Especialistas apontam que mulheres entendem melhor o uso da medicação e buscam mais informação
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Especialistas apontam que mulheres entendem melhor o uso da medicação e buscam mais informação

Mesmo no ano de 2022, com o amplo acesso à informação e difusão de conhecimento em escala global através da internet, alguns assuntos não deixaram de ser tabus ao longo dos anos, e o HIV é um deles.

Com os avanços de pesquisa na área, hoje em dia temos uma medicação avançada, além de uma cultura de testagem e prevenção. Contudo, muitas pessoas ainda têm desconhecimento e preconceito do vírus e sobre a saúde de quem vive com o HIV.



PrEP x PEP

Boa parte dessa prevenção, que permite com que as pessoas que vivem com o vírus tenham uma vida plena, e que mantenham a carga viral indetectável - o que impede a transmissão do vírus - é a existência da PrEP e da PEP.

A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é a medicação usada quando um indivíduo tem exposição ao vírus. Ela é efetiva quando iniciada em até 72 horas pós-exposição, com efetividade maior nas primeiras 24 horas. Já a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é a medicação de prevenção antes de uma exposição ao vírus.

Ela pode ser usada de duas formas: diariamente, pelo tempo que a pessoa acreditar estar sob vulnerabilidade, como por exemplo profissionais de sexo; e sob demanda, quando a pessoa usa a medicação em eventos de risco, como uma relação sexual não casual e sem proteção. Neste caso, a medicação deve ser usada de 24h a 2h antes e depois da relação, e por mais dois dias seguintes.

Com as medicações foi possível que casais sorodiferentes, ou seja, que um dos indivíduos vive com HIV e o outro não, possam manter um relacionamento duradouro e estável.

A infectologia Laís Seriacopi, que faz um atendimento de uso de PrEP e PEP no ambulatório do Hospital Heliópolis, na zona sul da capital paulista, explica que a maior incidência de casais sorodiferentes no seu local de trabalho é de homossexuais, mas que nos casos de relações heterossexuais, as mulheres costumam ter mais abertura para iniciar o tratamento.

“As mulheres aceitam bem mais. A mulher tem uma expectativa de vida maior e um dos fatores é esse. Elas se cuidam mais e são mais preocupadas com a saúde. Quando a gente oferece, na consulta, para o paciente que vive com o HIV para convidar a parceira a tomar a PrEP, elas vêm muito fácil. Elas não têm muita resistência”, afirma a especialista.

A infectologista ainda conta que o maior incentivo para que os pacientes tomem as medicações é a segurança em terem relações sem proteção.

“A gente tem muitos pacientes no ambulatório que vivem com HIV e as parceiras não, e elas fazem o PEP. Elas usam a medicação principalmente para não usarem preservativo e terem um conforto emocional maior na relação. A maioria dos pacientes que tratamos têm carga viral indetectável, mas costumam ter muito medo ainda de passar para os parceiros ou parceiras. Com a PrEP, eles se sentem mais seguros e conseguem melhorar a relação sexual e evitar problemas como a disfunção erétil, que é muito comum devido ao estresse da possibilidade de transmitir o vírus”, explica Laís.

Uma das pacientes do ambulatório é a recepcionista Stephanie Rocha, 22, que faz uso da PEP. Ela começou a utilizar a medicação após terminar um relacionamento de seis anos e passar a explorar mais a sua vida sexual.

“Eu comecei a usar depois de uma separação que eu tive de um relacionamento muito longo. Comecei a ter uma vida muito doida”, brinca a jovem ao se referir a sua vida sexual após o término. “Eu vi um flyer no meu trabalho falando sobre as medicações. Aí fui pesquisar um pouco sobre como funcionava e achei muito interessante”, conta.

Stephanie relata que agora vive uma relação estável novamente, mas que não parou de usar as medicações.

“Eu terminei meu antigo relacionamento faz um ano e alguns meses, mas agora estou com um parceiro fixo e mesmo assim eu ainda continuo fazendo uso do medicamento, por saber de histórias de muitas mulheres que se infectaram mesmo em namoros estáveis. Tem isso, infelizmente acontece. Eu me senti mais segura em continuar com a medicação”, explica.

Testagem de ISTs



Jennifer Besse, coordenadora de ações do Instituto Cultural Barong , uma organização não governamental que, entre outras ações, realiza testagens gratuitas de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), de forma itinerária rodando uma van em cidades de São Paulo, explica importância da testagem como parte da prevenção ao HIV.

“A gente leva os auto testes de HIV para a pessoa. Ela pode fazer na casa dela, se ela não quiser fazer ali naquele momento com a gente. Ela pode também realizar a testagem dentro da van, e as testagens são para além do HIV, como sífilis, hepatite B e C, e outras doenças. Fazemos também educação de pares, aconselhamento, acompanhamento ao serviço de saúde, que é o pós-atendimento em casos de testes positivos”, explica.

Jennifer também salienta a importância do diálogo e do esclarecimento sobre as testagens, já que muitas pessoas se aproximam do atendimento do instituto com preconceitos ou muitas dúvidas: “Falamos da importância de estar sempre se testando, a importância de exagerar o lubrificante, a importância de usar preservativo. A gente fala bastante também do PrEP e do PEP. Temos ali como mostruário a medicação”.

Sobre o atendimento a mulheres, a coordenadora também afirma, assim como a infectologia Laís Seriacopi, que as mulheres são mais receptivas sobre o assunto.

“As mulheres não têm mais dificuldade em aceitar as indicações dos profissionais do Instituto Barong. Quem tem são os homens. Eu, como agente de prevenção que estou em todas as ações, e já tem mais de um ano, posso falar que eu nunca tive problema com mulher que chega, se aproxima. Elas nunca fazem gracinhas e piadas como os homens”, revela.

“Não importa se você é casado, se você é solteiro, se você transa todo dia, se você transa uma vez a cada seis meses. Não importa. Transou? Teste! É esse é o meu recado, porque não só tem o HIV como tem a sífilis, como tem as hepatites, como tem outras inúmeras ISTs que a gente não tem o controle ali dentro da van também”, finaliza.


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