Entender como o corpo humano funciona é a melhor forma de descobrir como ter mais ganhos durante a prática de atividade física. O que tem se tornado comum, por exemplo, é malhar em jejum, pois há estudos e especialistas que indicam que isso pode ajudar a  reduzir a gordura corporal com mais facilidade, mas será que isso realmente acontece? Na verdade, pular o café da manhã para se exercitar é algo que divide opiniões.

Há estudos defendidos por especialistas que indicam que malhar em jejum pode queimar mais gordura corporal
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Há estudos defendidos por especialistas que indicam que malhar em jejum pode queimar mais gordura corporal


Segundo um estudo publicado em 2015 pela Universidade de Cambridge, o melhor período para reduzir a gordura corporal é pela manhã e a justificativa é que as pessoas apresentam índices glicêmicos mais baixos nesse momento do dia. Os especialistas ainda apontam que a taxa de oxidação de gordura é alta durante o exercício matinal se comparado a quem se exercita após alguma refeição, por isso, malhar em jejum pela manhã se tornou tão popular.

Para a especialista em clínica médica e em nutrição funcional Sarina Occhipinti praticar atividades físicas em jejum faz com que seja liberada uma quantidade maior do hormônio do crescimento e isso faz com que a pessoa tenha um aumento no transporte de ácidos graxos dos adipócitos (células que armazenam gordura), criando uma fonte de energia alternativa já que não foram consumidos carboidratos antes do treino.

O nutrólogo Kaue Kranholdt concorda que fazer  exercícios físicos pela manhã é melhor e diz que é uma questão fisiológica. “O organismo se prepara para gastar energia pela manhã, ao acordar, pelo início da secreção do cortisol, que proporciona energia na forma de glicose e efeitos adrenérgicos (aumento de ritmo cardíaco, pressão arterial, etc.)”, explica.

Isso faz com que seja iniciado o catabolismo, ou seja, o corpo passa a gastar as reservas de gordura que possui. Kaue diz que a atividade física também é um estímulo catabólico e, ao combinar isso com o ciclo hormonal, o corpo é poupado de iniciar um catabolismo em horários onde normalmente é predominado a sua recuperação e o anabolismo, que é quando o tecido muscular é construído.

“Dessa forma, é mais fácil ter disposição, energia, rendimento e performance. E se há aumento de performance, há aumento de gasto enérgico, evolução do condicionamento físico e melhores respostas aos estímulos do exercício. Além disso, a atividade física, por ser um desgaste para o corpo, então se for incorporada em horários não adequados não trará respostas positivas ao organismo”, diz Kaue.

Malhar em jejum queima as gorduras estocadas? 

O que muitos acreditam é que malhar em jejum faz a pessoa queimar as gorduras que estão estocadas
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O que muitos acreditam é que malhar em jejum faz a pessoa queimar as gorduras que estão estocadas


Depois de toda essa explicação, parece lógico pensar que ao acordar e malhar em jejum você terá um desempenho melhor e ainda queimará as gorduras que estão estocadas. De acordo com Sabrina, há pesquisas que apontam que exercícios aeróbicos feitos em jejum podem queimar até 20% a mais de gordura. “Quando não nos alimentamos, ficamos com menos reserva de glicogênio e a gordura passa a ser queimada durante os exercícios.”

Em contra partida, o nutrólogo não apoia essa linha de pensamento. Assim como já foi citado, o profissional vê muitos benefícios em se exercitar pela logo pela manhã, mas deixar de tomar o café da manhã para o organismo ser “obrigado” a queimar a gordura estocada é algo que ele não é totalmente a favor.

“A fisiologia humana é muito complexa. Para explicar isso, será necessário explicar alguns detalhes do ciclo bioquímico de geração de energia, sendo que essa produção se dá por meio de um ciclo de transformações conhecido como ciclo de Krebs.” Para ficar mais simples de entender, o especialista explica por etapas:

  • Nesse ciclo, é utilizado como substrato o composto orgânico oxaloacetato, que vem dos carboidratos;
  • Com esse componente o ciclo consegue oxidar lipídeos (gorduras) para gerar energia;
  • Quando não há alimentação e, portanto, não há ingestão de carboidratos, haverá deficiência de oxaloacetato e não será possível uma oxidação de gorduras eficiente;
  • Com isso, o metabolismo busca oxaloacetato de outra fonte: nos aminoácidos. Ou seja, proteínas;
  • O metabolismo opta por degradar proteínas para continuar a geração de energia. Entretanto, o fígado precisa fornecer glicose para o cérebro, então aproveita esse oxaloacetato para um processo chamado gliconeogenese, que é quando a glicose é formada de outros compostos.

“Esse processo de geração de energia do ciclo de Krebs fica, inevitavelmente, pouco eficiente. Mas treinar em jejum é de todo ruim? Não. Há casos e casos. Existe a aptidão física e a adaptação de cada um, além da modalidade do exercício e a alimentação no final do dia anterior. Ou seja, pode ser uma estratégia, mas com certeza não é um determinante de maior eficiência na quebra de gordura ”, ressalta o nutrólogo.

A especialista em nutrição funcional comenta que o jejum é mais recomendado para exercícios aeróbicos como corrida, ciclismo, natação ou caminhada, pois são atividades que utilizam as reservas de gordura como um substrato energético.

“É importante ressaltar, porém, que é preciso ter certo cuidado e realizar acompanhamento com um especialista. No início, recomenda-se praticar exercícios de menor intensidade, como corrida. Após uma adaptação do organismo, modalidades mais intensas, como futebol, crossfit ou musculação, podem ser liberadas”, alerta Sabrina.

Malhar em jejum serve para todos?

Malhar em jejum pode fazer o desempenho da pessoa cair e ela sentir cansaço, mal estar, vômitos e tremores
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Malhar em jejum pode fazer o desempenho da pessoa cair e ela sentir cansaço, mal estar, vômitos e tremores

O malhar em jejum é algo indicado para todos porque por mais que o café da manhã seja considerado a principal refeição do dia para muitos especialistas, nem todas as pessoas são beneficiadas tendo um rico café da manhã. Por outro lado, pular essa refeição prejudica muito algumas pessoas, pois quando chega na hora do almoço ela quer comer tudo o que vê pela frente.

“Em linhas gerais, podemos considerar que o  café da manhã é importante para disponibilizar nutrientes e energia para o dia, além de auxiliar na prevenção de compulsões, hiperfagia (aumento de apetite) e hiperalimentação nas principais refeições (compensar a fome de maneira exagerada)”, comenta Kaue.  

Dependendo da intensidade e duração do exercício, malhar em jejum pode causar hipoglicemia (queda de glicose no sangue) levando a cansaço, mal estar, vômitos, tremores e até desmaio. O nutrólogo finaliza dizendo que o desempenho geralmente quando se treina de estômago vazio porque a maioria das pessoas tenta treinar dessa forma sem orientação profissional, por isso, tome muito cuidado.

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