No Brasil, cerca de 2 em cada 10 recém-nascidos não choram ou não respiram ao nascer, o que exige atendimento imediato. Todos os anos, aproximadamente 300 mil crianças nascem prematuras, 26 mil apresentam malformações cardíacas e 20 mil sofrem asfixia perinatal.
Nessas situações, o risco de sequelas neurológicas permanentes cresce de forma significativa quando o diagnóstico e o tratamento não são feitos a tempo.
Os dados, apontados pelo neonatologista Dr. Gabriel Variane, fundador da Protecting Brains & Saving Futures (PBSF), revela a urgência de novos recursos tecnológicos capazes de proteger a saúde dos bebês desde os primeiros minutos de vida.
Foi diante desse cenário, a PBSF desenvolveu a UTINeon, solução digital aplicada em UTIs neonatais, que tem como objetivo detectar precocemente alterações neurológicas em recém-nascidos.
“A tecnologia permite monitorar em tempo real a atividade cerebral, possibilitando que especialistas acompanhem os recém-nascidos 24 horas por dia e orientem as equipes da UTI sobre o tratamento mais adequado”, explica o Dr. Gabriel Variane.
Segundo ele, muitas alterações passam despercebidas sem o monitoramento contínuo. “Crises epilépticas, por exemplo, não apresentam sinais visíveis e poderiam não ser identificadas sem o uso da tecnologia.”
O sistema também integra informações como oxigenação cerebral e renal, sinais vitais e dados de espectroscopia de infravermelho próximo (NIRS).
“Com todas essas informações associadas, o sistema transforma um cuidado reativo em preventivo, aumentando significativamente as chances de salvar vidas e reduzir sequelas” , complementa o médico.
Diferença em relação aos métodos tradicionais
Nos métodos convencionais, os monitores acompanham apenas sinais como batimentos cardíacos, respiração e pressão arterial. Para Gabriel, essa abordagem é insuficiente: “Embora essenciais, esses parâmetros não revelam diretamente o funcionamento do cérebro, órgão mais vulnerável e determinante para o futuro do bebê.”
Ele destaca ainda que crises convulsivas em recém-nascidos podem passar despercebidas. “Na grande maioria das vezes, o bebê não apresenta sinais visíveis de convulsão: ele não se debate, não pisca, nem apresenta espasmos. Por isso, mais de 80% das crises são silenciosas e passam despercebidas sem o uso de monitoramento neurológico específico.”
Desafios da asfixia perinatal
A asfixia perinatal segue sendo um dos principais desafios da neonatologia. “No Brasil, entre 20 e 30 mil bebês nascem a cada ano com falta de oxigenação cerebral. Sem acesso aos tratamentos adequados, estima-se que entre 15% e 25% dessas crianças morram, e que 35% das que sobrevivem desenvolvam sequelas neurológicas graves”, aponta Gabriel.
Segundo ele, desigualdade de acesso, ausência de protocolos padronizados e falta de diagnósticos precoces explicam a gravidade do problema.
No entanto, o avanço de tecnologias de monitoramento neonatal tem possibilitado diagnósticos mais rápidos e tratamentos eficazes, aumentando as chances de sobrevivência e reduzindo sequelas em milhares de crianças. Casos práticos ajudam a dimensionar o alcance da tecnologia.
“Em um caso recente de tamponamento cardíaco, nosso sistema foi capaz de identificar anormalidades oito horas antes em comparação com o tradicional monitor de sinais vitais. Esse alerta precoce permitiu uma intervenção rápida e precisa, mudando completamente o desfecho clínico e garantindo melhores perspectivas de desenvolvimento para o bebê” , relata o médico.
Segundo ele, as famílias descrevem o impacto como transformador. “O que mais relatam é o alívio e a gratidão ao saber que seus bebês estão sendo monitorados por um sistema capaz de identificar alterações invisíveis até mesmo para os profissionais mais experientes.”
Setembro Verde Esperança
Para ampliar o debate, a PBSF criou a campanha Setembro Verde Esperança, voltada à conscientização, prevenção e tratamento da asfixia perinatal. A iniciativa prevê palestras, capacitações, mobilizações sociais e audiências públicas.
“Mais do que uma iniciativa de saúde, o Setembro Verde Esperança é um chamado à responsabilidade coletiva. É lutar por equidade, assegurar que cada bebê, independente de onde nasça, tenha acesso às melhores práticas de prevenção e cuidado”, afirma o especialista.
PBSF (Protecting Brains & Saving Futures)
Em nove anos de atuação, a PBSF já monitorou mais de 17 mil recém-nascidos, totalizando 950 mil horas de monitoramento contínuo em 50 hospitais no Brasil, além de cinco centros internacionais.
“Nossos resultados demonstram que a aplicação sistemática do monitoramento cerebral contínuo está associada a uma redução significativa tanto da mortalidade quanto das sequelas neurológicas graves em recém-nascidos de alto risco” , afirma Gabriel.
Atualmente, a solução da PBSF está presente em 21 hospitais públicos e 29 privados no Brasil. A expansão internacional já começou, com parcerias nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia e Oriente Médio.
“Nossa missão é ambiciosa e necessária: reduzir a zero o número de deficiências evitáveis no mundo”,
concluiu o Dr. Gabriel Variane.