Helena Bertho tem 29 anos e começou a tomar pílula anticoncepcional aos 19, uma semana depois de perder a virgindade. Para ela, eram só vantagens: “Como minha menstruação, na adolescência, era muito desregulada, com a pílula eu conheci a maravilha de menstruar com data marcada. Eu amava isso e me sentia segura em relação à gravidez também.”
Depois de 9 anos usando a pílula como método contraceptivo, o único problema que enfrentava era o fato de esquecer de tomá-la de vez em quando, por isso, decidiu adotar o anel vaginal, método também hormonal: “Meu corpo reagiu a ele exatamente igual reagia à pílula”
Desconfiança da perda de libido
“Eu tinha um vaginismo leve e estava fazendo terapia pra tratar isso, quando várias amigas começaram a comentar que pararam com a pílula e que isso levou a um aumento da libido”, conta Helena sobre a primeira desconfiança que teve com a pílula. De acordo com a sexóloga Débora Pádua, vaginismo é a contração involuntária dos músculos do assoalho pélvico, o que causa dor na relação sexual e pode até impedir a entrada do pênis na vagina.
Depois da terapia, Helena diz que o vaginismo foi 100% resolvido. Além de ouvir as amigas, ela pesquisou mais sobre o assunto e, além de descobrir que a pílula pode, sim, ter relação com a queda na libido, também encontrou correlação entre a pílula anticoncepcional e problemas circulatórios e trombose.
Reynaldo Augusto Machado Junior, ginecologista da Beneficência Portuguesa, de São Paulo, afirma que apesar de não ser cientificamente comprovada, algumas mulheres veem, sim, a libido diminuir com o uso da pílula anticoncepcional – em especial as que contém progesterona.
“Um dos mecanismo de ação da pílula é o aumento da dosagem de uma proteína chamada SHBG. Produzida no fígado, a função dessa proteína é transportar os hormônios, principalmente a testosterona”, explica o médico.
A testosterona é um dos hormônios responsáveis pela libido. Entretanto, quando há o aumento da SHBG, mais testerona fica ligada a essa proteína, sobrando uma quantidade menor de hormônio para agir livre no sangue. Isso pode levar à queda do desejo sexual.
Depois de parar com a pílula
Após ir ao ginecologista e ele ter confirmado a possibilidade do desejo sexual estar relacionado com a contracepção, Helena conta que decidiu parar com a pílula e, na época, pretendia colocar DIU: “Mas a ideia original era ficar alguns meses sem nada, só com camisinha, para entender como meu corpo ia reagir”.
E foi então que descobriu o que era ter desejo e tesão: “Eu achava que sentia tesão, que tinha libido, que estava tudo normal, até experimentar o 'normal'. Sério, gente, como eu perdi isso por tanto tempo?”, escreveu Helena em um relato pessoal para a revista AzMina.
Helena nunca tinha sido sexualmente ativa sem tomar pílula: “Com a pílula eu não tinha muito tesão espontâneo, não ficava com vontade de transar do nada”. Ela também conta ter sentido diferenças físicas depois de parar com métodos hormonais como contraceptivos, como o aumento da lubrificação, além de perceber uma sensibilidade maior.
Depois desta experiência, Helena pretende continuar apenas com a camisinha como método contraceptivo e afirma que o preservativo não a incomoda em nada. Ela diz que, dessa maneira, entende seu próprio desejo.