"Quero chegar aos 60 anos sem parecer mais velha. Vejo muitas senhoras aparentarem ter mais idade por falta de cuidado com a pele e sei que isso tem de ser feito antes”. A frase é da estudante de engenharia Lara Theotonio Pereira Mascherpa, que, aos 21 anos, já começou a fazer sessões de laser para estimular a produção de colágeno e retardar o envelhecimento da pele.
Ela não é exceção. A estudante ilustra uma tendência que ganhou força recentemente entre as brasileiras: prevenir o aparecimento dos sinais na pele muito precocemente, antes até mesmo de serem notados a olho nu. O movimento, batizado nos Estados Unidos de prejuvenation (algo como “prejuvenescimento” em português), atrai em especial as mulheres, embora os homens também comecem a aderir. Trata-se de jovens que, assim como Lara, não querem impedir os sinais do envelhecimento com métodos artificiais, mas adiá-los da forma mais natural possível.
— A mudança de comportamento está associada à informação, hoje há técnicas pouco agressivas que se forem usadas precocemente têm ótimos resultados — diz a médica Cláudia Merlo, especialista em dermatologia e cosmiatria pelo Instituto BWS e diretora da Clínica Cláudia Merlo.
Não existem dados oficiais, mas nos consultórios médicos, a estimativa é que nos últimos dois anos houve um aumento de 300% no número de pessoas com menos de 30 anos em busca de procedimentos para prevenir o envelhecimento. Não seria cedo demais? Os especialistas afirmam que não.
Colágeno
A perda de colágeno, composto que dá sustentação à pele, começa a partir dos 20 anos de idade a uma taxa de 1% ao ano. Como resultado, a pele vai ficando mais fina e frágil. A partir dos 30, a perda supera a produção dessa proteína. Se nada for feito, é nessa idade que se formam as primeiras rugas, que são cicatrizes deixadas por fraturas na derme, a camada intermediária da pele. Os vincos variam de 0,1 milímetro a 0,5 milímetro de profundidade.
Não é apenas o colágeno que se perde. O ácido hialurônico, composto da pele responsável pela elasticidade, sofre uma redução de 20% a 30% ao longo da vida. Dos 40 aos 60 anos, os vincos já estão marcados e as substâncias que sustentam a pele se enfraquecem com maior velocidade. Por isso, são necessários estímulos cada vez mais vigorosos e agressivos para que elas continuem a ser produzidas. Começar mais cedo retarda esse processo e confere uma jovialidade natural por mais tempo.
É claro que tudo tem que ser adequado à idade. Por isso, as ferramentas usadas em pelas de 20 e poucos anos são bem diferentes daquelas indicadas para peles mais maduras. Nessa faixa etária, o principal objetivo é justamente estimular a produção de colágeno. Os lasers, que podem ter diferentes alcances, são a escolha número um. Mas há também o ultrassom microfocado - estimula a formação de colágeno a partir de altas temperaturas - e a radiofrequência - campo eletromagnético que esquenta a pele e forma colágeno - , indicados quando já há alguma flacidez.
— Começar a estimular a produção de colágeno antes dos 30 anos ajuda a postergar o envelhecimento da pele, além de melhorar seu aspecto e elasticidade —afirma a dermatologista Mônica Aribi, da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia.
Lara, por exemplo, utilizou um laser que age na derme, a camada intermediária da pele. Isso estimula a produção de colágeno e a produção de novas células da pele. O resultado é uma pele mais viçosa, lisa e com poros menos dilatados. O tratamento também ajuda a controlar a rosácea, a tratar acne e cicatrizes, fatores importantes para essa faixa etária.
Aos 26 anos, a empresária Bruna Passos, também é adepta do autocuidado e dos lasers. No caso de Bruna, a tecnologia utilizada vai além e atinge todas as camadas da pele. Isso promove estímulo celular intenso e renovação, atua na flacidez e no contorno facial, além de trabalhar a textura e a cor da pele.
— Prefiro as técnicas menos invasivas, como lasers para estimular colágeno, porque acho que a pele nessa idade ainda é muito boa. Pretendo continuar fazendo anualmente até eu sentir que a minha pele está pedindo um pouco mais — conta a jovem.
Botox
Para essa faixa etária, há ainda a opção da toxina botulínica. Ela é utilizada para prevenir as chamadas rugas dinâmicas, aquelas formadas quando fazemos expressões faciais. A indicação é para pacientes quem têm tendência a fazer as contrações e marcar a pele. O produto age evitando os movimentos que provocam rugas. Como o objetivo é prevenir, a quantidade utilizada é quatro vezes menor que a usada a partir dos 45 anos, quando as rugas já estão marcadas.
— Costumamos fazer na chamada “ruga da braveza”, que fica no meio da testa, para prevenir o vinco. Se deixar a pele frisar, a marca sempre estará lá — explica Aribi.
Além dos fatores internos, os externos também influenciam diretamente o envelhecimento. São eles alimentação, tabagismo, consumo de álcool, exposição solar e à poluição. A exposição a eles pode não só acelerar o aparecimento de rugas e a flacidez, como deixar a pele mais áspera e manchada. Por isso, os dermatologistas são unânimes em dizer que os cuidados diários mais importantes são limpeza e uso regular do filtro com fator de proteção solar (FPS) mínimo de 30.
Produtos de uso tópico, como cremes, séruns, geis, etc, não têm grande atuação, pois não conseguem agir nas camadas mais profundas. Mas isso não significa que eles não podem ser fortes aliados. Na faixa etária dos 20 aos 30 anos, os ativos mais recomendados são vitamina C e ácido hialurônico.
Além disso, manter uma alimentação equilibrada, com ingestão de alimentos ricos em colágeno, como carne branca e gelatina, e vitamina C, como laranja, kiwi e abacaxi, que ajudam a melhorar a absorção da proteína, ajuda a manter a pele em dia. Não fumar, dormir bem, praticar atividade física, reduzir o estresse e o álcool também são pontos fundamentais.
— Eu também foco muito na parte interna porque não adianta ter um skincare maravilhoso e só comer besteira ou não beber água — conclui Lara.