Consumir alimentos saudáveis, buscar por alternativas orgânicas e praticar atividades físicas de forma regular são atitudes importantíssimas para a manutenção de uma vida saudável. Mas quando esses comportamentos se tornam obsessivos, eles podem se transformar em um grande problema: a ortorexia.
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A ortorexia nervosa é caracterizada como uma preocupação excessiva com a “alimentação saudável”, ou seja, com a qualidade alimentar, com “o que” se come, explica Gabriela Takeda, nutricionista e criadora de conteúdo no perfil @gabrielatakeda.nutri. Segundo a especialista, essa preocupação é marcada pela evitação de alimentos (ou grupos de alimentos) que são percebidos como “não saudáveis”, que podem variar de acordo com as teorias e crenças de cada indivíduo, resultando em escolhas alimentares rígidas e inflexíveis.
Gabriela ressalta que a ortorexia ainda não é considerada um transtorno alimentar com “critérios diagnósticos estabelecidos pelos manuais de doenças”, como é o caso da anorexia e da bulimia. O que se pode afirmar, aponta a profissional, é que esse problema se trata de um “comportamento não saudável em relação à alimentação.”
O termo, cunhado em 1997 pelo autor Steve Bratman, vem do latim ‘orthos’, que significa reto e correto, e ‘orexia’, que significa apetite. Por mais que a busca por alimentos saudáveis seja uma atitude benéfica ao corpo, a fixação em não sair da linha pode trazer problemas.
Entre os principais sintomas de ortorexia, estão a demasiada preocupação na origem e composição dos ingredientes, o corte em grupos falsamente dados como ‘vilões’ da alimentação, a preocupação com a alimentação alheia e a leitura compulsiva de rótulos dos alimentos.
Também é comum que pessoas com ortorexia não consigam comer nada além do grupo restrito de alimentos ditos como saudáveis e que sintam culpa quando, em determinado momento, comam algo fora dessa dieta.
É comum observar pessoas que demonizam certos tipos de grupos de alimentos, rotulando-os como totalmente ‘não-saudáveis’ - qualquer tipo de açúcar, gordura e carboidratos são tidos como os verdadeiros vilões da alimentação, por mais que muitos deles sejam essenciais para o funcionamento diário do corpo humano.
A alimentação passa a ser construída apenas como a contagem de calorias, e não como um escopo muito mais complexo que permeia a experiência humana. Esse problema surge num contexto social que “tem olhado para a alimentação de uma forma reducionista, isto é, com foco restrito na sua dimensão biológica (composição nutricional) e ignorando as dimensões social, psicológica e cultural”, afirma Takeda.
A especialista também alerta que estamos inseridos em um contexto social que “enfatiza a responsabilidade individual e a obrigação moral de preservar a saúde e prevenir doenças, um discurso conhecido como “healthism” (salutarismo).”
Esse discurso provoca diversos prejuízos sociais, como o isolamento social e até. “Já que esses indivíduos podem deixar de frequentar determinados ambientes nos quais não conseguem seguir as regras alimentares auto impostas, eles podem deixar de compartilhar refeições com pessoas que não possuem os mesmos ideais de alimentação.
Takeda afirma que os prejuízos podem ser, ainda, cognitivos, já que a fixação pela alimentação pode comprometer a concentração ou atenção em outras tarefas da vida social e profissional.
A saúde também é muito prejudicada: sem o apoio de um profissional da área, pessoas com ortorexia costumam criar dietas específicas e excluir certos tipos de alimento da rotina por vontade própria por não os considerar dignos ou saudáveis. Assim, elas podem chegar a desenvolver deficiências alimentares provocadas pela escassez de nutrientes dos alimentos ‘proibidos’, como atesta a médica endocrinologista e especialista em emagrecimento saudável, Melissa Nalim.
A saúde mental também é totalmente impactada por esses padrões de comportamento. A ortorexia pode trazer angústia, medo, culpa e vergonha de não ‘seguir a dieta’. “Ela traz sintomas relacionados à ansiedade, dentro dessa preocupação excessiva com a comida, prejudicando o psicológico”, atesta a profissional.
Melissa reitera que, diferente dos transtornos alimentares como anorexia e bulimia, a ortorexia não tem como principal foco a estética, e sim a saúde e a busca por incessantes melhoras na alimentação.
Por isso, as profissionais alertam que existe uma linha muito definitiva entre a alimentação saudável e a obsessão. “A busca pela alimentação saudável e os benefícios de uma alimentação nutricionalmente adequada são indiscutíveis e, inclusive, fazem parte das recomendações e estratégias de promoção da saúde. Porém, essa busca passa a ser um problema quando exagerada, levando a uma fixação e rigidez com as escolhas alimentares, acarretando prejuízos emocionais, sociais ou biológicos”, retoma Takeda.
A abordagem, assim como outros problemas relacionados à alimentação, é multidisciplinar. O tratamento pode incluir apoio psicológico, médico e nutricional, frisando, no paciente, a ideia de que a alimentação significa muito mais que apenas calorias.