Fui traída. Isso significa que é uma relação abusiva?
Questionamos isso para algumas especialistas que explicam o que de fato é um relacionamento abusivo
Por Claudia Ratti |
Em tempos de “exposed” e denúncias de infidelidade nas redes sociais, a discussão sobre traição ser ou não um abuso voltam à tona. Afinal, ser traída significa estar em uma relação abusiva ? Com isso em mente, buscamos algumas profissionais para discutir o assunto.
Para a psicóloga Livia Marques, especialista em terapia cognitiva comportamental, a traição pode, sim, ser considerada um abuso. “Em muitos casos, pode se configurar como um abuso por expor e desrespeitar o limite e o corpo do outro. A partir do momento em que você trai, você coloca o outro em lugar vulnerável e de exposição. É abusar da boa vontade, do afeto e da confiança”, diz.
Para entender a traição como abuso, Livia explica que é preciso romper com a ideia de que o abuso é apenas físico. “O abuso pode ser quebrar combinados dentro de um relacionamento”, pontua.
Ela ainda comenta que “quando falamos de traição, não estamos falando de padrão”, por isso, não é possível “medir” o que o outro sente com base nas nossas experiências, ou seja, não dá para dizer que não é abusivo, se a mulher afirma que é. “A traição pode acontecer comigo de uma forma e eu interpretar de um jeito, mas o outro não. Não podemos medir o que o outro está sofrendo com a nossa régua”, comenta.
Livia ainda lembra: “Relacionamentos abusivos são tóxicos e a traição é tóxica, porque ela fere você”.
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Por outro lado, Marina Prado Franco, psicóloga mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, diz que é preciso analisar alguns pontos antes de afirmar que traição é abuso. “Traição por si só não pode ser considerada um abuso, mesmo em caso de um relacionamento monogâmico. Quando a traição acontece, se for isolada, é muito mais uma irresponsabilidade afetiva, uma não transparência no relacionamento com o outro do que um abuso propriamente”, pontua.
Rosângela Matos, especialista em relacionamentos, concorda. “Quando a traição vem acompanhada de manipulação, abuso psicológico, humilhações e jogos emocionais pode ser considerado um abuso”, explica.
Nesse sentido, Marina diz que é preciso de um histórico associado a outros comportamentos, como esses citados por Rosângela. “O abuso preciso de uma junção de comportamentos que, em alguns casos, inclui a traição”, completa.
Afinal, o que é um relacionamento abusivo?
Segundo Livia, um relacionamento abusivo é aquele onde um deseja controlar o outro, desrespeitando o espaço, se aproveitando do amor e da afetividade do outro. “Às vezes, nem percebemos o abuso, porque nem sempre é físico. É o controle, a falta de cuidado, o abandono”.
Rosângela reforça que é toda e qualquer forma de controle sobre o outro e alerta para atitudes como:
- Ciúme possessivo e desconfiança
- Manipulação
- Isolamento da família, amigos e círculo social
- Críticas constantes e humilhação
- Jogos emocionais que fazem com que a vítima acredite que não faz nada direito
- Controle sobre roupas, patrimônio, celular e senhas e até mesmo escolhas
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