Desde pequenos, os homens não sofrem muitas represálias quando começam a descobrir o próprio corpo ou a falar sobre questões relacionadas a sexo . Enquanto isso, mulheres costumam crescer mantendo certa distância de tópicos assim, muitas vezes com medo de iniciar a vida sexual e até mesmo de tocar a si mesmas. Por questões culturais e até psicológicas, há mulheres que mal conseguem chegar ao orgasmo, mas, contrariando as críticas que costumam ser feitas àquelas que se dedicam ao próprio prazer, estas 22 moças o fizeram na frente de uma câmera fotográfica.   

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Divulgação/Marcos Alberti
No "The O Project", Marcos Alberti busca retratar o antes, e o durante e o depois do orgasmo feminino da forma mais natural e real possível, diferente de como é constantemente retratado na pornografia e outras obras de ficção

Intitulado “The O Projetc”, o ensaio foi publicado nesta quarta-feira (18), é obra do fotógrafo Marcos Alberti e retrata mulheres antes, durante e após terem um orgasmo utilizando um vibrador. Alberti também é autor da viral “Wine Project” , série fotográfica que mostra a expressão das pessoas conforme elas tomam mais e mais taças de vinho, e, em partes, foi desse ensaio que surgiu a ideia de retratar a transformação no rosto de mulheres em um momento tão íntimo.

“Uma empresa de massageadores de Singapura, a Smile Makers, me chamou. Eles queriam um trabalho que abordasse isso de forma diferente, como no trabalho do vinho”, afirma o fotógrafo ao Delas .

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Marcos Alberti/divulgação
A forma de retratar as mulheres é parecida com a de outro ensaio do fotógrafo, o "Wine Project", que viralizou no mundo inteiro em 2016

Segundo Alberti, a companhia asiática enxerga a masturbação feminina como algo relacionado ao bem-estar das mulheres, não como algo necessariamente erótico, e ele afirma que se sentiu inclinado a trabalhar com eles por se identificar com a visão.

“Quando você fala: ‘Vou fotografar 20 e poucas meninas se masturbando’, as pessoas pensam em algo pesado, mas nós queríamos fazer de maneira leve, divertida e que não ofendesse ninguém”, explica o fotógrafo, reforçando que a intenção não era ter um resultado puxando para o "sexy".

O fotógrafo explica que, antes de a empresa entrar em contato, ele já pensava em conduzir um projeto com essa temática, mas que a cultura brasileira, por ser muito “fechada”, tornou difícil a busca por mulheres que não fossem atrizes pornô e que topassem participar. Sendo assim, Fan Yang, a gerente da marca, fez uma postagem no Facebook para encontrá-las.

“Queríamos mulheres comuns e foi muito difícil. No começo, duas mil mulheres se candidataram e, conforme ela foi falando sobre o projeto, elas foram desistindo. O número caiu para 200, depois para 50, 30, e aí caímos na casa de 22. Elas são muito corajosas, acho que realmente quebraram um tabu muito grande”, elogia Alberti.

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Como montar um ensaio tão íntimo

Apesar de as moças já serem corajosas simplesmente por toparem participar do ensaio íntimo, Alberti e Fan se certificaram de que o estúdio e o processo fossem bastante confortáveis e não ferissem a intimidade delas. Segundo o fotógrafo, uma cortina com um orifício para posicionar a lente da câmera foi instalada no local e as mulheres ficaram sentadas atrás dela, cobertas da cintura para baixo por uma mesa.“Eu conversava bastante com elas, tentava deixá-las confortáveis, colocava uma música. Na primeira foto, eu pedia que elas olhassem para mim, clicava e pedia que elas fizessem tudo no tempo delas. Praticamente todas se esqueceram que eu estava lá”, relembra.

Ele conta que, ao final do projeto, elas se surpreenderam com as imagens e ele aprendeu um bocado. “Foi a primeira vez que alguém fotografou o desenvolvimento de um orgasmo. Olhando de perto, você pode perceber que até a pele muda, vai ficando vermelha, tem essas transformações. Todas elas se transformaram muito”. Confira detalhes dos bastidores do ensaio:




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Pela liberdade sexual

De acordo com especialistas em sexualidade e estudos sobre o assunto, o fato de que grande parte do material pornográfico disponível atualmente não representa a realidade – já que mostra ereções intermináveis, corpos 100% depilados e, frequentemente, negligencia o prazer feminino, colocando a mulher como objeto – pode fazer com que as pessoas tenham uma ideia errada a respeito do sexo e se decepcionem não só com a performance alheia, mas com os próprios desejos.

Segundo Alberti, o “The O Project” tenta justamente contrariar esse distanciamento que trabalhos eróticos têm da realidade e busca envolver as pessoas na experiência dessas mulheres. “Quando você fala sobre uma ‘expressão de orgasmo’, as pessoas pensam no que é exibido na televisão e na internet, mas isso é muito diferente da realidade. Quando estou com uma mulher, estou participando da experiência, não estou vendo isso de maneira fria e afastada. Eu queria justamente pegar as expressões mais reais possíveis”, comenta o fotógrafo.

Porém, segundo o autor do ensaio, o objetivo ainda vai além de simplesmente retratar o orgasmo feminino como ele realmente é. Com o ensaio, Alberti quer estimular a quebra do tabu que é a sexualidade feminina.

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Segundo Alberti, a dificuldade em encontrar mulheres “reais” – ou seja, que não fossem acostumadas à exposição durante um momento íntimo como o de um orgasmo – mostra como o assunto é um tabu para elas. “É comum que homens falem sobre masturbação, mas as mulheres não falam. Vejo que, muitas vezes, as mulheres se obrigam a ter determinadas posturas e têm medo de fazer algumas coisas, eu quero que esse ensaio seja o início de uma nova discussão, uma nova conversa”, explica, reforçando a esperança de que o trabalho seja até um ensinamento para futuras gerações. “Não quero que o jovem, quando estiver descobrindo a sexualidade, se obrigue a seguir padrões totalmente falsos”, finaliza.

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