Toque, afeto, desejo e orgasmo: para muitos, o prazer é apenas completo quando dividido. O sexo a dois (ou até mais) é uma experiência extasiante, libertadora e satisfatória, mas não se pode negar que o autoprazer também pode ser um momento íntimo, sensual e eufórico. E é essa a experiência celebrada no Dia Internacional da Masturbação neste domingo (07).
A data foi instaurada em 1995 pela loja Good Vibrations, em resposta ao presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Na época, o ato foi uma retaliação à demissão da então Secretária de Saúde Joycelyn Elders, que sugeriu que a masturbação fizesse parte da educação sexual do país. No Brasil, a data não é oficial, mas representa um símbolo de sexualidade positiva e saudável.
Masturbação: o que é?
A masturbação se inicia ainda na infância e é um período importante de descobertas e prazeres que irão durar por toda a vida. Tal ato não deve ser reprimido pelos pais, já que é dessa forma que, em conjunto à educação sexual, meninas e mulheres podem conhecer mais do próprio corpo.
A história, no entanto, mostra que o autoprazer feminino foi reprimido e controlado durante séculos. Se, nos dias de hoje, falar de masturbação é tabu, no passado, se tocar já chegou a ser considerado um pecado imperdoável.
Em entrevista ao iG Delas, a autora de ‘Histórias íntimas - Sexualidade e erotismo na história do Brasil’ (Editora Planeta), Mary Del Priore, conta que o prazer feminino sempre foi vítima de controle e repressão por todo o mundo.
“A Igreja Católica vai associar o tempo todo sexo e pecado e, portanto, vai restringir as posições no coito conjugal. Por exemplo, era proibido mulher de quatro porque animalizava um ato criado por Deus para reprodução, ou a mulher em cima do homem porque remetia ao terrível dilúvio de Noé causado pelo uso dessa posição. Então, a única posição admitida pela igreja era chamada a posição do missionário, cuja finalidade exclusiva para o sexo era a procriação”, explica a especialista.
Devido à repressão religiosa, o prazer feminino não era buscado durante as relações. Mary destaca que os padres confessores perseguiam o que chamavam de Atos venéreos, ou seja, todo ato ou toque que levasse a um prazer maior durante o coito. Enquanto as mulheres eram proibidas de se tocarem, a sexualidade masculina era incentivada pelo uso de afrodisíacos e pela masturbação.
A educação sexual também foi, por muitos anos, inexistente: para as crianças, histórias que envolviam cegueira, pelos nas mãos e cãibras causadas pela masturbação assombravam as possibilidades do prazer.
“Até então, no século XIX, final do século XIX, sobretudo, a masturbação estava associada à histeria e ao lesbianismo, e ambas podiam ser identificadas, segundo médicos, pelos seus lábios vermelhos e dentes grandes. Muitas dessas mulheres foram internadas no Hospício Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, com a acusação de serem lésbicas e praticarem masturbação”, revela.
Falar de masturbação, nem pensar: a palavra ‘clitóris’, por exemplo, só foi utilizada de fato pela literatura e as revistas femininas a partir dos anos 80. Segundo Mary, a ignorância das mulheres sobre sexo era tão grande que foi preciso a divulgação de manuais de casamento para ajudá-las a participar do ato sexual.
“Esses manuais eram bastante rígidos. Eles aconselham as mulheres a serem sóbrias nos prazeres conjugais e lembravam o tempo inteiro que o prazer solitário criava irritações na vagina”, reflete.
Segundo a autora, a questão da masturbação é recente e inexistia tanto nos manuais conjugais quanto nos manuais de medicina. “O orgasmo feminino e a masturbação não interessava a ninguém, a não ser como uma forma de pecado aos olhos da igreja ou como forma de devassidão aos olhos da medicina.”
Agora sim!
As últimas décadas, no entanto, revelam um movimento progressor: falar de sexo é muito mais comum e a masturbação feminina é mais aceita. Pesquisadores já não renegam a existência do autoprazer da mulher e brinquedos sexuais elevam a experiência a um outro nível.
Dados revelados na pesquisa “Prazer Feminino”, conduzida pela Hibou, ilustram bem a popularidade dessa prática: das 2030 mulheres entrevistadas, 71% afirmaram que se masturbam. Desse valor, 96% já atingiram um orgasmo na masturbação e 57% já usaram um vibrador ou outro acessório.
E se masturbar faz, de fato, bem para o corpo. “Quando a mulher se masturba, ela libera a endorfina, que é justamente o que causa um relaxamento, causa uma sensação de completo”, conta a sexóloga da INTT Cosméticos, Stephanie Seitz.
A médica ginecologista Nelly Kobayashi, da Clínica VidaBemVinda, também atesta os benefícios do toque: “a masturbação contribui para o bem-estar, humor, felicidade, melhorando a saúde mental, na liberação de estresse, melhora do sono e da concentração. E no âmbito da saúde sexual, pode melhorar o desejo sexual e o orgasmo, e também melhorar a relação com o parceiro”, afirma.
O segredo da masturbação é justamente o fato de que não existem mistérios. Cada corpo é único e cada toque é individual. É apenas com a experiência que cada mulher pode conhecer um pouco mais sobre si, entendendo os pontos do prazer e do desejo no próprio corpo.
“É muito importante que a mulher entenda aquilo que ela gosta, para justamente, ela escolher o melhor método, mas ela só vai saber testando. Então, é isso que a gente tem que ser um pouquinho mais aberto, é testar, é conhecer, entender o que gosto, que não gosta e, se não gostar, tá tudo bem também”, complementa Stephanie.
Acessórios também podem ser aliados desse processo, como bullets, sugadores, estimuladores clitorianos, próteses e vibradores no geral: você pode estar sozinha, mas estará bem acompanhada.
“Também é preciso se livrar dos preconceitos e da culpa, saber que não há nada de errado nessa atividade, pelo contrário, significa autocuidado e amor próprio”, finaliza Nelly.