Saudável ou tóxico? Dormir em quartos separados é uma situação complicada para vários casais
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Saudável ou tóxico? Dormir em quartos separados é uma situação complicada para vários casais

Dormir na mesma cama que o parceiro é quase uma regra social quando se discute um relacionamento. Intimidade, sexo, carinho, rotina e afeto: acordar ao lado de quem você ama é, para muitas pessoas, a melhor parte de um casamento. No entanto, nem todos os casais estão enxergando isso da mesma forma, como atesta uma pesquisa da instituição Sleep Health Foundation.

O estudo de 2019 indicou que 17% das pessoas que dividem uma casa com o parceiro preferem dormir em um quarto separado. Em 2021, a instituição estadunidense National Sleep Foundation também revelou que cerca de um quarto dos casais americanos dormem separados pelo menos uma vez por mês.

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Para muitas pessoas, a simples ideia de ter uma cama separada em um casamento é altamente inusitada. Ter um espaço separado do parceiro pode soar como um passo iminente para uma separação, com direito a um termo exclusivo para esse processo: o ‘divórcio do sono’.

A psicóloga e coach de relacionamentos Larissa Vieira explica que o divórcio do sono acontece “quando as coisas não estão indo muito bem, e o casal está fora de sintonia. Conhecemos muito bem aquela história do marido que dorme na sala para evitar discussões.”

A ideia de camas separadas não é antiga. “Essa tradição era comum nos anos 50 e existe até hoje. Era normal, nas tradições da família real e entre os nobres da Inglaterra, os casais dormirem em quartos separados e as camas serem denominadas queen para elas e king para eles”, explicam os arquitetos Priscila e Bernardo Tressino, do escritório PB Arquitetura.

Se a tradição de deitar em camas separadas é uma prática arcaica e pode até levar ao divórcio pela distância crescente, por que algumas pessoas continuam a optar pela distância à conchinha? Segundo especialistas, cada casal lida com a individualidade de uma forma diferente e não é possível promover uma fórmula de sucesso para todos os relacionamentos.

Assim como dormir em camas separadas não significa necessariamente que o casal está se separando, dormir na mesma cama não significa que os mesmos estão em sintonia.

“[Fazer tudo junto do parceiro] é um grande mito do amor romântico sobre os relacionamentos. Esse mito veio daquele amor romântico, inventado lá na no século XIX”, reflete a terapeuta de casais, Tatiana Perez. “Esse mito propagou a ideia que relacionamento é sobre buscar aquela pessoa que vai completar a parte que falta, enquanto, na verdade, um relacionamento é feito de duas pessoas, sempre duas.”

Em relacionamentos longos, a individualidade de cada parceiro é muitas vezes sufocada
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Em relacionamentos longos, a individualidade de cada parceiro é muitas vezes sufocada

A discussão acerca das camas separadas surge, na maioria das vezes, após alguma reclamação de um parceiro sobre a própria qualidade do sono. Roncar muito alto, se mexer na cama ou ter dificuldades para dormir: a alternativa de ter outro lugar para dormir é uma solução para esses problemas.

Tatiana afirma que esse debate ainda é um tema sensível e raro entre seus pacientes. “Ter um quarto para cada um pode trazer benefícios para alguns e malefícios para outros. Isso vai de cada casal, cada pessoa vai ter uma questão.”

A terapeuta ainda complementa que muitos casais costumam dormir juntos apenas pela regra social. A maioria, segundo ela, não pensa sobre as implicações dessa escolha. “Eles não pensam: será que a gente precisa dormir junto, será que a gente é obrigado a dormir sempre juntos?”, diz a psicóloga. 

“As vantagens [de dormir separado do parceiro] são não ter alguém te acordando ou roncando no meio da noite, ter mais espaço na cama, dormir a seu próprio tempo”, atesta Romanni Souza, psicólogo pós-graduado em Neurociência.

Além dos benefícios para o sono, ter um espaço único pode ser uma boa forma de expressar individualidade. Com a evolução dessa discussão, diversos casais já estão planejando casas com ambientes separados, como atesta a psicóloga Paiva. “Alguns pacientes até me falam que criaram projetos e plantas com 3 quartos: um do casal e um para cada um expressar suas vontades.”

Também existem malefícios dessa escolha. Romanni Souza lista que ter quartos separados pode provocar a perda da intimidade sexual e reduzir momentos íntimos e cumplicidade entre o casal, já que tira a espontaneidade de certos momentos. Assim, a distância física para alguns casais pode estar ligada à distância emocional. “Mas é importante lembrar que assim como existem casais que dormem juntos e são infelizes, existem casais que dormem separados e são felizes.”

Segundo a arquiteta e especialista em interiores Luciana Patriarcha, é cada vez mais comum que os casais tenham ambientes separados para o trabalho e até mesmo dormitórios.

“Muitos casais têm um relacionamento, mas não compartilham dos mesmos gostos e isso é perfeitamente normal. É comum, e isso não quer dizer que o relacionamento não pode ir a diante.”

A especialista em psicoarquitetura cita que ter um próprio ambiente pode proporcionar o bem estar para o indivíduo, e muitas vezes, mais equilíbrio dentro de um relacionamento.

O quarto, segundo Patriarcha, é um elemento que conecta o indivíduo consigo mesmo, e conseguir encontrar esse espaço é muito importante. “Após um dia de trabalho, tudo o que queremos é chegar em casa e relaxar, atualmente com a popularização do modelo de trabalho home office, muitas vezes já estamos em casa após um longo dia de trabalho e não sentimos mais essa sensação de chegar em casa, por isso o dormitório acaba sendo um ambiente tão importante, pois ele nos traz essa sensação de paz e aconchego.”

Ter seu próprio espaço pode equilibrar o casamento, aponta psicoarquiteta
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Ter seu próprio espaço pode equilibrar o casamento, aponta psicoarquiteta

Como saber se você precisa desse espaço? Para os especialistas, apenas com uma discussão honesta com o parceiro e a compreensão de como cada um consegue expressar o amor.

“Se uma pessoa na relação tem como principal forma de demonstrar amor o toque, para essa pessoa, é ainda mais importante dormir junto. Se nenhum dos dois tem como predominante o toque ou tempo de qualidade por exemplo, pode ter mais chances de funcionar dormir separados”

A questão, indica Romanni, é expressar o que é importante para cada um do casal de forma sincera, e ter atividades durante a rotina que estabeleçam a conexão do casal além do dormir juntos caso essa seja retirada da lista. Incluir outras atividades que envolvam conexão entre o casal.

“O ponto está em equilibrar, não se isolando do cônjuge mesmo estando com ele 24h do dia, da mesma forma, não dependendo do cônjuge para se sentir feliz e bem”, finaliza. 

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