que, desde 2019, o Reino Unido já emitia licenças para testes em animais de acordo com as regras químicas da UE, que foram mantidas mesmo com o Brexit
.
A Cruelty Free International
argumentou que a decisão do governo britânico era ilegal e violava a proibição de testes em animais para maquiagem e seus ingredientes, que vigora desde 1998. Mas a Justiça decidiu a favor do governo, dizendo que a mudança na política atendeu às leis existentes, embora tenha dito que era "lamentável" o público não ter sido informado. A sentença foi duramente criticada por grandes marcas de beleza e cosméticos, incluindo a The Body Shop.
Marca quer recuperar legado de sua fundadora
Em 2017, a Natura
anunciou que concluiu a compra da The Body Shop, em um negócio estimado em € 1 bilhão. A marca britânica antes pertencia ao Grupo L'Oréal, que a adquiriu em 2006. Seis anos depois, a companhia quer agora recuperar o legado de Anita Roddick, falecida em 2007, em sua comunicação e em seus produtos.
Recentemente, a The Body Shop firmou um compromisso de ser uma marca totalmente vegana até o fim deste ano. A empresa afirma que todas as suas novas formulações já são 100% veganas e contam com o selo da Vegan Society – que garante que toda a cadeia produtiva é livre de origem animal.
Há mais de 40 anos, Anita ainda foi pioneira na defesa da equidade de gênero e no empoderamento feminino. Ela não queria vender produtos para que as mulheres alcançassem determinada característica, mas sim para as ajudar a serem a melhor versão delas mesmas. E é esse posicionamento que a marca quer resgatar por meio da campanha "Change making beauty", traduzido para o Brasil como "Beleza que revoluciona".
"A beleza é um conceito amplo e quando você a democratiza, é algo que pode nos levar a conversas ilimitadas. Hoje, uma mulher se aceitar como é e ser aceita por quem é vai além da beleza. O nosso posicionamento contra o padrão de beleza inalcançável foi uma das causas da Anitta que está mais atual do que nunca", garante Paula Pimenta.
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