Apesar de muitos torcerem o nariz para qualquer prática “incomum” relacionada ao sexo – como o uso de chicotes, algemas, gosto por partes específicas do corpo, fantasias ou até mesmo a busca do prazer pela dor –, ter fetiches não é algo tão incomum assim. Um estudo recente publicado pelo “The Journal of Sex Medicine” afirma que, entre as mais de mil pessoas consultadas, 45,6% delas têm interesse em algum tipo de fetiche.
De acordo com o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., o conceito de fetiche é bastante antigo e vem da palavra “feitiço”. Há pelo menos quatro séculos, o conceito remetia à ideia de amuletos possivelmente encantados por bruxas como forma de afastar o mau-olhado. Hoje, a noção de fetiches segue parcialmente ligada a objetos. “O que se chama de fetiche é normalmente um objeto que auxilia ou serve de intermediário ou participante do processo de desejo, excitação e sensação de prazer em um contato sexual”, afirma o psicólogo.
Ele explica, porém, que fetiches podem ter formatos diferentes; além da atração por objetos específicos que estejam ou não em contato com o corpo (como lingeries), preferências sexuais relacionadas à aparência (cor de cabelos, vestimenta etc.) e hábitos que atuem como métodos para se chegar ao prazer (como a dor funciona para algumas pessoas) também fazem parte do fetichismo.
Saudável ou patológico?
O mesmo estudo citado também fez um levantamento sobre as fantasias sexuais encontradas mais frequentemente. De acordo com ele, a atração por objetos comuns fica em primeiro lugar, o que se relaciona com a definição dada por Rodrigues. Em segundo lugar, porém, vem o chamado frotteurismo, que consiste em esfregar as próprias genitais em uma pessoa sem que ela dê consentimento para isso.
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Práticas como esta levantam uma questão: até que ponto os fetiches deixam de ser preferências sexuais que atuam no caminho para o prazer e se tornam prejudiciais tanto para quem os pratica quanto para as pessoas ao redor? De acordo com Rodrigues, os fetiches constituem um grupo de parafilias (comportamentos sexuais incomuns com relação à maioria da população) e, a partir do momento que saem do controle, tornam-se transtornos parafílicos. “A pessoa com transtorno tem essa preferência e normalmente não sabe obter prazer além dessas formas”, afirma o profissional.
Em razão da inabilidade em se satisfazer de formas convencionais, Rodrigues explica que as práticas se tornam algo patológico a partir do momento em que a pessoa concretiza os fetiches sem que haja consentimento de quem está participando da experiência. “A pessoa acaba procurando formas ilícitas de se satisfazer. São, na maioria, homens e estão cometendo um crime, já que estão invadindo a privacidade alheia e causando danos para outra pessoa”, afirma.
Para ilustrar, o psicólogo cita os inúmeros casos de homens que são pegos masturbando-se no metrô e, por vezes, desrespeitam o espaço de mulheres encostando nelas sem consentimento. “Quando se impõe algo a outra pessoa sem perguntar, sem se importar com o que ela sente, pode ser legalmente uma invasão de privacidade e até mesmo um estupro”, enfatiza ele.
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Consentimento é a chave
Assim como no sadomasoquismo os parceiros devem estabelecer até “palavras de segurança” para que possam indicar quando não estiverem mais confortáveis com a situação, outras práticas também devem ser combinadas. Rodrigues dá o exemplo de pessoas que têm fetiche em “espiar” por baixo das roupas da mulher e de mulheres que gostam de ser observadas. Segundo ele, não há nada de errado em pessoas assim atuarem de comum acordo após combinarem tudo entre si.