Pâmela*, 47, vive uma vida dupla. A administradora é casada há mais de 20 anos e é mãe de dois filhos. Pelos olhares dos outros, ela e o marido parecem formar um casal perfeito. O que ninguém sabe que Pâmela usa um aplicativo de traição e há sete anos tem casos com outros homens fora do casamento .
Tudo começou em 2014, quando ela encontrou no celular de seu marido mensagens picantes trocadas com outra mulher. Ela diz que suspeitava que estava sendo traída, apesar do marido sempre ter negado. Com isso, os dois foram se afastando um do outro.
“Quando comecei a trair eu não senti remorso. Por isso, na verdade, acabei gostando. A nossa relação é como de irmãos, a única coisa que falta é o sexo, que é o que eu procuro fora”, diz Pâmela. “Gosto porque não me sinto presa e nem cobrada”, afirma.
Pâmela diz que é muito atraída pela sensação de perigo e pela casualidade que a traição proporciona. “Acaba sendo uma aventura muito gostosa em todos os sentidos”, diz. Para driblar o marido ela diz que irá trabalhar até mais tarde, sair com as amigas ou ir à academia. “Não tem como ele descobrir porque eu não quero saber dele e ele também não quer saber de mim”, explica.
Fora uma amiga confidente - que também trai o marido - ninguém mais sabe que ela sai com outras pessoas. “Ninguém nem imagina. Quando acontece alguma conversa sobre o assunto eu dou uma opinião totalmente contrária ao que eu faço na vida real, pra disfarçar”, diz.
Traição por celular
Em fevereiro de 2020, sua amiga confidente apresentou a ela o aplicativo de encontros para pessoas casadas Eveeda. Lá mulheres podem criar perfis de forma gratuita enquanto os homens precisam pagar para poder ter acesso total. “O uso do aplicativo facilitou bastante porque as pessoas estão lá pelo mesmo fim, ninguém quer compromisso, só sexo”, explica.
O período em que se inscreveu coincidiu com o período de quarentena imposto em diversos pontos do Brasil devido à pandemia do novo coronavírus. Segundo a Eveeda, sites de relacionamento para pessoas casadas que querem ter um caso extraconjugal, registraram aumento de 175% nas inscrições na época. Desde de outubro de 2020 até agora, o site teve um aumento de 58%.
Com a falta dos encontros presenciais, Pâmela usou o aplicativo para conversar com outros homens. Essa foi a alternativa que ela encontrou para suprir a falta dos encontros presenciais. Até o fim da pandemia, ela decidiu se encontrar apenas com um parceiro fixo para se prevenir da Covid-19, parceiro esse com quem ela diz combinar muito.
Perguntada sobre os riscos de seu marido descobrir a traição pelo celular, Pâmela explica que não vê como uma possibilidade. “Chegamos em um ponto do relacionamento que já não tem mais isso”, diz.
Por que as pessoas traem?
A psicanalista Valéria Amodio afirma que, não necessariamente, quem trai está em um mau relacionamento. “Algumas fazem por costume, outras pela aventura tem até quem pense nisso como uma forma de preservar a identidade”, diz.
De acordo com a especialista, quem trai geralmente tem uma personalidade mais centrada em si mesma e frequentemente sente uma necessidade de buscar além do que já se tem, ação que é impulsionada pela insatisfação.
A sensação de perigo citada por Pâmela é, de acordo com a psicanalista, justamente porque quem trai sabe que está “indo contra uma ética pré-estabelecida”. “Existe uma convenção social e um acordo afetivo de fidelidade entre o casal e a pessoa que trai tem medo de represálias, mas gosta da sensação ao mesmo tempo”, explica.
Nos casos de pessoas que passam por crise no casamento , Amodio afirma existir uma desconexão das pessoas que estão se relacionando.
“Algumas fases mais marcantes de mudança geram crises, como o nascimento de um filho, filhos criados e envelhecimento”, afirma. De acordo com ela, são momentos em que é necessário dedicação, conversa e atribuição de novo significado ao laço.
O divórcio nem sempre é uma solução para algumas pessoas que se sentem infelizes no relacionamento. No caso de Pâmela, é algo fora de questão já que ela afirma ter uma vida financeira sólida e não quer proporcionar estresse aos filhos.
Além desses dois motivos, Amodio cita medo de enfrentar a separação, zona de conforto e manter a imagem social intacta como outras razões para não optar pelo fim do casamento. “Algumas dessas pessoas esperam por ‘um milagre’ que melhore a relação, tirando-a da estagnação”, explica a psicanalista.
No caso de Pâmela, essa sensação tem muito mais a ver com se sentir desejada. Ela diz que depois que começou a trair sente que sua autoestima melhorou muito. “Me sinto mais mulher no sentido de me olhar no espelho, de me arrumar, escolher uma roupa ou uma calcinha. Me sinto melhor”, diz.
*O nome foi alterado para preservar a identidade da fonte.