Não é difícil encontrar mulheres de idades diversas que se queixam de dores durante ou após a relação sexual. Ao mesmo tempo em que o problema pode ser causado por condições severas e que requerem tratamento especializado – como o vaginismo, a dispareunia ou até endometriose –, a sexóloga Carla Cecarello, do site “C-Date”, afirma que, normalmente, a ardência que essas mulheres sentem durante o sexo é causada pelo ressecamento vaginal.
De acordo com um estudo recente encomendado pela farmacêutica TEVA, das mais de mil mulheres entrevistadas, 20% desconhece totalmente o problema, enquanto 88% delas demonstram um conhecimento superficial sobre o ressecamento vaginal . Conforme explica o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli, há muitos fatores que podem causar essa “falha” na lubrificação natural da mulher, que é produzida por glândulas da vagina e torna a penetração confortável. Confira 6 fatores que podem ocasionar o problema e como lidar com cada um deles:
1. Limpeza em excesso
Apesar de as pessoas não gostarem (e muitas vezes não entenderem) esse fato, a ginecologista Mariana Maldonado afirma que a região íntima feminina tem, sim, um odor natural. Buscando eliminar esse odor, muitas mulheres apelam para os diversos “produtos de higiene íntima” que o mercado oferece. No entanto, além de esses produtos não serem exatamente necessários para que a região íntima fique limpa, eles também podem ser prejudiciais para a saúde dela.
De acordo com a ginecologista, a vagina possui um pH específico, e utilizar produtos como sabonetes e perfumes íntimos pode bagunçar a flora da região, causando esse ressecamento. A dica, segundo Mariana, é evitar produtos muito elaborados. A limpeza pode ser feita apenas com água, já que a vagina se regula sozinha, mas, se a mulher sentir necessidade de usar um produto, ele deve ser totalmente neutro.
2. Abafamento da região
Nem sempre o muco vaginal indica problemas na região íntima. Para lidar com ele, porém, muitas mulheres recorrem a produtos que prometem mantê-las secas, como protetores diários de calcinha, o que pode, sim, prejudicar a lubrificação natural. Mariana afirma que esse tipo de produto deve ser evitado ao máximo, enquanto Mantelli aconselha até a tomar cuidado com o tempo de uso de outras coisas, como absorventes (tanto externos quanto internos) e calças muito apertadas.
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3. Cigarro
De acordo com a Mayo Clinic, organização norte-americana sem fins lucrativos que cuida de pesquisas, educação e atendimentos na área da saúde, fumar afeta a circulação sanguínea, fazendo com que os tecidos da vagina não recebam oxigênio suficiente. Além disso, o hábito também prejudica a produção de estrogênio pelo corpo e pode até adiantar a menopausa. Todos esses fatores podem contribuir para o ressecamento vaginal e a dica aqui é tentar ao máximo deixar o cigarro de lado.
4. Menopausa
Apesar de algumas mulheres sofrerem com a menopausa precoce, esse processo normalmente ocorre após os 50 anos. Nele, a mulher enfrenta um desequilíbrio na produção de hormônios, o que pode causar alterações no corpo, problemas para dormir, o fim da menstruação, calores esporádicos e até uma falha na irrigação do canal vaginal.
Com esse ressecamento vaginal, o sexo fica desconfortável e muitas mulheres preferem encerrar a vida sexual, mas, segundo a fisioterapeuta uroginecológica Débora Padua, é possível tratar o problema. A especialista explica que, após consultar um médico, a mulher pode ser orientada a fazer a reposição hormonal – que busca reequilibrar a produção de hormônios do corpo –, utilizar géis hidratantes, lubrificantes à base de água e até fazer fisioterapia íntima para recuperar a flexibilidade do canal vaginal.
5. Periodo de amamentação e pós-parto
Sim, após dar à luz e durante a fase que a mãe está amamentando o recém-nascido, é possível que ela experimente o ressecamento vaginal. Conforme conta Leah Millheiser, professora assistente de obstetrícia e ginecologia da Universidade de Stanford (Estados Unidos) consultada pelo site “Refinery29”, é comum que a quantidade de estrogênio produzida pelo corpo diminua. Esse hormônio se relaciona com o funcionamento dos órgãos genitais, e a redução dele no organismo pode levar ao ressecamento do canal vaginal.
A especialista explica também que, para que a mulher possa amamentar, o corpo produz um hormônio que suprime a produção de estrogênio e testosterona, agravando a questão do ressecamento. Segundo Leah, se a mulher tiver desejo de manter a vida sexual ativa no período, o ideal é buscar lubrificantes e hidratantes vaginais que não tenham hormônio na composição.
6. Medicamentos e tratamentos para determinadas doenças
Há algumas substâncias presentes em remédios que também podem prejudicar a lubrificação natural da mulher. De acordo com Leah, as pílulas anticoncepcionais são as principais culpadas pelo problema quando ele ocorre em mulheres mais jovens, já que, tanto esse medicamento quanto o anel vaginal funcionam liberando hormônios no organismo e suprimindo a produção da testosterona e do estrogênio que o próprio corpo tem naturalmente, o que pode gerar, para a vagina, um efeito parecido com o da menopausa. Em casos como esse, o ideal é a mulher discutir com o ginecologista o uso de outro método contraceptivo, como DIU de cobre.
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Porém, as pílulas anticoncepcionais não são os únicos medicamentos que podem ser responsáveis pelo ressecamento vaginal. Segundo Leah, antidepressivos são capazes de ter o mesmo efeito, assim como o tratamento contra o câncer. A ginecologista e obstetra Trícia Barreto explica que, normalmente, pacientes com câncer costumam sofrer com um estreitamento do canal vaginal causado pelas substâncias presentes na medicação. Em casos assim, Trícia afirma que é possível devolver o conforto à mulher com cremes vaginais de ação hormonal ou apenas hidratantes.