A proposta é tentadora. Chegar ao ápice do prazer sem nem sequer ser tocada, só por meio da hipnose, pode ser, na visão de muitas mulheres, revolucionário. Ainda mais, considerando todo o tabu enfrentado pelo sexo feminino quando o assunto é orgasmo - sensação que muitas não conseguem atingir, mesmo por meio da relação sexual.

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Já pensou em ter um orgasmo apenas com indução mental? A hipnose erótica promete te dar essa sensação
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Já pensou em ter um orgasmo apenas com indução mental? A hipnose erótica promete te dar essa sensação

Mas, de acordo com as adeptas da técnica, a promessa é real. Mulheres contam que com a ajuda da hipnose, mais especificamente a hipnose erótica, elas conseguiram chegar lá e relatam que a experiência tem transformado suas vidas.

Quando procurou o amigo que aplicava essa técnica, R.* achou que não ia conseguir entrar em transe por ser, como ela mesma se define, “control freak” (termo em inglês, usado para descrever pessoas que apresentam controle exagerado).

“Eu achava que a hipnose era um processo que não me deixaria no controle [do corpo e mente], quando, na verdade, a gente só faz aquilo que a gente quer fazer”, conta ela.

Depois de algumas sessões, e de perder o receio sobre o assunto, ela achou que estava pronta para avançar e testar uma vertente que seu amigo estava começando a aplicar: a hipnose erótica.

“Atingi o orgasmo sem tocar no meu corpo”, afirma. A princípio, ela conta que tentou a técnica pela primeira vez por curiosidade e confessa que não achou que desse certo. “É uma coisa que você acha bizarro, pensa que não deve funcionar. Mas na hora que você faz, vê que o relaxamento é profundo, mas que você está consciente o tempo todo do que está fazendo”, descreve.

Sobre o fato de ter um orgasmo sem que houvesse qualquer interação com o corpo (dela e do hipnólogo), R. diz que isso a ajudou a entender que essa questão do prazer está muito mais ligada “à cabeça” do que à sexualidade da maneira que estamos acostumadas - atrelada ao contato físico.

Após algumas sessões recreativas, ela conta que até chegou a usar o método como um tratamento terapêutico. “Entendi que dá para aplicar o orgasmo e outros estímulos da técnica para trabalhar outras dificuldades que tenho na vida.”

Embora afirme que “não cura e nem trata nada”, o hipnólogo Alessandro Martins, formado pelo IBHT (Instituto Brasileiro de Hipnoses e Terapias), responsável pelas sessões de R., explica que o uso erótico da hipnose tem apenas finalidade recreativa, mas que não há dúvidas de que uma pessoa com a sexualidade mais satisfatória consiga abrir caminhos para tratar eventuais problemas.

Já a hipnose clínica pode ajudar no tratamento de fobias, redução ou eliminação de maus hábitos e até alívio de dores crônicas, sendo, inclusive, reconhecida por entidades como o Conselho Federal de Medicina.

No caso de R., ela conta que estava tendo dificuldades para confiar em seu trabalho. Então, em seu atendimento, foi explorada a questão da confiança e que o orgasmo foi usado para “registrar no inconsciente que aquele sentimento trabalhado era algo bom, que gerava prazer”, conforme explica ela.

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Hipnose erótica ajuda na maneira que lida com o prazer

O prazer causado em uma sessão de hipnose erótica é diferente do que acontece no ato sexual, segundo adeptas
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O prazer causado em uma sessão de hipnose erótica é diferente do que acontece no ato sexual, segundo adeptas

Alessandro explica que “o orgasmo – assim como todas as nossas percepções sensoriais – só é vivenciado se passar pela interpretação da mente”. “Podemos evocar qualquer sensação ou sentimento através da hipnose. O orgasmo é uma delas”, simplifica.

A argumentação do hipnólogo é de que, a sociedade é educada a acreditar que se depende de partes específicas do corpo humano para atingir esse estado de excitação.

Por isso, as percepções sobre essa sensação acabam sendo concentradas apenas na possibilidade do toque, na interação corporal física, limitando o campo de sensibilidade que pode ser expandido para outras áreas, como a mental.

“O orgasmo pode acontecer em todo o seu corpo e mente e a hipnose erótica te pode ensinar a se atingir esse estado”, afirma.

E.* é uma das clientes que aprova a tese defendida por Alessandro. Quando decidiu experimentar a sessão, ambos estavam fazendo um curso juntos, em meio a outras pessoas, e ela não chegou a ter o orgasmo durante a aplicação da técnica - que não chegou a ser completada -, mas sentiu o poder da indução hipnótica.

“Embora eu não tenha chegado ao orgasmo na sessão, a indução me deu um bem-estar muito gostoso e, talvez se eu levasse mais 10 ou 15 minutos, eu chegaria lá, no ápice, porque estava realmente em uma vibe muito boa. E sem ele encostar a mão em mim, que isso fique muito bem claro!”, garante.

Para ela, o mais interessante foi como a experiência teve um resultado positivo em sua vida. “No mesmo dia, fui pra minha casa, fiz minhas coisas, tomei um banho e me deitei. No meio da noite, acordei duas vezes bastante excitada.”

E. explica que apesar de ter tido o orgasmo, a excitação é diferente da sentida quando envolve uma relação carnal com outra pessoa ou masturbação própria, por exemplo.

“É uma sensação muito natural, como quando você tem fome, ela simplesmente acontece, você não precisa instigar para acontecer. Era assim que eu estava me sentindo. Não era um desejo sexual animal, foi uma sensação muito agradável”, pontua.

A sessão fez com que E. entendesse que não é preciso vincular a questão sexual com um parceiro ou uma parceira. “A gente precisa entender que isso é algo nosso, e que a gente pode alcançar isso por nós mesmos. E olha que bonito: se a gente consegue alcançar isso simplesmente com a hipnose, sem necessitar de uma manipulação ou algo assim, então isso é tratamento, isso é saúde”.

Como funciona a indução hipnótica

As sessões de hipnose erótica acontecem como uma sessão de terapia, com a mulher sentada em algum lugar confortável; a cliente recebe instruções do hipnólogo que a levam para um estado de transe, conforme explica Alessandro
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As sessões de hipnose erótica acontecem como uma sessão de terapia, com a mulher sentada em algum lugar confortável; a cliente recebe instruções do hipnólogo que a levam para um estado de transe, conforme explica Alessandro

Alessandro explica que a hipnose é uma indução intencional a um “saudável estado de transe a que acessamos espontaneamente todos os dias”. Segundo ele, estamos em transe hipnótico, muitas vezes, sem perceber, seja enquanto vemos um filme, lemos um livro, mexemos no celular ou estamos naquele momento entre o sono e a vigília, prestes a dormir ou a acordar.

“É um estado natural e revigorante que todos nós podemos alcançar, sozinhos ou com a ajuda de alguém que saiba conduzir”, garante. O procedimento supera as barreiras críticas do consciente e acessa o subconsciente.

“É a partir do subconsciente que as transformações acontecem em nossa vida e nele estão os aprendizados – bons ou maus – sedimentados e que transparecem em nossos comportamentos”, afirma.

Quando se fala na hipnose erótica, ele conta que funciona como uma sessão de hipnose como qualquer outra. “Eu em uma cadeira, você num sofá confortável. Nesse cenário agradável e seguro, eu desenvolvo a técnica hipnótica, com sugestões e comandos, sempre atento a suas reações e demandas”.

É por conta desse clima de segurança, acolhimento, relaxamento e desbloqueio que a pessoa acaba atingindo o orgasmo, que é uma sensação, antes de tudo, mental. “Através do subconsciente, que desconhece as limitações da mente consciente, é possível acessar os estados necessários para se chegar ao ápice do prazer”.

Por isso, é comum que se atinja o orgasmo sem qualquer estímulo físico durante uma sessão. Isso ocorre sem nenhum contato físico, apenas em pontos considerados neutros do corpo tais como cabeça, pulso, mão, ombro ou joelho. “Se for o caso, nem isso é preciso, visto que são possíveis sessões por vídeo se você preferir o conforto de sua casa ou estiver distante”, ressalta.

Sobre o que é falado, Alessandro brinca: “É uma sessão de hipnose erótica. Obviamente, não vamos rezar o terço. Porém, a ideia é conduzir a pessoa a um estado prazeroso seguindo algumas instruções”.

Mas calma! De acordo com E., “não tem nada de erótico, ‘vulgar’, nada que te afronte em uma sessão dessas. É muito agradável”, aponta.

Ela conta que começa com um relaxamento, que, de acordo com a explicação do hipnólogo, é um momento que você “muda a frequência do seu cérebro”, ou, basicamente entra em uma “vibe” mais relaxada, semelhante ao estado do meio acordado, meio dormindo, já dito antes.

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“Aí entram as sugestões. A forma de ele lidar com a sexualidade e a questão do orgasmo é muito ética, linda e profissional. Você não sai dali sentindo tesão pela pessoa ou que você vai agarrar o primeiro poste que encontrar na rua e fazer alguma coisa com ele. Não! É aquela sensação de bem-estar que vem depois do orgasmo. É incrível”, completa - e recomenda.

*Os nomes foram ocultados a pedido das entrevistadas

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