Que lindo seria se a vida a dois fosse exatamente como descrita nas histórias de amor clichês: o casal se conhece, flerta, se apaixona, namora, casa e é feliz para sempre. Mas sabemos que, no mundo real, é muito difícil seguir essa ordem, muito menos esse padrão. E, mesmo quando se passa por todas essas etapas, ainda há a possibilidade de viver turbulências, que incluem problemas como decepção, briga, ciúme e traição.
Esse último item, inclusive, é bastante temido por quem vive um relacionamento, sendo o motivo de muitas separações. Isso porque, para a maioria das pessoas, a traição é encarada como o fim do amor, da cumplicidade e do respeito.
Mas será que trair significa tudo isso mesmo? Para Ruben Buell, presidente do Ashley Madison , um site desenvolvido para ajudar pessoas a encontrar parceiros para um relacionamento extraconjugal, nem sempre ter um amante significa que tudo está perdido.
“Muitos dos nossos usuários contam também que quando eles tiveram um caso extraconjugal muitas vezes eles retornam para o seu cônjuge melhores como companheiros, parceiros, pais e o casamento fica melhor”, afirmou, em entrevista prévia ao Delas.
A história da publicitária Maria*, de 27 anos, é a prova de que uma relação fora do matrimônio não é sinônimo de término. Casada há dois anos, ela e o marido não estavam tendo nenhum problema aparente no relacionamento. No entanto, a convivência tinha entrado na mesmice e a “perdido a graça”, como ela mesmo define.
“Sempre soube que eu amava meu marido, mas estava querendo muito em viver uma aventura. Senti a necessidade de buscar por outra pessoa e a oportunidade aconteceu”, conta. Segundo Maria, a experiência só colaborou para que o casamento melhorasse.
“Vivi o que tinha que viver e acabou. Isso me ajudou a entender melhor o que eu buscava para mim mesma e para meu relacionamento. Voltamos a nos interessar um pelo outro e a dialogar sobre o que fez o casamento esfriar. Hoje estamos melhores do que antes”, revela.
Amor x Traição
Muitas vezes a “pulada de cerca” não tem relação com amor, de acordo com quem já teve essa atitude. “Fui muito criticada por minhas amigas quando contei que traí meu ex-namorado. A maioria me aconselhou a terminar, tentaram me convencer de que eu não o amava mais. Mas eu não queria terminar porque não foi por falta de amor que o traí. Foi uma situação muito mais ‘carnal’ do que sentimental”, revela Ana*, pedagoga, de 25 anos.
Ana conta que chegou a confessar ao ex-parceiro que o tinha traído, mas a reação dele não foi compreensiva como ela esperava. “Achei que ele entenderia, já que ele também já havia me traído no início do relacionamento e eu perdoei. Hoje penso que ele não soube perdoar uma traição e por isso terminamos", conta ela, que se não fosse pela vontade do ex-companheiro de separar, estaria namorando com ele até hoje.
“O que nossos usuários dizem é que a vida não é o conto de fadas da Cinderela que costumamos ouvir. Depois de muitos anos de casamento, algumas coisas vão muito bem, eles continuam amando o parceiro, e há outras coisas que já não vão tão bem, algumas deixam de existir e uma delas é o sexo”, analisa Ruben.
De acordo com o presidente do Ashley Madison, muitos dos usuários da ferramenta admitem ter ido procurar ajuda antes de partir para a infidelidade . “Foram para terapia de casais, conversaram com o parceiro sobre isso e ainda assim continuam em uma relação na qual o sexo não faz parte e eles não querem continuar com essa ausência na vida deles tendo 35 ou 40 anos de idade”, afirma.
Traição é "popular" no Brasil
É claro que ninguém começa um relacionamento pensando em trair. Mas refletir sobre a atitude pode ser interessante, tendo em vista que essa é uma prática bastante comum. Um levantamento feito pelo site aponta que mais de 100 mil pessoas do mundo todo se inscrevem na plataforma a cada semana.
São Paulo é a cidade com o maior número de usuários que buscam a traição em todo o planeta, com mais de 1,6 milhão de membros, seguida de Nova York e Rio de Janeiro. Além disso, Brasília, capital do país, aparece em 8º lugar. “Isso mostra que a natureza humana não foi construída para relações monogâmicas. Parece que é algo que as pessoas têm como conflito no mundo todo”, fala Ruben.
Diferente de outros países, o Brasil tem quase o dobro do número de mulheres em relação a homens no site, com uma proporção de 1,91 mulheres ativas para cada 1 homem ativo. De acordo com Ruben, as mulheres estão buscando mais prazer e satisfação em seu lado romântico e, quando não estão conseguindo isso no casamento, se sentem encorajadas o suficiente para buscar em outro lugar, como um site de relacionamentos extraconjugais.
“Nós consideramos que isso é algo relacionado à afirmação feminina. A mulher está mais forte e decidida a assumir a sua própria vida, inclusive no sexo”, comenta.
"Todo mundo já traiu ou foi traído"
"Todo mundo já traiu ou foi traído. Não tem muito jeito de escapar. Por isso acho que as pessoas deviam parar de ser hipócritas e encarar a traição como um obstáculo que pode ser superado sim, caso ainda haja amor e vontade de ficar junto", analisa Maria.
Contudo, nem todo mundo que trai concorda que é possível continuar. A fisioterapêuta Bruna*, de 29 anos, conta que com ela a situação foi diferente e, para ela, o caso fora do relacionamento foi um divisor de águas. “Eu só tive coragem de aceitar que não amava mais meu namorado quando o traí.”
Ela conta que nunca tinha tido interesse por outros homens, mas desde que começou a se relacionar com um rapaz do seu trabalho passou a prestar atenção no que sentia pelo parceiro.
“No começo, ficava tentando me convencer de que estava vivendo uma aventura que teria fim em breve e tudo continuaria igual. Mas logo comecei a querer ficar com outras pessoas... o namoro ficou insustentável e terminei”, diz Bruna.
Leia também: Como superar uma traição? Aprenda a lidar com a situação
Independente dos exemplos citados, é preciso deixar claro que não existe um fórmula mágica que define se a traição deve ou não ser relevada. Cada caso é um caso, e não há ninguém mais indicado para avaliar qual decisão tomar se não você mesma.
*Os sobrenomes foram omitidos a pedido das mulheres