Em 2016, uma pesquisa da empresa Gentis Panel mostrou que 52% dos brasileiros não usava preservativo masculino durante as relações sexuais. A rejeição com a camisinha feminina, porém, é ainda maior. Prova disso é a distribuição ainda baixa do método no SUS: são distribuídos anualmente 10 milhões de preservativos femininos, ante 375 milhões de camisinhas masculinas distribuídas em 2016, por exemplo, pelo Ministério da Saúde. Como consequência, muitas mulheres nem mesmo sabem como utilizá-lo.
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Além de prevenir uma gravidez indesejada e barrar DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) - inclusive durante o sexo oral, porque um pedaço da camisinha feminina fica para fora do canal vaginal e pode ser usado para recobrir os grandes lábios e clitóris da mulher para realizar o sexo oral -, sua taxa de eficácia é praticamente a mesma da masculina.
Quando usada de modo correto, a masculina apresenta uma eficácia de 98%, mas se colocada sem atenção e cuidado, essa taxa cai para 85%. A feminina, por sua vez, apresenta uma taxa de eficácia de 90-95%.
O ginecologista e obstetra Domingos Mantelli reforça ainda a vantagem de ser uma opção para a mulher usar, que ela mesma pode colocar. Isso é principalmente importante porque ainda existem homens que se recusam a usar a camisinha masculina e há até relatos de casos de "stealthing", quando o homem, sem que a mulher perceba, remove o preservativo e dá continuidade ao sexo sem proteção.
"O risco de ruptura também é bem menor, porque com a camisinha masculina, se você colocar errado, se entrar um pouquinho de ar, já pode romper", explica. Além disso, por ficar no corpo da mulher, não depende da ereção do homem para ser colocada e pode ser inserida no canal vaginal de seis a oito horas antes relação sexual acontecer de fato.
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Outra vantagem do preservativo feminino é que ele não é feito de látex, mas de borracha nitrílica, ideal para alérgicos. O método também é flexível e, por conta do material, mais fino do que o de uma camisinha masculina.
A camisinha feminina, contudo, é mais cara que seu equivalente masculino, sendo esse outro dos motivos pelos quais ela acaba sendo rejeitada. A unidade do preservativo feminino, como é normalmente vendido, custa entre R$ 8 e R$ 10. Já o pacotinho com três camisinhas masculinas pode ser encontrado por R$ 3, dependendo da marca e da farmácia.
Mulheres opinam sobre o preservativo feminino
Por todas as vantagens, Mariana Souza, de 26 anos, diz preferir o preservativo feminino, apesar de tê-lo usado poucas vezes, justamente por nem sempre estar disponível em postos de saúde e por ser mais caro. "Nem parecia que estava usando nada", afirma ao Delas .
Mas a opinião de Mariana não é regra, visto que a sensação da camisinha feminina no corpo é bastante diferente. Esse é o caso de Beatriz*, que contou que, apesar de o método ser bem lubrificado, ela ficou o tempo todo durante o sexo com a impressão de que iria cair. "Eu e o meu parceiro precisamos ficar segurando porque, com os movimentos, dava a impressão de que ela ia deslizar junto com o pênis. Nós também achamos que ela era muito barulhenta, um barulho de plástico mesmo, desconfortável."
O receio de Beatriz é natural, mas Domingos explica que não passa de uma impressão e que é baixo o risco de a camisinha "cair". "Por conta da argola que é usada para colocar, que se abre dentro do canal vaginal, ela segura o preservativo no lugar para que ele não caia durante o sexo, apesar de realmente dar essa impressão, até porque uma parte do preservativo fica para fora da vagina", afirma.
Como usar a camisinha feminina
Mas é fato que colocar a camisinha feminina requer um pouco de prática. O ginecologista e obstetra ensina que a extremidade com o anel interno é a que deve ser introduzida na vagina. Para isso, "aperte a argolinha e, usando os dedos, empurre-a o mais fundo possível para posicionar a camisinha, de modo a tapar o orifício do colo do útero, e solte a argola". A outra extremidade deve ficar cerca de três centímetros para fora da vagina.
Na hora da relação, o pênis deve ser introduzido dentro da camisinha. O médico reforça que a movimentação do preservativo durante o ato é normal, mas é importante prestar atenção para que o anel externo não acabe entrando na vagina - isso é sinal de que falta lubrificação, algo que pode ser corrigido com qualquer lubrificante à base de água.
Terminada a relação, basta torcer a extremidade localizada para fora da vagina para que o esperma não saia na hora de removê-la e então puxá-la delicadamente.
Domingos afirma que não existem contraindicações para seu uso - que pode ocorrer até mesmo quando a mulher estiver menstruada -, o único porém é que ela não pode ser combinada com a camisinha masculina. O atrito entre os dois preservativos pode romper um deles, ou ambos.
Mariana diz que a colocação é bastante simples, mas confessa que na primeira vez que usou ficou com receio de o preservativo "dobrar" e de seu parceiro "errar o buraco". "Depois peguei a prática e foi mais prazeroso", diz.
Para as mulheres que querem testar o método, ela recomenda colocá-lo sem pressa e com calma. "Ela é meio esquisita, grande e até assusta um pouco, mas com paciência dá tudo certo e aí é só relaxar e gozar".
Beatriz teve opinião similar à de Mariana, dizendo ser relativamente fácil colocar o preservativo, apesar da experiência desfavorável que teve, "talvez porque eu já use o coletor menstrual e, então, tenho um autoconhecimento maior do meu corpo. Nesse sentido é até bom, já que infelizmente as meninas ainda não têm o hábito de se tocar e se conhecer".
Ela pondera também que sua opinião se baseia em apenas uma tentativa e que, talvez, "se tivesse tentado mais vezes", teria uma opinião diferente, até por isso gostaria que o preservativo fosse mais facilmente encontrado em postos de saúde. Beatriz também recomenda que outras mulheres testem o método, ainda que seja para concluir que não se identificam com ele, como foi seu caso.
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"Qualquer experiência é sempre válida. A camisinha feminina não tem látex, o que é sempre bom, e às vezes o casal se identifica mais com ela do que com outros métodos. E se não for algo confortável, no mínimo renderá algumas risadas e novas histórias para contar", brinca.
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*O nome verdadeiro da entrevistada foi trocado para preservar sua identidade