
O uso de medicamentos injetáveis para perda de peso, como Ozempic e Wegovy, tem ganhado popularidade nos últimos anos. Além de ajudarem na redução de peso, estudos recentes indicam que esses medicamentos podem exercer efeitos diretos na fertilidade feminina, especialmente em mulheres com síndrome do ovário policístico (SOP).
Segundo o Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, a melhora na fertilidade observada em mulheres que utilizam essas “canetas emagrecedoras” não se resume apenas à perda de peso.
“O excesso de peso interfere na produção de hormônios sexuais femininos e na ovulação. Portanto, a redução de peso promovida pelos análogos de GLP-1 já contribui para aumentar as chances de gravidez. Mas evidências sugerem que o efeito vai além disso”, explica.
Uma revisão que analisou 59 estudos envolvendo modelos animais, ensaios com células uterinas e testes clínicos em humanos apontou que os análogos de GLP-1 podem atuar diretamente nos ovários e no eixo hormonal hipotálamo-hipófise-ovário, favorecendo a ovulação.
Estudos em animais mostraram aumento no número de folículos maduros e maior taxa de implantação embrionária, resultados que indicam potencial efeito positivo na fertilidade.
Para mulheres com SOP, condição caracterizada por cistos nos ovários, irregularidade menstrual e resistência à insulina, os benefícios podem ser ainda mais relevantes.
“Além de auxiliar na perda de peso, esses medicamentos melhoram a resposta do corpo à insulina, um fator importante para equilibrar os hormônios e favorecer a ovulação em mulheres com SOP”, afirma Rosa.
O efeito das canetas emagrecedoras também parece impactar o endométrio, tecido que reveste o útero e é essencial para a implantação embrionária. Estudos indicam que os análogos de GLP-1 podem reduzir inflamação e estresse oxidativo, restaurando a função celular do endométrio e aumentando a receptividade uterina.
Um estudo preliminar também sugeriu que a combinação de liraglutida (análogo de GLP-1) e metformina pode elevar as taxas de gravidez em mulheres com SOP submetidas à Fertilização In Vitro (FIV).
Apesar dos resultados promissores, Rosa ressalta que ainda há limitações nos estudos disponíveis.
“Grande parte das evidências vem de pesquisas em animais ou modelos in vitro, que não reproduzem completamente a complexidade do sistema reprodutivo humano. Ensaios clínicos em humanos ainda são pequenos e preliminares, e os efeitos durante as fases iniciais da gravidez não estão totalmente esclarecidos”, alerta o especialista.
Atualmente, o uso de análogos de GLP-1 pode ser indicado de forma restrita, por exemplo, para auxiliar na perda de peso antes de procedimentos de FIV, pois obesidade está associada a menores taxas de sucesso.
Rosa destaca que o acompanhamento médico é essencial: “O medicamento deve ser suspenso 21 dias antes da coleta de óvulos e pode ser retomado até o preparo do endométrio para a transferência do embrião, sempre sob supervisão de um especialista”.