Após passar a vida toda tendo diversos aspectos do funcionamento do organismo regulados por hormônios, chega um estágio da vida da mulher em que a produção dessas substâncias entra em desequilíbrio. Esse momento é chamado de menopausa e, em geral, faz com que a produção de hormônios caia, trazendo sintomas como alterações no formato do corpo, calores, distúrbios de sono, fim da menstruação, perda de apetite sexual e até dor na relação sexual.
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De acordo com Débora Padua, fisioterapeuta uroginecológica e especialista em condições que causam dor na relação sexual, não há uma idade certa para a chegada da menopausa na vida da mulher, mas normalmente ela ocorre após os 50 anos, podendo também se apresentar de forma precoce antes dessa idade. Independente da idade em que ela chega, os sintomas podem se manifestar de forma extrema em muitas mulheres.
A especialista afirma que 18% da população feminina sofre com algum tipo de transtorno de dor ligado à penetração e, para muitas, a situação é desencadeada justamente pela bagunça de hormônios que ocorre durante a menopausa. De acordo com ela, o quadro diminui a irrigação e a flexibilidade do canal vaginal, tornando a penetração extremamente desconfortável. O incômodo durante o sexo combinado com a falta de apetite sexual pode fazer com que muitas mulheres deixem a vida sexual de lado.
Segundo Débora, antes de avanços da medicina que permitem que o homem continue tendo ereções durante a terceira idade, a vida sexual da mulher costumava “acabar” junto com a do parceiro, mas, hoje, as que têm dores durante a relação se sentem “deixadas para trás” por não conseguirem fazer sexo. “Se o casal sempre teve uma vida sexual boa, muitas vezes eles conseguem continuar sem a penetração, mas isso não é o geral”, conta a fisioterapeuta.
É possível prevenir a condição?
Muitas atividades e hábitos são realmente úteis para manter uma vida sexual saudável. É o caso da ioga, do pompoarismo e do tantra, práticas que fortalecem a musculatura pélvica por meio de exercícios e filosofias, dando mais consciência corporal à mulher e fazendo com que o sexo seja ainda melhor.
Apesar de práticas como essas favorecerem, e muito, a mulher ao longo da vida, Débora afirma que não há indícios de que elas podem prevenir as mudanças que a mulher enfrenta na vida sexual com a chegada da menopausa. De acordo com a fisioterapeuta, a dor durante o sexo é causada por falta de flexibilidade e lubrificação na mucosa vaginal proveniente do desequilíbrio hormonal, aspecto que essas atividades não conseguem controlar.
Da mesma forma que esse tipo de exercício não previne as consequências das alterações hormonais, a frequência das relações sexuais também não influencia em nada. “Trato mulheres que tinham uma vida sexual fantástica e, quando entraram na menopausa, isso se alterou bastante”, conta Débora.
Diminuição da flexibilidade x vaginismo
Há muitos anos, o vaginismo – disfunção sexual feminina que faz os músculos pélvicos se contraírem involuntariamente, impedindo a penetração – era considerado um problema exclusivo de mulheres que haviam sofrido algum tipo de abuso. Hoje, é sabido que o distúrbio tem um fundo psicológico e, segundo Débora, cerca de 5% das mulheres são afetadas por ele.
A perda de flexibilidade e irrigação da mucosa vaginal não é a mesma coisa que o vaginismo, mas, de acordo com a especialista, pode se tornar algo bastante parecido. Ela explica que a partir do momento em que o sexo começa a ser doloroso, a mulher cria uma “memória de dor”, ou seja, associa o ato sexual à dor, passando a evitá-lo. Enquanto a dor inicial foi causada pelos hormônios desregulados, o fato de a mulher esperar que a penetração seja desconfortável pode fazer com que ela desenvolva um distúrbio.
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Tratamentos
Você chegou aos 50 e poucos anos, começou a sentir os efeitos da menopausa no corpo, sente dor na relação e não consegue retomar o interesse e o prazer no sexo? Segundo Débora, há, sim, algumas coisas que podem ser feitas para reverter a situação. De início, é importante a mulher ir ao ginecologista e consultá-lo a respeito da reposição hormonal.
Muito criticada por alguns profissionais, a reposição hormonal é uma das principais indicações que médicos dão a mulheres que estão passando pela menopausa. Ela pode ser feita de formas variadas, como injeções, géis e até a implantação de um chip, mas, segundo Débora, além de muitas mulheres não se adaptarem ao tratamento, ele pode não resolver o problema da dor na relação.
De acordo com ela, alguns tratamentos locais podem ter um efeito positivo; alguns ginecologistas recomendam o uso de lubrificantes que contêm hormônios, hidratantes vaginais para diminuir o ressecamento da área íntima e lubrificantes à base de água para usar durante as relações sexuais.
Ainda assim, Débora afirma que esse tipo de recurso pode, em muitos casos, servir apenas para amenizar os sintomas. Com isso, muitas mulheres seguem se afastando cada vez mais dos parceiros, mesmo que isso as deixe desapontadas. “O que a gente mais vê nos consultórios são mulheres que abandonam a vida sexual, mas ela não precisa encerrar a vida sexual por isso”, afirma a especialista.
Segundo Débora, a fisioterapia íntima é uma das saídas mais eficazes para o problema, mas ainda é um tratamento pouco conhecido por muita gente. “O grande problema é que elas vão só ao ginecologista. Eles receitam uma pomadinha e, se ela continuar sentindo dor, dizem que não há o que fazer”, conta, ressaltando que o tratamento com fisioterapia são eficazes de 70% a 80% das situações.
O objetivo da fisioterapia íntima é fazer com que o canal vaginal se torne novamente flexível e fique mais irrigado por meio de técnicas algumas técnicas. Débora afirma que, de início, realiza-se a massagem perineal, que consiste em fazer alguns movimentos dentro da vagina para incentivar a maleabilidade da mucosa.
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No caso de mulheres que sentem medo do sexo em razão da constante dor na relação, Débora afirma que o uso de dilatadores é indicado. “Mas não é simplesmente colocar um dilatador porque isso é a mesma coisa que a entrada do pênis, então ela também faz algumas técnicas de fisioterapia, como a introdução de um eletrodo no canal. O estímulo elétrico diminui a contração que pode estar alterada”, finaliza.