Além da ex-Rouge, Aline Wirley, dois outros participantes da 23ª edição do Big Brother Brasil afirmaram ser não monogâmicos
Reprodução/Instagram 12.01.2023
Além da ex-Rouge, Aline Wirley, dois outros participantes da 23ª edição do Big Brother Brasil afirmaram ser não monogâmicos

O anúncio dos participantes da 23ª edição do Big Brother Brasil, feito na quinta (12), veio recheado de detalhes sobre a vida pessoal dos jogadores. Em suas apresentações oficiais, os jogadores Aline Wirley (Rouge) e Fred Nicácio (Queer Eye) declararam que vivem um relacionamento aberto com seus respectivos parceiros. O participante eliminado da Casa de Vidro, Manoel Vicente, também afirmou que vive um “amor livre” com o marido Raphael, seu parceiro há 11 anos.

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A revelação dos participantes levantou uma grande discussão nas redes sociais. “O brasileiro vai descobrir como funciona a não-monogamia pelo BBB. Vai ser o caos”, comentou a influenciadora Winnie Bueno em seu perfil. 

Mas o que, afinal, é a não-monogamia? “A não-monogamia é o termo que a gente costuma chamar de guarda-chuva, que contempla relações que questionam a lógica monogâmica e se propõem a construir novos tipos de relação. Há, debaixo desse termo, muitas variações”, explica a CMO da comunidade Sexlog, Mayumi Sato.

Ser uma pessoa ‘não-mono’ não significa necessariamente estar aberta a múltiplos relacionamentos, e sim não se encaixar nas regras da monogamia. 

Algumas dessas variações são mais populares, como as relações abertas, o swing e o poliamor. Já outras são reflexões mais profundas acerca da noção de relacionamento, como a não-monogamia política e a anarquia relacional. “O interessante é ter em mente que todas elas questionam a exclusividade afetiva e sexual.”

O relacionamento aberto, o mais conhecido entre as tipificações da não-monogamia, é conhecido por alguns estudiosos como a fase inicial - e mais comum - dessa prática. Nessa relação, existe um casal principal que pode se envolver com outras pessoas, abandonando noções de exclusividade e ciúmes.

Um trisal, por sua vez, pode ser fechado ou aberto, mas quebra com as noções da monogamia por fugir da binariedade dos relacionamentos. O poliamor expande essa ideia, pois o termo representa qualquer relação simultânea com mais de duas pessoas.

Já o swing costuma não envolver uma relação afetiva ou amorosa, já que essa prática é feita por casais que buscam relações sexuais com outras pessoas, mas mantém o casamento normalmente. 

Como a não-monogamia é definida pela rejeição aos padrões sociais de uma relação, as regras de cada relacionamento podem divergir. Mayumi aponta que cada relação de afeto é única e construída “respeitando anseios, desejos e a visão de mundo dos envolvidos” e que “não há uma caixinha de regras prontas e impostas, mas um processo em que se pode navegar em conjunto.”

“Sabemos que a monogamia em si, no dia a dia, é mais um ideal, uma construção de desejo em torno do controle de sentimentos e emoções, do que uma prática de fato. Se a traição e a infidelidade, principalmente (mas não apenas) de homens são tão comuns que já superaram o campo do tabu, quem realmente é monogâmico hoje em dia? Quantos casais, de fato, se identificam nesse sentido?”, reflete a CMO.

A não-monogamia também está na mídia: na série HBO Max, o trisal Aki, Max e Audrey está dominando o roteiro
Foto: Reprodução/HBO Max
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Uma das pessoas que se adaptou a esse universo foi a estudante de jornalismo Alice Angélica (21). A jovem já estava em um relacionamento fechado com o parceiro, Ariel Arthur (20), quando descobriu que se identificava com a não-monogamia.

“Descobri que era não-monogâmica há cerca de um ano atrás, quando vi que boa parte do meu ciúmes advinha de fatores que dependiam de mim e o ‘outro’ não tinha muito a ver com isso. A ideia, então, de ter um relacionamento aberto e não mono acabou vindo com facilidade”, conta a estudante. Desde então, ela e Ariel vivem um relacionamento não-monogâmico.

Assim como atestado por Mayumi, a relação do casal é definida por combinados específicos. “Não temos mais participantes fixos além de nós dois, mas temos nossos agregados, que são basicamente pessoas que gostamos ou gostaríamos de ficar e se envolver em um geral.”

Nos últimos anos, a jovem notou uma verdadeira mudança em relação à aceitação de pessoas não monogâmicas. "O diálogo é mais aberto e sem tabu a respeito do assunto. Esse é um tópico que não era abordado até 4 anos atrás e também era visto como 'coisa de corno gourmet'."

Mas engana-se quem acredita que em relacionamentos abertos não existe ciúme. Para Alice, sentir aquela pontadinha no coração ainda é uma realidade, mas esse sentimento é “geralmente direcionado para situações” e “não para atos que, em um relacionamento monogâmico, seria um problema, como um beijo.”

Mayumi reitera os sentimentos de Alice: segundo a profissional, a traição no sentido tradicional pode até não fazer sentido quando falamos em relações não monogâmicas, mas, em muitos desses casais, existe uma expectativa de lealdade que pode se manifestar de diversas formas. “A confiança e lealdade aqui, em geral, não estão conectadas a questões físicas ou sexuais, mas talvez a uma construção de parceria”, finaliza.

Sato aconselha que, para quem começa a se interessar pelo tema, um ponto de partida interessante é refletir sobre o que é inegociável para cada um. “Se você não negocia a sua capacidade de pensar, viver, sentir e tomar decisões, também não há coerência em querer exercer esse tipo de controle sobre o outro. Se isso faz sentido para você, a não-monogamia pode ser um caminho interessante.”

“Também não existe um momento certo, nem regra fixa para abrir o relacionamento, mas a minha observação sugere que fica mais difícil falar e refletir sobre essas questões com clareza num momento de crise. Aos casais, sempre sugiro trazer o tema à tona o quanto antes, sem ansiedade ou pressa, sem fazer disso uma tábua de salvação para salvar a relação a qualquer custo”, finaliza.

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