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Quais os limites de um flerte?
No segundo ano de casamento, o marido confessou a Wanda uma escapada sexual com uma conhecida em uma festa. Pediu perdão, e ela perdoou: “Não foi fácil. A mágoa demorou a passar. Não conseguiria perdoar se ele tivesse realmente um relacionamento com ela, por exemplo. Não conseguiria”. Ela também acha que não teria conseguido superar se tivesse ficado sabendo por terceiros. “Seria muita humilhação”.
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O casamento de Wanda vive sob a forma mais comum de acordo – o monogâmico, em que os dois se comprometem a não fazer sexo com outra pessoa. Mas mesmo uma regra aparentemente clara pode ter mais gradações do que mostra à primeira vista. A história de Wanda é um bom exemplo: mesmo não envolvendo nenhum contato físico, as “amizades” online incomodavam pela intuição do quase inevitável “flerte”.
“Sem dúvida é uma ‘porta de entrada’ para a infidelidade”, acredita ela. Por outro lado, quando houve o contato físico propriamente dito, o casal conseguiu contornar o que, pelo acordo, seria incontornável. Ela notou um novo limite, o do romance, que a perturbaria mais do que uma noite de sexo. Quando, afinal, começa a traição?
“A traição é o rompimento de um acordo. Isso envolve a quebra de algo que foi combinado entre as pessoas envolvidas. Não quer dizer que a traição seja necessariamente sexual, ela pode ser financeira, moral, etc”, diz a psicóloga Renata Soifer Kraiser. “Não há uma regra para o que é o começo da traição. O que para uma pessoa pode ser um indício, para outra pode ser uma bobagem. Por isso o diálogo é tão importante, para que as partes envolvidas tenham plena consciência de quais são as regras”.
A regra é clara
Quando não são esmiuçadas, pode acontecer de um mesmo casal viver com regras individuais. A publicitária Janaína Oliveira, por exemplo, sempre gostou de postar online fotos suas em poses provocantes. Por causa disso, recebia mensagens de admiradores, e respondia. “Gosto de flertar, e a internet é um meio seguro para isso. Nunca encontrei nenhum desses homens, nem nunca encontraria. Para mim, nunca traí meu namorado”, afirma.
Mas o namorado de Janaína pensava diferente. “Nunca tínhamos falado sobre isso. Um dia, ele descobriu as fotos – que eu não escondia – e ficou enlouquecido. Se sentiu muito traído. Chegou a terminar comigo”. Um mês e muita conversa depois, eles reataram. “Aí discutimos tudo. Bem preto no branco mesmo, falamos de forma realista o que nos incomodaria nesse sentido. Deu certo”. O flerte foi proibido - tanto na vida real quanto na virtual. E agora ela manda fotos só para ele.
O caminho escolhido por Janaína e seu namorado é o ideal na opinião da psicóloga Renata. “As áreas cinzentas vão aparecendo e tudo tem que ser conversado à medida que elas aparecem”, diz. Pode adicionar desconhecidos nas redes sociais? Admirar alguém atraente na frente do parceiro? Flertar? Sexo casual? Sexo virtual? Só beijar? São muitas as variantes, e todas devem ser discutidas. “Devem ir conversando sempre que aparecer algo que incomoda. Assim, eles têm a chance de refazer o acordo”.
Mas as regras devem ser realistas. O psicólogo Bruno Mendonça alerta que não adianta querer coibir intenções e pensamentos. “Muita gente acha que a traição começa quando o parceiro fantasia ou deseja outra pessoa. Criar uma regra que tente impedir isso só vai criar situações de mentira e culpa”, diz.
“Um casal em que os dois são honestos um com o outro e partilham a vontade de fazer o relacionamento dar certo deve apenas fazer um acordo claro e confortável que administre de forma confortável esses desejos e fantasias
”.
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